sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Mateus 24:27-51



Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias. E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus. Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis. Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens. Mas se aquele mau servo disser no seu coração: O meu senhor tarde virá; E começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os ébrios, Virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera, e à hora em que ele não sabe, E separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes.

“Vigiai: Cristo Virá de Novo”


Para impedir qualquer pergunta de seus discípulos a respeito do seu advento, Cristo disse: Essa hora ninguém o sabe, nem os anjos, nem mesmo o Filho; e não vos cabe conhecer os dias e os tempos. Ele quis ocultar-nos isto para que permaneçamos vigilantes, e para que cada um de nós possa pensar que esse acontecimento sobrevirá durante a sua vida. Se o tempo de seu retorno tivesse sido revelado, sua vinda seria vã, e as nações e os séculos em que ela acontecerá já não mais a desejariam. Ele disse com muita clareza que virá, mas não precisou em que momento. Desta forma, todas as gerações e épocas da história o esperam ardentemente.

Mesmo que o Senhor tenha dado a conhecer os sinais de sua vinda, não fica claro quando acontecerá, pois estes sinais, submetidos a uma troca constante, tanto tem aparecido como já passaram, e, podemos dizer mais, eles ainda continuam. A última vinda do Senhor, de fato, será semelhante à primeira, pois, do mesmo modo que os justos e os profetas o desejavam, crendo que ele apareceria na sua época, assim, cada um dos atuais fiéis deseja recebê-lo na sua, porque Cristo não revelou o dia de sua aparição. E não o revelou para que ninguém pense que ele – que é soberano do decurso e do tempo – está submetido a algum imperativo ou a alguma hora. O que o próprio Senhor estabeleceu, como poderia lhe estar oculto, visto que pessoalmente detalhou os sinais de sua vinda? Estes sinais foram destacados para que, desde então, todos os povos e todas as épocas pensassem que o advento de Cristo se realizaria em sua própria época.

Velai, portanto, quando o corpo dorme, porque nesta ocasião é a natureza quem nos domina, e nossa atividade não se encontra dirigida pela vontade, mas pelos impulsos da natureza. E quando reina sobre a alma um pesado torpor, por exemplo, a pusilanimidade ou a melancolia, é o inimigo que domina a alma e a conduz contra sua aspiração natural. Apropria-se do corpo a força da natureza, e da alma o inimigo.

Por isso nosso Senhor falou da vigilância da alma e do corpo, para que o corpo não caia em um pesado torpor, nem a alma no entorpecimento e temor, como diz a Escritura: Despertai, como é justo; e também: Eu me levantei e estou contigo; e ainda: Não vos acovardeis. Por tudo isso, nós, encarregados deste ministério, não nos acovardamos.



Santo Efrém, o Sírio (séc. IV)

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Evangelho segundo S. Marcos 9,30-37.


Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos caminhavam através da Galileia. Jesus não queria que ninguém o soubesse ;porque ensinava os discípulos, dizendo-lhes: «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará».
Os discípulos não compreendiam aquelas palavras e tinham medo de O interrogar.
Quando chegaram a Cafarnaum e já estavam em casa, Jesus perguntou-lhes: «Que discutíeis no caminho?».

Eles ficaram calados, porque tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior.

Então, Jesus sentou-Se, chamou os Doze e disse-lhes: «Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos».
E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a e disse-lhes:

«Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou».

«Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe»


A majestade dos Filho de Deus não desprezou a infância. Mas a criança foi crescendo até à estatura do homem perfeito; seguidamente, quando realizou plenamente o triunfo da sua Paixão e ressurreição, todas as ações de condição humilde que fizera por amor a nós se tornaram passado. Contudo, a festa do seu nascimento recorda-nos os primeiros momentos de Jesus, nascido da Virgem Maria. E, quando adoramos o nascimento do nosso Salvador, celebramos a nossa própria origem.
Com efeito, o cristianismo inicia-se quando Cristo vem ao mundo: o aniversário da cabeça é o aniversário do corpo. Certamente que cada um dos que são chamados o é na sua vez, e que os filhos da Igreja aparecem em diferentes épocas. No entanto, assim como todos os fiéis, nascidos da fonte do batismo, foram crucificados com Cristo na sua Paixão, reanimados na sua ressurreição e se sentaram à direita do Pai na sua ascensão, assim também todos nasceram com Ele na sua natividade.

Todo o crente que renasce em Cristo após ter abandonado o caminho do pecado original, seja de que parte do mundo for, torna-se um homem novo pelo seu segundo nascimento. Já não pertence à descendência de seu pai pela carne, mas à estirpe do Salvador, porque este Se tornou Filho do homem para que nós possamos ser filhos de Deus.



Bulle São Leão Magno (?-c. 461)
papa, 6º sermão para o Natal

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Seu jejum me destrói...



Certa vez, um jovem endemoniado foi ao skete de alguns dos Padres para ser curado pela oração deles. Entretanto, por humildade eles fugiram. Por muito tempo o desafortunado homem sofreu até que um certo ancião teve piedade dele e o abençoou com uma cruz de madeira que carregava no cinto, expulsando o espírito do mal.

''Já que você me despejou de minha morada'', disse o espírito, ''vou entrar em você''.

''Venha'', respondeu corajosamente o ancião.

E foi assim que o demônio entrou nele e o torturou por doze anos completos. O santo sustentou a luta com fortaleza, combatendo seu inimigo com jejum sobre-humano e oração incessante. Por todos esses anos ele não colocou comida em sua boca uma vez sequer, mastigando uns poucos caroços de tâmara todas as tardes e engolindo só o suco que saía deles.

Finalmente, conquistado pela incessante luta do ancião, o demônio o libertou.

''Por que você está indo embora?'', perguntou-lhe o ancião. ''Ninguém está te expulsando''.

''Seu jejum me destrói'', respondeu o demônio, tornando-se invisível.

Do Evergetinos.

domingo, 23 de setembro de 2018

O profeta Oséias.

Dizei a vossos irmãos: Vós sois o meu povo; e a vossa irma: Tu alcançaste misericórdia.


Um dos 12 profetas menores, que profetizou nos tempos de Jeroboão II e de seus sucessores ( 750-730 a. C.). Sob a imagem de seu casamento, Oséias denunciou a idolatria e os vícios das 10 tribos do norte e preside seu cativeiro. Pela ênfase que deu a misericórdia de Deus, e conhecido como o  profeta do Amor Divino.

Livro que contém as profecias de Oséias; ocupa o primeiro lugar na série dos profetas menores. A primeira parte do capítulo 1 a 3 apresenta simbolicamente a história do seu casamento e o esforço para reconquistar o amor de sua esposa infiel.
A segunda parte do capítulo 4 a 14 contém um sumário da doutrina do profeta em que, pela  experiência de sua vida, prova que o pecado é um impecilho para o amor constante de Deus.
Último rei de Israel (732-724 a. C.), que, como seus antecessores, fez mal diante de Deus. Principiou submetendo-se aos assírios; depois, confiando no Egito, recusou pagar os tributos e se rebelou: Salmanasar invadiu Israel e levou-o em cartiveiro cf. 4 RS 17.

Os doze profetas mencionados em Sirac 49, 10, começam com o profeta Oséias. Ele se apresenta aproximadamente no ano 750, numa época de decadência moral-religiosa e de corrupção social em Efraim ( reino do norte, Israel), que a conduziram a catástrofe (722) imediatamente depois do desaparecimento do profeta. Ele estigmatiza e admoesta Israel, para o justo e pedagógico castigo divino que dentro em pouco terá lugar, e sublinha o infinito amor divino que absolve tudo o que caracteriza a relação da aliança entre Deus e Israel. Esta relação, que se esclarece com o matrimônio do profeta com uma meretriz seguindo uma ordem divina, é figurada numa forma muito vigorosa, na relação matrimonial de amor entre Deus amante, que se apresenta com a forma de um homem apegado a própria mulher embora meretriz que aqui é a Israel infiel. Tudo isto é o tema do livro que, embora seja de um grande valor literário, não tem um ordem lógica ou cronológica, e que contém: A o matrimônio simbólico e venturoso do profeta e a relação análoga entre Deus e Israel cf. Os 1, 1ss, B censura e ameaças contra o povo e os seus chefes que terminam com a promessa consoladora sobre o regresso futuro e a salvação cf. Os 4 a 14.

Oséias é um grande defensor do monoteísmo moral e da divina aliança, e é também o principal cantor do amor divino cf. Os 3, 1; 11, 1ss, pelo que têm sido definido como o João (o evangelista do amor) do Antigo Testamento; em realidade, foi também o pregador da misericórdia humana que é espiritual culto divino cf. Os 6, 5. Preanunciou a vinda do Messias davitico cf. Os 3, 5, a ressurreição eterna dos mortos cf. Os 6, 2; 13, 14 cf. I Cor 15, 4. 54) e especialmente a eterna aliança, tendo prefigurado a relação entre Cristo e a Igreja cf. Os 2, 20ss.


Marcos Vinícius Faria de Moraes.

O profeta Abdias.

O dia do Senhor e o triunfo de Israel.


O quarto  entre os doze profetas menores. Sua profecia de apenas um capítulo e o menor livro do Antigo Testamento. Profetizou a destruição de Edom (Abdias 1, 2-6) e o retorno vitorioso de Israel do cativeiro (Abdias 1, 17-21). Só têm 21 versículo.

Justamente por ser tão pequeno seu livro, ainda não se conseguiu determinar com exatidão a data de sua profecia. Profetizou no reino de Judá, no tempo do mundo ímpio rei Jorão cerca 847 a. C., ou segundo outros ( São Jerônimo) no tempo do exílio, alguns anos após 586 a.c.

Abdias que significa “ servo do Senhor” é considerado como o mais antigo dos profetas 847 a. C., ou como um profeta do exílio, ou ainda como posterior ao exílio, por causa da da carência de qualquer testemunho sobre ele. Provavelmente era oriundo da Judéia, onde evidentemente atuou. O seu livro, composto de um só capítulo, contém: profecias sobre a destruição inimiga de Edom cf. Abdias 1, 1ss, sobre o “ dia do Senhor” cf. Abdiasb 1, 15s e sobre o prenúncio do triunfo messiânico cf. Abdias 1, 17.

Marcos Vinícius Faria de Moraes.

Os cristãos enfermos.





Ao enfermo, diz o Senhor, não fortificastes (Ez 34,4). Diz aos maus pastores, aos pastores falsos, que buscam seu interesse, não o de Jesus Cristo. Aos que se alegram com as dádivas do leite e da lã, mas descuram totalmente as ovelhas e não cuidam das doentes. Parece-me haver diferença entre enfermo e doente – pois costuma-se chamar de enfermos os doentes; enfermo quer dizer não firme, e doente o que se sente mal.  

Na verdade, irmãos, esforçamo-nos de algum modo por distinguir estas coisas, mas talvez com maior aplicação poderíamos nós ou outro mais entendido e com o coração mais cheio de luz discernir melhor. À espera disto, para que não sejais privados em relação às palavras da Escritura, falo o que penso. É de se temer sobrevenha uma tentação ao enfermo que o debilite. O doente, ao contrário, já adoeceu por alguma ambição e por esta ambição se vê impedido de entrar no caminho de Deus, de submeter-se ao jugo de Cristo.  

Observai esses homens que desejam viver bem, já decididos a viver bem. São, no entanto, menos capazes de suportar os males do que fazer o bem. Pertence à firmeza do cristão não apenas fazer o bem, mas também tolerar os males. Aqueles, pois, que parecem ardentes nas boas obras, mas não querem ou não podem suportar as provações iminentes, estes são enfermos. Por outro lado, aqueles que amam o mundo e por qualquer desejo mau se afastam até das obras boas, jazem gravemente doentes, visto que pela doença, sem forças, nada de bom podem realizar. O paralítico era um destes, na alma. Os que o carregavam, não podendo levá-lo até junto do Senhor, descobriram o teto e fizeram-no descer. É isto que terias de fazer: descobrir o teto e colocar junto do Senhor a alma paralítica, com todos os membros frouxos, e vazia de obras boas, curvada sob o peso dos pecados e doente com o mal de sua cobiça. Portanto, se todos os seus membros estão frouxos e há paralisia interior para levá-la ao médico – talvez o médico esteja escondido no teu interior: seria este um sentido oculto nas Escrituras– se queres descobrir-lhe o que está oculto, descobre o teto e faze descer diante dele o paralítico. 

A quem assim não procede e desdenha fazê-lo, ouvistes o que lhe dizem: Aos doentes não fortalecestes, ao fraturado não pensastes (Ez 34,4); já explicamos esta passagem. Estava alquebrado pelo terror das provações. Mas surge algo que restaura a fratura, estas palavras de consolo: Fiel é Deus que não permitirá serdes tentados além do que podeis suportar, mas com a tentação vos dará o meio de sair dela para que a possais suportar (1Cor 10,13).




Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 46,13:CCL41,539-540)                (Séc.V)

sábado, 22 de setembro de 2018

A Origem Divina dos Louvores à Santíssima Mãe de Deus.



Lucas 1:39-49,56

Isabel e João Batista, movidos pelo Espírito Santo, são os primeiros seres humanos a prestarem veneração à Santa Mãe de Deus. Eles representam todos os santos da Antiga Aliança que saúdam a chegada da Nova Eva, cumprindo-se a antiga promessa ao gênero humano decaído.  
A narrativa fala que a voz da Virgem provocou grande júbilo espiritual em Isabel e no Precursor ainda fetal. À maneira dos profetas do Velho Testamento, o Espírito Santo leva Isabel a profetizar acerca da Virgem:

1. Primeiramente usa - em relação à Virgem - a fórmula introdutória dos louvores em Israel: «Bendita és tu...». Igualmente, também, louva à Criança: «Bendito É o Fruto do teu ventre»;

2. Enche de humildade a profetiza diante do que lhe é inefável, pois, assim, Isabel diz:

«Quem sou eu para que me visite a Mãe do meu Senhor?»; 

3. Faz com que profetize acerca do que não entende: Isabel sem entender como o mortal poderia gerar o Eterno; louva Àquela que Deus santificou: «Bem aventurada aquela que creu...».

Em contrapartida, à semelhança dos coros que se alternavam nos ofícios levíticos, o Espírito Santo toma a boca de Maria, que também profetiza, louvando o Soberano Deus pela Graça e Salvação que lhe concedeu, sendo ela uma humilde serva; e anuncia a veneração que doravante todas as gerações lhe prestariam:

«Eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada...» (Lc 1:48; Sl 45:17)

A maioria dos Evangélicos não consegue enxergar este sentido do texto, porque não possuem uma alma litúrgica. Como suas experiências se centralizam e se apoiam unicamente na razão discursiva, reduzem a expressão «Bem Aventurada» - aplicada à Virgem - a uma simples declaração sobre o estado de sua alma, e não à uma atitude cúltica por parte de Isabel e seu filho fetal, João Batista, ignorando completamente toda a cultura litúrgica que permeava a sociedade judaica e, em particular, desconsiderando o ambiente doméstico de Isabel: o Templo de Deus, pois era esposa do Sumo Sacerdote Zacarias.

Tal abordagem assemelha-se às visões que um lenhador e um botânico exaurem de uma floresta: ambos, conforme a peculiaridade de cada um, só enxergam as suas utilidades: O lenhador de forma geral enxergará apenas os tipos de madeira que a floresta fornece, e o botânico se concentrará na sua biodiversidade; mas, ambos, dificilmente conseguirão exaurir a «alma» da floresta, como faz um artista, que contempla o todo e as realidades que o inspiram.

Este reducionismo não atinge somente à Santa Virgem, mas, também, ao Próprio Cristo, o Senhor; pois se a fórmula «Bendita, Bem Aventurada» for despida do seu sentido cúltico e reduzida a uma mera afirmação, isto significa que Isabel e o fetal João Batista, também não cultuaram e nem prestaram reverência ao Menino-Deus quando afirmaram: «Bendito É o Fruto do teu ventre».

O júbilo de João Batista, que ainda era um feto, desprovido de razão, mas, já cheio do Espírito desde o ventre materno, o rompante que o Espírito dá a Isabel, que «com grande voz» louva a Mãe do Senhor e a inspiração do próprio canto de Maria nos ensinam que, a partir da visita de Maria a Isabel, que foi o Próprio Espírito Santo que inaugurou e instituiu os louvores e a veneração da Igreja à Santa Mãe de Deus: «DESDE AGORA TODAS AS GERAÇÕES ME CHAMARÃO BEM-AVENTURADA»

Pe. Mateus (Antonio Eça)

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Jesus viu-o, compadeceu-se dele e o chamou.


Da Carta de São Paulo aos Efésios                 4,1-16


Diversificação dos dons em um único corpo.




Irmãos: 1Eu, prisioneiro no Senhor, vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que recebestes: 2Com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. 3Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. 4Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados. 5Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, 6um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos.

7 Cada um de nós recebeu a graça na medida em que Cristo lha deu. 8Daí esta palavra:

“Tendo subido às alturas, ele capturou prisioneiros,
e distribuiu dons aos homens”.

9 “Ele subiu”! Que significa isso, senão que ele desceu também às profundezas da terra? 10Aquele que desceu é o mesmo que subiu mais alto do que todos os céus,a fim de encher o universo.

11 E foi ele quem instituiu alguns como apóstolos, outros como profetas, outros ainda como evangelistas, outros, enfim, como pastores e mestres. 12Assim, ele capacitou os santos para o ministério, para edificar o corpo de Cristo, 13até que cheguemos todos juntos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado do homem perfeito e à estatura de Cristo em sua plenitude. 14Assim, não seremos mais crianças ao sabor das ondas, arrastados por todo vento de doutrina, ludibriados pelos homens e induzidos por sua astúcia ao erro. 15Motivados pelo amor queremos ater-nos à verdade e crescer em tudo até atingirmos aquele que é a Cabeça, Cristo. 16Graças a ele, o corpo, coordenado e bem unido, por meio de todas as articulações que o servem, realiza o seu crescimento, segundo uma atividade à medida de cada membro, para a sua edificação no amor.





Jesus viu-o, compadeceu-se dele e o chamou.



Jesus viu um homem chamado Mateus, assentado à banca de impostos, e disse-lhe: Segue-me (Mt 9,9). Viu-o não tanto com os olhos corporais quanto com a vista da íntima compaixão. Viu o publicano, dele se compadeceu e o escolheu. Disse-lhe então: Segue-me. Segue, quis dizer, imita; segue, quis dizer, não tanto pelo andar dos pés, quanto pela realização dos atos. Pois quem diz que permanece em Cristo, deve andar como ele andou (1Jo 2,6).

E levantando-se, o seguiu (Mt 9,9). Não é de admirar que o publicano, ao primeiro chamado do Senhor, tenha abandonado os lucros terrenos de que cuidava e, desprezando a opulência, aderisse aos seguidores daquele que via não possuir riqueza alguma. Pois o próprio Senhor que o chamara exteriormente com a palavra, interiormente lhe ensinou por instinto invisível a segui-lo, infundindo em seu espírito a luz da graça espiritual. Com esta compreenderia que quem o afastava dos tesouros temporais podia dar-lhe nos céus os tesouros incorruptíveis.

E aconteceu que, estando ele em casa, muitos publicanos e pecadores vieram e puseram-se à mesa com Jesus e seus discípulos (Mt 9,10). A conversão de um publicano deu a muitos publicanos e pecadores o exemplo da penitência e do perdão. Belo e verdadeiro prenúncio! Aquele que seria apóstolo e doutor dos povos, logo no primeiro encontro arrasta após si para a salvação um grupo de pecadores. Assim inicia o ofício de evangelizar desde os primeiros começos de sua fé aquele que viria a realizar este ofício plenamente com o merecido progresso das virtudes. Contudo se quisermos indagar pelo sentido mais profundo deste acontecimento nós o entenderemos: a Mateus foi muito mais grato o banquete na casa do seu coração, preparado pela fé e pelo amor do que o banquete terreno que ele ofereceu ao Senhor. Atesta-o aquele mesmo que diz: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo (Ap 3,20).

Ouvindo a sua voz, abrimos a porta para recebê-lo, ao aceitarmos de bom grado suas advertências secretas ou evidentes e nos pormos a realizar aquilo que compreendemos como o nosso dever. Ele entra para que ceemos, ele conosco e nós com ele, porque, pela graça de seu amor, habita nos corações dos eleitos para alimentá-los sempre com a luz de sua presença. Possam assim os eleitos cada vez mais progredir no desejo do alto, e ele mesmo se alimente com os desejos deles como com pratos deliciosos.





Das Homilias de São Beda Venerável, presbítero

(Hom. 21:CCL, 122,149-151)             (Séc.VI)


quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Evangelho segundo S. Lucas 7,11-17.



Naquele tempo, dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim; iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão.
Quando chegou à porta da cidade, levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade.
Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe: «Não chores».
Jesus aproximou-Se e tocou no caixão; e os que o transportavam pararam. Disse Jesus: «Jovem, Eu te ordeno: levanta-te».
O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe.
Todos se encheram de temor e davam glória a Deus, dizendo: «Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo».
E a fama deste acontecimento espalhou-se por toda a Judeia e pelas regiões vizinhas.

«Jovem, Eu te ordeno: levanta-te»

Ainda que os sintomas da morte tenham roubado por completo a esperança de vida, ainda que os corpos dos defuntos se encontrem já perto do sepulcro, à voz de Deus, os cadáveres que começavam a decompor-se recuperam a fala; o filho é devolvido a sua mãe, é chamado do túmulo, é arrancado ao túmulo. Que túmulo é o teu? São os teus maus hábitos, é a tua falta de fé. É deste túmulo que Cristo te salva, será deste túmulo que ressuscitarás, se ouvires a Palavra de Deus. Ainda que os teus pecados sejam tão graves que não possas lavar-te a ti próprio com as lágrimas do arrependimento, a Igreja, tua Mãe, chorará por ti, pois intercede por cada um dos seus filhos como mãe viúva com um filho único. Com efeito, a Igreja tem compaixão, por uma espécie de sofrimento espiritual, dos seus filhos que vê dirigirem-se para a morte em consequência de vícios funestos. [...]

Que ela chore, pois, esta mãe piedosa; que a multidão a acompanhe; que não seja uma simples multidão, mas uma multidão considerável a ter compaixão desta mãe terna. Então, ressuscitarás do teu túmulo, serás dele libertado; os carregadores deter-se-ão, começarás a dizer palavras de vivo e todos ficarão estupefactos. E o exemplo de um só permitirá corrigir muitos, que louvarão a Deus por nos ter dado tais remédios para evitarmos a morte.



Bulle Santo Ambrósio (c. 340-397)
bispo de Milão.

Tratado sobre o Evangelho de São Lucas, 5, 89, 91-92

Não procure cada um os seus interesses, mas os de Jesus Cristo.

      

Já dissemos o que é tomar o leite. Vejamos o que seja cobrir-se com a lã. Quem oferece o leite, dá o alimento; e quem oferece a lã, presta homenagens. São estas as duas coisas que esperam do povo aqueles que se apascentam a si mesmos e não as ovelhas: lucros para prover a suas necessidades, honras e aplausos.  

Há motivo para se entender a veste como honra, pois cobre a nudez. Todo homem é fraco, e, portanto, é frágil o vosso pastor. Aquele que vos governa não é um homem como vós? Tem corpo, é mortal, come, dorme, levanta-se; nasceu, irá morrer. Se refletes no que é em si mesmo, é um homem. Tu, porém, dando-lhe honra a mais, como que lhe cobres a fraqueza.  

Vede como o próprio Paulo aceitou uma veste do bom povo de Deus: Vós me recebestes como um anjo de Deus. Dou testemunho de que, se fosse possível, teríeis arrancado os olhos para mos dar (Gl 4,14-15). Mas, acolhido com tanta honra, teria, porventura, por causa desta honra, poupado os transgressores para não ser rejeitado e menos aplaudido ao censurar? Se assim tivesse agido estaria entre aqueles que se apascentam a si e não as ovelhas. Diria talvez de si para consigo: “Que me importam? Que façam o que quiserem; meu sustento está garantido, minha boa fama está salva: leite e lã, isto me basta; que cada um se arranje como puder”. Então tudo está perfeito, se cada um se arranjar como puder? Não te vou considerar bispo; imagino-te como um do povo: Se um membro padece, todos os demais membros padecem com ele (1Cor 12,26).  

Por conseguinte, recordando como se haviam comportado com ele, não parecesse esquecido de suas atenções, o Apóstolo dá testemunho de ter sido acolhido como um anjo de Deus e de que, se pudessem, arrancariam os olhos 
para lhos dar. E, no entanto, foi à ovelha doente, à ovelha infeccionada para cortar a ferida e não para manter a podridão. Assim fala:Logo tornei-me vosso inimigo por pregar a verdade? (Gl 4,16). Reparai: aceitou o leite das ovelhas, como lembramos acima, e vestiu-se com a lã, mas não deixou de cuidar das ovelhas. Porque não buscava seu interesse, mas o de Jesus Cristo.



Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 46,6-7: CCL 41,533-534)  (Séc.V)


Evangelho segundo S. Lucas 7,1-10.


«Mas diz uma palavra e o meu servo será curado»


Naquele tempo, quando Jesus acabou de falar ao povo, entrou em Cafarnaum.
Um centurião tinha um servo a quem estimava muito e que estava doente, quase a morrer.

Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-Lhe alguns anciãos dos judeus para Lhe pedir que fosse salvar aquele servo.

Quando chegaram à presença de Jesus, os anciãos suplicaram-Lhe insistentemente: «Ele é digno de que lho concedas,
pois estima a nossa gente e foi ele que nos construiu a sinagoga».

Jesus acompanhou-os. Já não estava longe da casa, quando o centurião Lhe mandou dizer por uns amigos: «Não Te incomodes, Senhor, pois não mereço que entres em minha casa, nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma palavra e o meu servo será curado. Porque também eu, que sou um subalterno, tenho soldados sob as minhas ordens. Digo a um "vai" e ele vai; e a outro "vem" e ele vem; e ao meu servo "faz isto" e ele faz».
Ao ouvir estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e, voltando-Se para a multidão que O seguia, exclamou: «Digo-vos que nem mesmo em Israel encontrei tão grande fé». Ao regressarem a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde.

«Mas diz uma palavra e o meu servo será curado»


Como é que o centurião obteve a graça da cura do seu servo? «Porque também eu, que sou um subalterno, tenho soldados sob as minhas ordens. Digo a um "vai" e ele vai; e a outro "vem" e ele vem; e ao meu servo "faz isto" e ele faz» Tenho poder sobre os meus subordinados, mas eu também estou submetido a uma autoridade superior. Se, pois, embora subordinado, tenho, apesar de tudo, o poder de comandar, o que não poderás fazer Tu, a quem se submetem todas as potestades?

Este homem pertencia ao povo pagão pois a nação judaica estava ocupada pelos exércitos do Império Romano. [...]. Mas Nosso Senhor, embora estivesse entre o povo hebraico, declarava já que a Igreja se espalharia por toda a Terra, para onde Ele enviaria os seus apóstolos (cf Mt 8,11). Com efeito, os pagãos acreditaram nele sem O terem visto [...]. O Senhor não entrou fisicamente na casa do centurião; mas, embora ausente de corpo, esteve ali presente pela sua majestade e curou esta casa pela sua fé. Do mesmo modo, o Senhor só estava fisicamente presente no meio do povo hebraico; os outros povos não O viram nascer de uma Virgem, nem sofrer, nem caminhar, nem sujeitar-Se às condições da natureza humana, nem fazer maravilhas divinas. Ele não fez nada disso entre os pagãos e, no entanto, entre eles, realizou-se o que Ele tinha dito a seu respeito: «Povos desconhecidos prestaram-Me vassalagem». Como foi que O serviram se não O conheciam? O salmo continua: «Mal ouviram falar de Mim, logo Me obedeceram e os estrangeiros Me cortejaram» (Sl 17,45).



Bulle Santo Agostinho (354-430)
bispo de Hipona (norte de África), 
Sermão 62.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

O exemplo de Paulo.



Estando Paulo, certa ocasião, em grande indigência e preso pela proclamação da verdade, alguns irmãos enviaram-lhe com que acudir a suas necessidades. Agradecido, responde-lhes: Fizestes bem provendo-me do necessário. Eu, porém, aprendi a bastar-me em qualquer situação. Sei ter muito e sei passar privações. Tudo posso naquele que me dá forças. No entanto fizestes bem em enviar-me aquilo de que preciso (cf. Fl 4,10-14).  

Mas desejando mostrar o que é que lhe interessava neste gesto em seu favor – não houvesse acaso entre eles algum dos que se apascentam a si e não as ovelhas – não se alegra tanto por ter sido socorrido em sua necessidade, quanto se congratula com eles por sua liberalidade. O que procurava então? Diz: Não porque espero dádivas para mim, mas porque busco frutos para vós (Fl 4,17). Não para que me sacie eu, mas para que não fiqueis vazios vós.  

Que aqueles que não podem, como Paulo, sustentar-se com o trabalho de suas mãos, aceitem o leite das ovelhas, supram as suas necessidades, mas não descuidem a fraqueza das ovelhas. Não procurem isto para o próprio proveito, como se anunciassem o Evangelho só para atender a sua penúria, mas tenham em mira a luz da palavra da verdade a fim de iluminar os homens. Pois parecem-se com lâmpadas, como foi dito: Estejam vossos rins cingidos e lâmpadas acesas (Lc 12,35); e: Ninguém acende uma lâmpada e a põe debaixo da vasilha, mas sobre o candelabro a fim de iluminar aqueles que estão em casa; assim brilhe vossa luz diante dos homens para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus (Mt 5,15-16).  

Se para teu uso acendessem em casa uma lâmpada, não lhe porias mais óleo para não se extinguir? Todavia, se mesmo com óleo a lâmpada não brilhasse, não seria de modo algum digna de ser posta no candelabro, mas logo quebrada. O bastante para viver, por necessidade se aceita, por caridade se dá. Não seja o Evangelho um objeto venal, como se fosse o preço que recebem os que o anunciam para terem com que viver. Se assim o vendem, por uma ninharia vendem uma coisa preciosa. Do povo recebem o sustento necessário; do Senhor, a recompensa de seu ministério. Não é o povo o indicado para dar a recompensa àqueles que servem ao Evangelho na caridade. Estes esperam sua recompensa da mesma fonte de que os outros aguardam a sua salvação.  

Por que então são repreendidos? Por que censurados? É que, bebendo o leite e cobrindo-se com a lã, descuravam as ovelhas. Procuravam apenas seu interesse, não o de Jesus Cristo.


Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 46,4-5: CCL 41,531-533)       (Séc.V)


São Amós, o profeta.


Dando continuidade  sobre os 12 profetas menores hoje falaremos do profeta Amós é o terceiro dos 12 profetas menores, nascido na cidade de Técua (perto de Belém) na tribo de Judá. Era pastor, e começou a profetizar em Betel. Por ter reprovado a idolatria de Joroboão II, rei de Israel,e predito sua morte, foi denunciado por Amasias, sacerdote dos bezerros de ouro de Betel, pelo que se retirou para Técua. Suas profecias, que compreendem 9 capítulos, começaram, no reino de Ozias, rei se Judá, e anunciavam o julgamento de Deus contra o povo de Israel e nações vizinhas. E citado por Santo Estevão e São Tiago (cf. At 7, 42; 15,16).
Um dos antepassados mencionados na genealogia de Nosso Senhor ( cf. Lc 3, 25).
Pai do profeta Isaías (cf. LC 3, 25).

Embora pastor ignorante, mostra-se um poeta original de grande valor, escritor de grande potência e de graça natural. O livro, que provavelmente ele mesmo escreveu, contém: promessa do julgamento contra 6 nações vizinhas, contra Judá e Israel cf. Amós 1, 1s ; discursos ameaçadoras contra Israel com um prenúncio da destruição de Samaria, da vinda do “ dia do Senhor” e de um convite a penitência cf. Amós 3ss; cinco visões que prevem  a próxima destruição cf. Amós 7ss; e a promessa da restauração messiânica do e “tabernaluco treme Davi” e de todo o povo de Deus cf. Amós 9, 11ss.

Amós, que tem uma profunda consciência profética  cf. Amós 3, 3s ; 7, 14s, é profeta por excelência da justiça de Deus e o predicador do juízo da penitência e da busca de Deus, como também da justiça social. Distingue-se pelo seu ensinamento, teologicamente muito alto, moral e monoteístico sobre Deus cf. Amós 4, 13; 5, 4ss; 9, 5ss, onipotente, criador e justo juiz e governador do mundo. A relação moral existente entre Deus e Israel deve regular qualquer outra relação entre eles.

Marcos Vinícius Faria de Moraes.


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

«A cruz, árvore de vida»



Como é bela a imagem da cruz! A sua beleza não oferece mistura de mal e de bem, como outrora a árvore do jardim do Éden. Toda ela é admirável, “uma delícia para os olhos e desejável” (Gn 3, 6). É uma árvore que dá a vida e não a morte; a luz, não a cegueira. Leva a entrar no Éden, não a sair dele. Esta árvore, à qual subiu Cristo, como um rei para o seu carro de triunfo, derrotou o diabo, que tinha o poder da morte, e libertou o gênero humano da escravidão do tirano. Foi sobre esta árvore que o Senhor, qual guerreiro de eleição, ferido nas mãos, nos pés e no seu divino peito, curou as cicatrizes do pecado, quer dizer, a nossa natureza ferida por Satanás.

Depois de termos sido mortos pelo madeiro, encontramos a vida pelo madeiro; depois de termos sido enganados pelo madeiro, é pelo madeiro que repelimos a serpente enganadora. Que permutas surpreendentes! A vida em vez da morte, a imortalidade em vez da corrupção, a glória em vez da ignomínia. Por este motivo, o apóstolo Paulo exclamou: “Toda a minha glória está na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6, 14) … Mais do que qualquer sabedoria, esta sabedoria que floresceu na cruz tornou ignóbeis as pretensões da sabedoria do mundo (1 Cor 1, 17s) …

É pela cruz que a morte foi morta e Adão restituído à vida. É pela cruz que todos os apóstolos foram glorificados, todos os mártires coroados, todos os santos santificados. É pela cruz que fomos reconduzidos como as ovelhas de Cristo, e fomos reunidos no redil do alto.



São Teodoro Estudita (759-826),

domingo, 16 de setembro de 2018

Assim é preciso que o Filho do Homem seja elevado, para que todo o que nele crê seja salvo


Hoje, nosso Senhor Jesus Cristo está pregado na Cruz e nós estamos em festa, para que saibais que a Cruz é uma festa e uma celebração espiritual. Outrora, a Cruz designava um castigo; agora tornou-se objeto de honra. Outrora símbolo de condenação, ei-la hoje princípio de salvação. Porque ela é para nós causa de bens sem conta: livrou-nos do erro, iluminou-nos as trevas, reconciliou-nos com Deus; tínhamo-nos tornado, para com Ele, inimigos e estrangeiros longínquos. Para nós, ela é hoje a destruição da inimizade, o penhor da paz, o tesouro de mil bens.

Graças a ela, já não erramos nos desertos, porque conhecemos o caminho verdadeiro. Não ficamos fora do palácio real, porque encontramos a porta. Não tememos as armas inflamadas do diabo, porque descobrimos a fonte. Graças a ela, já não estamos na viuvez, pois encontramos o Esposo. Não temos medo do lobo, pois encontramos o bom pastor. Graças à Cruz, não tememos o usurpador, pois nos sentamos ao lado do Rei.

Eis porque estamos em festa ao celebrarmos a memória do Cruz. O próprio São Paulo nos convida para a festa em honra da Cruz: "Celebremos esta festa", diz ele, "não com fermento velho, nem com o fermento da malícia e da perversidade, mas com os ázimos da pureza e da verdade" (1 Co 5,8). E ele explica-nos a razão dizendo: "Porque Cristo, nossa Páscoa, foi imolado por nós". (1 Co 5,7).

S. João Crisóstomo (cerca de 345-407), 
Homilia 1 «Sobre a Cruz e sobre o Ladrão»


sábado, 15 de setembro de 2018

Somos cristãos e bispos.



   Não é agora a primeira vez que ouvis dizer que toda a nossa esperança está em Cristo e que n’Ele está toda a nossa glória verdadeira e salutar. Esta é uma verdade evidente e familiar para vós que pertenceis ao rebanho d’Aquele que vigia e apascenta Israel. Mas porque há pastores a quem agrada o nome de pastores, mas não querem cumprir os deveres de pastores, consideremos o que lhes diz o Senhor pela boca do Profeta. Escutai vós com atenção, ouçamos nós com temor.

   A palavra do Senhor foi‑me dirigida nestes termos: Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel e diz aos pastores de Israel. Acabamos de ouvir esta leitura que nos foi proclamada, e por isso quero falar‑vos um pouco sobre ela. Deus me ajude a dizer coisas verdadeiras, porque não pretendo expor ideias próprias. Porque se vos propusesse ideias pessoais, também eu seria daqueles pastores que, em vez de apascentar as ovelhas, se apascentam a si mesmos; mas se é d’Ele o que dizemos, então é Ele que vos apascenta por intermédio de mim. Eis o que diz o Senhor Deus: Ai dos pastores de Israel, que se apascentam a si mesmos! Porventura não é o seu rebanho que os pastores devem apascentar? É como se dissesse: «Os pastores não se devem apascentar a si, mas as ovelhas».

Essaé a primeira acusação contra estes pastores: apascentam‑se a si mesmos e não o rebanho. Quem são os que se apascentam a si mesmos? Aqueles de quem o Apóstolo afirma: Todos procuram os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo.

   Ora bem. Nós, a quem o Senhor, pela sua misericórdia infinita e não por mérito nosso, colocou neste lugar de tão grande responsabilidade – e de que havemos de dar rigorosas contas – devemos distinguir claramente duas coisas: somos cristãos e somos bispos. Somos cristãos para nosso proveito, somos bispos para vosso proveito. Pelo facto de sermos cristãos, devemos pensar na nossa salvação; pelo facto de sermos bispos, devemos preocupar‑nos com a vossa.

   E há muitos que, sendo cristãos e não bispos, chegam até Deus, percorrendo um caminho mais fácil e progredindo nele tanto mais expeditamente quanto menor é o peso da responsabilidade que suportam. Nós, porém, devemos dar contas a Deus pela nossa própria vida, como cristãos; mas, além disso, devemos dar contas a Deus pelo exercício do nosso ministério, como pastores.



Início do Sermão de Santo Agostinho, bispo, sobre os Pastores
(Sermo 46, 1-2: CCL 41, 529-530) (Sec. V)

Profeta Ageu




Começaremos a falar dos 12 profetas menores na Sagrada Escritura, hoje começamos a dizer sobre o profeta Ageu. Parece ter nascido em Babilônia, durante o cativeiro, de onde voltou para Jerusalém com Zorobabel. A reconstrução do Templo já fora iniciada: “E no segundo ano da chegada deles ao Templo  de Deus em Jerusalém, no segundo mês começaram Zorobabel, filho de Salatiel, e Josué, filho de Josédec, e os outros seus irmãos sacerdotes, e levitas, e todos os que tinham vindo do cativeiro para Jerusalém, e constituíram levitas de idade de vinte anos, e daí para cima, para apressarem a obra do Senhor” (És 3, 8), mas  inimigos dos judeus instigaram Ciro e Cambises a proibi-la. Quando Dário subiu ao trono, Deus suscitou Ageu (cf. Esdras 5, 1s, Ageu 1) para exorta Zorobabel príncipe de Judá e o sumo Sacerdote Josué, filho de Josédec, a reiniciarem a construção do Templo. Suas invectivas obtiveram o reinício do trabalho desseis anos após o regresso do cativeiro: (cf. Ageu 1,14; 2,1). Inspirado por Deus anunciou então Ageu aos que, tendo visto a magnificência do primeiro templo, desprezaram o atual, a honra lhe estava reservada por Deus: “Virá o desejado de todas as gentes: e encherei de glória está casa, diz o Senhor dos exércitos… A glória desta casa será maior que a da primeira, diz o Senhor dos exércitos” (Ageu 2, 8; 10).

Este brevíssimo, único talvez pela sua cronologia precisa, refere-se a exortação feita no ano 520 a Zorobabel e aos outros exilados que regressaram a Jesuralem  pelo profeta Ageu. Esta exortação contém quatro profecias: 1: sobre a necessidade de reconstruir o templo cf. Ageu 1, 1ss. 2: encorajamento ao povo cf. Ageu 2, 1ss. 3: exortações e segurança sobre a danação dos bens divinos cf. Ageu 2, 10ss, 4: promessa a Zorobabel cf. Ageu 2, 20ss,  que é interpretada cristológica mente, isto é, que se refere ao Cristo Messias, de quem foi precusor e símbolo este progenitor da família de Davi.

Marcos Vinícius Faria de Moraes.