Por isso mesmo, “aqueles que são inteiramente surdos ao ensinamento dos santos sacramentos não discernem sequer as imagens, pois recusaram insolentemente o nascimento de Deus em suas almas. Mas, os catecúmenos (os que estão aprendendo), os possessos (os que estão se rebelando) e os penitentes (os que estão se libertando) devem escutar”, ainda que não sejam “admitidos à celebração dos mistérios” que é somente “reservada aos olhos amadurecidos dos maduros”. É, então, que passa a falar sobre cada um dos ouvintes, ainda que não praticantes da Palavra, mencionados.
Primeiro, os catecúmenos – que estão aprendendo – ainda “não participam de nenhum sacramento”, visto que “Deus ainda não nasceu neles” e “permanecem no estágio de parto, sob a direção paternal das Escrituras”, à medida que neles está se realizando o bem-aventurado nascimento divino. Assim, como as crianças segundo a carne, se eles nascem antes do tempo adequado para o parto” são “imperfeitos e informes” e como “os abortos caem por terra sem terem recebido a vida, nem visto o dia”. Eis, o motivo porque “seria louco fundar-se sobre as aparências e dizer que vieram à luz porque escaparam das trevas”. De fato, “para que haja luz é preciso órgãos capazes de recebê-la”. Assim, eles renascem de acordo com o alimento das Escrituras “que lhes confere forma e vida”, sendo só, em seguida, que, uma vez, maduros “Deus pode finalmente neles nascer”. Só, então, o conhecimento dos santos lhes será concedido a fim de que entrem “em comunhão com as verdades que os iluminarão e que os aperfeiçoarão”.
Segundo, a “multidão dos possessos” – os que estão em rebeldia – ocupa a atenção de São Dionísio que a coloca como acima dos catecúmenos. Ao contrário dos catecúmenos, os possessos já receberam algum sacramento e “não são iguais a eles”. Todavia, recaíram do descanso espiritual, “por sua preguiça ou excesso de agitação”, o que é, por si só, “um estado contrário” ao efeito dos sacramentos da Igreja. Afinal, se é verdade que aquele que se encontra “no mais alto grau de conformidade com Deus que lhe seja acessível”, também “só se ocupará das realidades carnais quando se tratar das mais urgentes necessidades da natureza, e mesmo assim será caso passageiro, pois será o templo e amigo do Espírito, longe de sofrer jamais o efeito dos fantasmas e dos espantalhos do adversário”, é igualmente verdade que aqueles que “adotam os sentimentos e os costumes dos abomináveis demônios, desviam-se pela pior e mais funesta das loucuras” que é o afastamento daqueles bens, cuja posse ocasiona uma felicidade eterna e orientam os desejos e atos humanos. Eis, o caso dos possessos que se orientam “para as alterações da matéria e da multiplicidade de suas paixões, para os prazeres perecíveis e corruptores”. Por isso, “seria sacrilégio que participassem em alguma parte do sacrifício” que sucede “a recitação das Escrituras”, as quais, por sua vez, foram “destinadas a convertê-los a bens mais essenciais”, o que levava São Dionísio a privar da “comunicação dos Santos Mistérios” aquela “multidão dos possessos prisioneiros das paixões”, separando-os para que não participassem da Santa Comunhão e saíssem com os catecúmenos à ordem: “Retirai-vos catecúmenos! Que não fique nenhum catecúmeno!”.
Terceiro, os penitentes igualmente não participam dos Santos Mistérios, pois “não estão ainda libertos das imaginações más”, ainda que já “renunciaram viver no pecado”. Eles precisam tanto adquirir “o desejo de Deus, de modo durável e sem mistura”, prosseguindo em direção a uma vida santa e irrepreensível. Afinal, todos os que participam dos Santos Mistérios “são santamente deificados”, visto que neles a hierarquia da Igreja celebra “todas as operações divinas das quais fomos objeto”, nós os que, pela bondade divina, fomos formados “à sua imagem sobre os modelo eterno da Beleza” e temos recebido as “propriedades divinas para nos tornar capazes de elevação espiritual” e temos sido reconduzidos ao nosso estado primitivo pelos benefícios da Redenção em que Deus, “assumindo para ele a plenitude de nossa natureza”, agora nos outorga “a mais perfeita participação na sua, permitindo-nos assim entrar em comunhão com as realidades divinas”.
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