segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Evangelho de São Lucas 13:18-29.





18 Ele, pois, dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei? 19 É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e lançou na sua horta; cresceu, e fez-se árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu. 20 E disse outra vez: A que compararei o reino de Deus? 21 É semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar toda ela levedada. 22 Assim percorria Jesus as cidades e as aldeias, ensinando, e caminhando para Jerusalém. 23 E alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os que se salvam? Ao que ele lhes respondeu: 24 Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão. 25 Quando o dono da casa se tiver levantado e cerrado a porta, e vós começardes, de fora, a bater à porta, dizendo: Senhor, abre-nos; e ele vos responder: Não sei donde vós sois; 26 então começareis a dizer: Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste nas nossas ruas; 27 e ele vos responderá: Não sei donde sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniquidade. 28 Ali haverá choro e ranger de dentes quando virdes Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora. 29 Muitos virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e reclinar-se-ão à mesa no reino de Deus.

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O ENSINO DOS SANTOS PADRES DA IGREJA


“Cristo é o grão que dissipou as trevas e renovou a Igreja”


Existe algo maior que o Reino dos Céus e menor que um grão de mostarda? Como Cristo pode comparar a imensidade do Reino dos Céus com esta pequeníssima semente tão fácil de medir? Mas se examinamos bem as propriedades do grão de mostarda, concluiremos que a comparação é perfeita e muito apropriada.

O que é o Reino dos Céus a não ser Cristo em pessoa? De fato, Cristo diz referindo-se a si mesmo: Pois o Reino de Deus está dentro de vós. E existe algo maior que Cristo segundo a sua divindade, a tal ponto que ouvimos o profeta dizer: Ele é o nosso Deus e não existe nenhum outro: investigou o caminho do saber e se deu ao seu filho Jacó, ao seu amado Israel. Depois apareceu no mundo e viveu entre os homens?

Mas, da mesma forma, existe algo menor que Cristo segundo a economia da encarnação, que se fez inferior aos anjos e aos homens? Escuta a Davi explicar em que se fez menor que os anjos: O que é o homem para que te recordes dele, o “ser humano, para dar-lhe poder? O fizeste pouco abaixo dos anjos. E que Davi disse isto de Cristo, Paulo o interpreta para ti quando diz: Ao que Deus fez pouco abaixo dos anjos, a Jesus, o vemos agora coroado de honra e glória por sua paixão e morte.

Como se fez ao mesmo tempo Reino dos Céus e grão? Como pode ser o mesmo o pequeno e o grande? Porque, em virtude de sua imensa misericórdia para com a sua criatura, colocou-se a serviço de todos a fim de ganhar a todos. Por sua própria natureza era Deus, o é e será, e se fez homem pela nossa salvação. Ó grão por quem foi feito o mundo, por quem foram dissipadas as trevas e renovada a Igreja! Este grão, suspenso na cruz, teve tal eficácia que, mesmo estando cravado, somente com sua palavra raptou o ladrão do madeiro e o transladou às delícias do paraíso; este grão, ferido pela lança no seu lado, destilou para os sedentos uma bebida de imortalidade; este grão de mostarda, descido do madeiro e depositado no horto, cobriu toda a terra com os seus ramos; este grão, depositado no horto, plantou suas “raízes até o inferno, e, tomando consigo as almas que ali jaziam, em três dias as levou para o céu.

Portanto, o Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e o semeou em seu horto. Semeia este grão de mostarda no horto de tua alma. Se tiveres este grão de mostarda no horto de tua alma, o profeta também dirá a ti: Serás um horto bem regado, um manancial de águas cuja veia nunca seca.

E se quiséssemos discutir mais a fundo este tema, descobriríamos que a parábola compete ao próprio Salvador. De fato, ele é o pequeno em aparência, de uma breve vida neste mundo, porém grande no céu. Ele é o Filho do homem e Deus, porque é Filho de Deus; supera toda medida; é eterno, invisível, celestial, que é comido unicamente pelos crentes; foi triturado e depois de sua paixão se tornou tão branco como o leite; este é mais alto que todas as hortaliças; ele é o invisível Verbo do Pai; este é quem os pássaros do céu, ou seja, os profetas, os apóstolos e quantos foram chamados podem abrigar-se; este é quem, com o seu próprio “campo, ou seja, no mundo, ofereceu ao Pai todos quantos criam nele.

Ó semente de vida semeada na terra por Deus Pai! Ó gérmen de imortalidade que reconcilias com Deus aos mesmos que tu alimentas! Diverte-te sob esta árvore e dança com os anjos, glorificando ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém.



São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla (Séc. V)

sábado, 22 de dezembro de 2018

Evangelho de São Lucas 21:37-22:8.



37 Ora, de dia ensinava no templo, e à noite, saindo, pousava no monte chamado das Oliveiras. 38 E todo o povo ia ter com ele no templo, de manhã cedo, para o ouvir. 1 
Aproximava-se a festa dos pães ázimos, que se chama a páscoa. 2 E os principais sacerdotes e os escribas andavam procurando um modo de o matar; pois temiam o povo. 3 Entrou então Satanás em Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, que era um dos doze; 4 e foi ele tratar com os principais sacerdotes e com os capitães de como lho entregaria. 5 Eles se alegraram com isso, e convieram em lhe dar dinheiro. 6 E ele concordou, e buscava ocasião para lho entregar sem alvoroço. 7 Ora, chegou o dia dos pães ázimos, em que se devia imolar a páscoa; 8 e Jesus enviou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos. 

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Testemunho Dos Santos Padres da Igreja

“O Pai deposita todas as coisas em suas mãos”


Era antes da Festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai. Este nome, “Páscoa”, significa “passagem” ou “trânsito”, e possui origem muito antiga, porque teve princípio no grande mistério que o Senhor realizou quando tirou o povo de Israel do Egito. Naquela ocasião o Senhor passou pelo Egito ferindo todos os primogênitos e libertando os filhos de Israel; e os filhos de Israel, ao passarem daquela noite da servidão para a liberdade, para a terra da promissão e à herança da paz, isto foi figura e mistério de que o Senhor nesta festa passaria deste mundo para o Pai celestial. Figurou também que, com o seu exemplo, todos os seus servos, os católicos, teriam de expulsar de si os desejos e o amor das coisas terrenas, e, abraçando as virtudes e a justiça das boas obras, procurariam subir a soberana herança que o Senhor lhes tem preparada no céu.

São João nos descreve admiravelmente a maneira que o Senhor passou deste mundo ao Pai no seu Evangelho: tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Quer dizer: tanto os amou, que com o seu amor findou a vida corporal, tendo de passar logo da morte à vida para subir ao Pai celestial; porque na verdade ninguém pode ter maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. E assim, de forma muito justa, os dois passos foram consagrados com sangue: um, o da lei, e outro, o do Evangelho. O da lei, com o sangue do cordeiro pascal, e o do Evangelho, com o sangue do qual diz o sagrado apóstolo: Este Senhor, amados irmãos, foi sacrificado derramando seu sangue na árvore da cruz, e o cordeiro da lei era sacrificado derramando seu sangue em forma de cruz, espargindo-o sobre o umbral, e no alto da porta.

Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus. Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou a toalha e amarrou-a na cintura. Tendo que falar o sagrado evangelista da profundíssima humildade que o Senhor mostrou enquanto homem, primeiro conta a grandeza de sua divindade, e a eternidade de seu poder soberano; desta maneira nos mostra ser Deus e homem verdadeiro, e nos lembra aquele mandamento em que o Senhor nos ordena que cada um, quanto maior se percebe, tanto mais se humilhe em todas as coisas. Claro está que era verdadeiro homem aquele que pôde se relacionar e lavar os pés dos homens, o que pôde ser vendido por um homem, e pôde ser crucificado pelos homens. Este mesmo era verdadeiro Deus, pois o Pai deposita todas as coisas em suas mãos, e saiu de Deus, e volta para Deus.

O Senhor sabia muito bem que o diabo tinha posto no coração de Judas a intenção de traí-lo. Sabia bem que o Pai tinha colocado todas as coisas em suas mãos, e, entre estas coisas, entendia-se também aquele mesmo que o traía, e aqueles que o compravam, e a própria morte que havia de passar. Tudo estava em seu poder e debaixo do comando de sua majestade, e podia fazer de tudo isso o que quisesse, e com sua onipotência converter todo aquele mal em bem. Amados irmãos, ele sabia que saiu de Deus pela humildade da encarnação, e que havia de voltar a Deus pela vitória da ressurreição, não desamparando a Deus quando saiu dele para vir a nós, nem desamparando a nós quando voltou ao Pai. Tudo isso o sabia muito bem nosso Redentor, e, sabendo-o, teve por bem levantar-se da ceia, tirando as vestes, e lavar os pés de seus discípulos em testemunho de sua imensa piedade, e para o grande exemplo de nossa humildade.



São Beda, o Venerável (séc. VIII)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A veneração dos Santos faz parte integrante da vida da Igreja Ortodoxa.






A veneração dos Santos faz parte integrante da vida da Igreja Ortodoxa. Ouvimos muito geralmente os protestantes acusarem os ortodoxos de fazerem dos Santos mediadores entre Deus e os homens, paralelo ao fato do homem poder se dirigir diretamente a Deus. Longe de negar a possibilidade de um contato direto com Deus, a Igreja Ortodoxa faz ao contrário desta experiência o fundamento de toda vida espiritual. Ela não vê na veneração dos Santos impencilho algum à relação direta do cristão com Deus. A maioria das orações ditas pelo fiel, tanto na igreja como em privado, são dirigidas a Deus. O cristão ortodoxo eleva, no entanto, igualmente sua oração à Mãe de Deus e aos Santos. Para o cristão ortodoxo, os Santos são tanto os mediadores entre Deus e ele próprio como os portadores vivos de um autêntico Cristianismo, um modelo. A Igreja crê que os Santos não morrem, mas continuam a viver na Igreja, e é esta fé em sua presença viva que justifica o fato de se orar por eles.

pelo Metropolita Hilarion Alfeyev
extraído do livro L´Orthodoxie II

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Evagelho de São Lucas 20:27-44.



E, chegando-se alguns dos saduceus, que dizem não haver ressurreição, perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se o irmão de algum falecer, tendo mulher, e não deixar filhos, o irmão dele tome a mulher, e suscite posteridade a seu irmão. Houve, pois, sete irmãos, e o primeiro tomou mulher, e morreu sem filhos; tomou-a o segundo por mulher, e ele morreu sem filhos. E tomou-a o terceiro, e igualmente também os sete; e morreram, e não deixaram filhos. E por último, depois de todos, morreu também a mulher. Portanto, na ressurreição, de qual deles será a mulher, pois que os sete por mulher a tiveram? E, respondendo Jesus, disse-lhes: Os filhos deste mundo casam-se, e dão-se em casamento; mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, nem hão de casar, nem ser dados em casamento; porque já não podem mais morrer; pois são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição. E que os mortos hão de ressuscitar também o mostrou Moisés junto da sarça, quando chama ao Senhor Deus de Abraão, e Deus de Isaque, e Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele vivem todos. E, respondendo alguns dos escribas, disseram: Mestre, disseste bem. E não ousavam perguntar-lhe mais coisa alguma. E ele lhes disse: Como dizem que o Cristo é filho de Davi? Visto como o mesmo Davi diz no livro dos Salmos: Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. Se Davi lhe chama Senhor, como é ele seu filho?

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REFLEXÕES

Nosso Senhor e mestre, na resposta que deu aos saduceus que negam a ressurreição, e que ainda afrontam a Deus violando a lei, confirma a realidade da ressurreição e depõe em favor de Deus, dizendo-lhes: Estais muito equivocados por não compreender as Escrituras nem o poder de Deus. E a respeito da ressurreição – diz – dos mortos, não lestes o que Deus disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? E acrescentou: Não é Deus de mortos, mas de vivos: porque para ele estão todos vivos. Com estas palavras manifestou que aquele que falou com Moisés na sarça e declarou ser o Deus dos pais é o Deus dos vivos.

E quem é o Deus dos vivos a não ser o único Deus, acima do qual não existe outro Deus? É o mesmo Deus anunciado pelo Profeta Daniel, quando ao dizer-lhe Ciro, o persa: Por que não adoras a Bel?, respondeu-lhe: eu adoro o Senhor, meu Deus, que é o Deus vivo. Assim o Deus vivo adorado pelos profetas é o Deus dos vivos, e o é também a sua Palavra, que falou a Moisés, que refutou aos saduceus, que nos concedeu o dom da ressurreição, mostrando aos que estavam cegos estas duas verdades fundamentais: a ressurreição e Deus. Se Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, e, contudo, é chamado Deus dos pais que já morreram, é incontestável que estão vivos para Deus e não pereceram: são filhos de Deus, porque participam da ressurreição.

E a ressurreição é nosso Senhor em pessoa, como ele mesmo afirmou: Eu sou a ressurreição e a vida. E os pais são seus filhos; já o disse o profeta: em lugar de teus pais, são teus filhos. Portanto, o próprio Cristo é juntamente com o Pai o Deus dos vivos, que falou a Moisés e se manifestou aos pais.

Isto é o que, ensinando, dizia aos judeus: Abraão, vosso pai, pulava de alegria pensando em ver meu dia: o viu e se encheu de alegria. Como assim? Abraão creu em Deus e lhe foi creditado como justiça. Creu, em primeiro lugar, que ele é o Criador do céu e da terra, o único Deus, e em segundo lugar, que multiplicaria sua descendência como as estrelas do céu. É o mesmo vocabulário de Paulo: Como luzeiros do mundo. Com razão, pois, abandonando todos os seus parentes terrenos, seguia o Verbo de Deus, peregrinando com o Verbo, para morar com o Verbo. Com razão os apóstolos, descendentes de Abraão, deixando a barca e o pai, seguiam ao Verbo de Deus. Com razão também nós, abraçando a mesma fé que Abraão, carregando a cruz – como Isaac com a lenha – o seguimos.

Na verdade, em Abraão o homem aprendeu e se acostumou a seguir o Verbo de Deus. De fato, Abraão, favorecendo, em conformidade com a sua fé, o mandato do Verbo de Deus, consentiu oferecer em sacrifício a Deus seu unigênito e amado filho, para que também Deus concordasse no sacrifício de seu Filho unigênito em favor de toda a sua posteridade, ou seja, por nossa redenção. Por isso Abraão, profeta como era, vendo em espírito o dia da vinda do Senhor e a economia da paixão, pela qual ele mesmo e todos os que cressem como ele começariam a inaugurar a salvação, encheu-se de intensa alegria. 



Santo Irineu de Lião (séc. II)
Tratado Contra as Heresias: “Eu Sou a Ressurreição e a Vida”

domingo, 16 de dezembro de 2018

Evangelho segundo São Lucas 16,9-15.



Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas.

Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas, também é injusto nas grandes.
Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem?
E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso?

Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

Os fariseus, que eram amigos de dinheiro, ouviam tudo isto e escarneciam de Jesus.
Então Jesus disse-lhes: «Vós quereis passar por justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os vossos corações. O que vale muito para os homens nada vale aos olhos de Deus».

«Arranjai amigos»


«Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa» (Mt 10,42). [...] Este é o único salário que não perderá o seu valor: «Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas». As riquezas de que dispomos não devem servir apenas para nós; com bens injustos pode fazer-se uma obra justa e salutar, e aliviar um daqueles que o Pai destinou à sua morada eterna. [...] Que admirável é esta palavra de Paulo: «Deus ama quem dá com alegria» (2Cor 9,7), aquele que dá esmola do coração, que semeia sem medida para colher de forma igualmente abundante, que partilha sem murmurar, sem hesitação nem reticências. [...] E ainda é maior esta palavra que o Senhor diz noutro lado: «Dá a quem te pedir» (Lc 6,30). [...]

Reflete pois na magnífica recompensa que te é prometida pela tua generosidade: a morada eterna. Que bom negócio! Que negócio extraordinário! Compramos a imortalidade com dinheiro; trocamos os bens perecíveis deste mundo por uma morada eterna no Céu! Se vós, os ricos, tendes sabedoria, aplicai-vos a este comércio. [...] Porque vos deixais fascinar por diamantes e esmeraldas, por casas que o fogo devora, que o tempo faz desmoronar, que um tremor de terra derruba? Aspirai apenas a viver nos Céus e a reinar com Deus. Um homem, um pobre dar-vos-á esse reino. [...]

De resto o Senhor não disse: «Dai, sede generosos, socorrei os vossos irmãos», mas «fazei amigos». A amizade não nasce duma única doação, mas duma longa familiaridade. Nem a fé nem a caridade nem a paciência, são obra de um dia: «Mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo» (Mt 10,22).



São Clemente de Alexandria (150-c. 215)

Sermão «Os ricos podem ser salvos?», § 31

sábado, 15 de dezembro de 2018

Evangelho de São Lucas 6:17-23.




E, descendo com eles, parou num lugar plano, e também um grande número de seus discípulos, e grande multidão de povo de toda a Judéia, e de Jerusalém, e da costa marítima de Tiro e de Sidom; os quais tinham vindo para o ouvir, e serem curados das suas enfermidades, Como também os atormentados dos espíritos imundos; e eram curados. E toda a multidão procurava tocar-lhe, porque saía dele virtude, e curava a todos. E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem. Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas.

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REFLEXÃO



Após falar sobre a pobreza, que tanta felicidade proporciona, o Senhor seguiu dizendo: 


"Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados".

Queridíssimos irmãos, o pranto ao qual está vinculado um consolo eterno é distinto da aflição deste mundo. Os lamentos que se escutam neste mundo não tornam ninguém feliz. É muito distinta a razão de ser dos gemidos dos santos, a causa que produz lágrimas felizes.

A santa tristeza lamenta o pecado, o alheio e o próprio. E a amargura não é motivada pela maneira de agir da justiça divina, mas pela maldade humana. E, neste sentido, deve-se lamentar mais a atitude do que age mal, do que a situação daquele que tem que sofrer por causa do malvado, porque ao injusto sua malícia termina no castigo; porém, ao justo sua paciência o leva para a glória.

Segue o Senhor: 

"Bem-aventurados os sofredores, porque eles herdarão a terra". 

Promete-se a posse da terra aos sofredores e aos mansos, aos humildes e simples, e aos que estão dispostos a tolerar todo o tipo de injustiças. Não se deve olhar esta herança como desprezível e desfragmentada, como se estivesse separada da pátria celestial; do contrário, não se compreende quem poderia entrar no Reino dos Céus.

Porque a terra prometida aos sofredores, em cuja posse os mansos entrarão, é a carne dos santos. Esta carne viveu em humilhação, por isso mereceu uma ressurreição que a transforma e a reveste de imortalidade gloriosa, sem temer nada que possa contrariar ao espírito, sabendo que sempre estarão de comum acordo. Porque, nesse caso, o homem exterior será a possessão pacífica e inamissível do homem interior.

E, assim, os sofredores herdarão em paz perpétua e sem prejuízo algum a terra prometida, quando este corruptível se revista de incorrupção, e este mortal se revista de imortalidade.


São Leão, o Grande, Papa de Roma (séc. V)
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Santo Habacuque, Profeta (séc. VII a.C).


E por ele nos aproximamos de Ti para suplicar-Te:
Salve as nossas almas!



Habacuque era descendente dos Levitas, sacerdotes e servidores do Templo em Jerusalém. Viveu pouco antes da destruição do Templo e era contemporâneo do Profeta Jeremias.  

Seu livro se destaca pela linguagem simples, elevada e poética. Os conhecedores das Sagradas Escrituras o elogiam pela simplicidade, brevidade e pela profundidade das imagens. O profeta Habacuque ensinava que o ímpio e o injusto se perderão, enquanto os piedosos serão salvos pela fé. Com este pensamento (que os ímpios se perderão e os justos se salvarão) compõe um hino – um cântico – que descreve o Juízo Divino. 

«Porque, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. (Para o cantor-mor sobre os meus instrumentos de corda)». (Ab 3:17-19).  

O Profeta Habacuque predisse a salvação pela fé no Reino do Messias: 

«Eis que a sua alma está orgulhosa, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá». (Ab 2:4). (ver Gl 3:11 e Hb 10:38).  

Os capítulos 2 e 3 servem de inspiração para os “irmos” do quarto cântico dos cânones do serviço matutino (Matinas). Em alguns ‘irmos’ se repetem textualmente expressões destes capítulos, como por exemplo, o Canon da Páscoa «Estarei em minha guarda; o Senhor escutou a voz de teu apelo. Sua majestade cobriu o céu e a terra». Estas frases os santos padres relacionam com o Messias. 
O Profeta Habacuque profetiza o futuro quando disse: «Porque a terra se encherá do conhecimento da glória do SENHOR, como as águas cobrem o mar. (Ab 2:14). 

O conteúdo de seu livro é o seguinte: o profeta se surpreende como prosperam os injustos (1:1-4); a resposta do Senhor (1:5-11); outra surpresa do profeta (1:12-17); contestação do Senhor (2:1-5); a pregação das lamúrias dos caldeus por seus pecados (2:6-20) e  um hino a Deus (cap 3).

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Evangelho de São Lucas 20:19-26.



E os principais dos sacerdotes e os escribas procuravam lançar mão dele naquela mesma hora; mas temeram o povo; porque entenderam que contra eles dissera esta parábola. E, observando-o, mandaram   espias, que se fingissem justos, para o apanharem nalguma palavra, e o entregarem à jurisdição e poder do presidente. E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, nós sabemos que falas e ensinas bem e retamente, e que não consideras a aparência da pessoa, mas ensinas com verdade o caminho de Deus. É-nos lícito dar tributo a César ou não? E, entendendo ele a sua astúcia, disse-lhes: Por que me tentais? Mostrai-me uma moeda. De quem tem a imagem e a inscrição? E, respondendo eles, disseram: De César. Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, maravilhados da sua resposta, calaram-se.

“Para que Todos Levem Uma Vida Pacífica e Tranquila”


É preciso submeter-se não somente por temor do castigo, mas por consciência. O que significa isto de “não somente por temor?” Pois que além de obedecer – porque, caso contrário, te oporias a Deus e acarretarias sobre ti os castigos divinos e humanos –, deves fazê-lo porque a autoridade te é enormemente útil, já que te proporciona a paz e a administração política. A sociedade alcança inumeráveis bens graças aos seus chefes, e se desaparecessem tudo cairia. Não poderiam subsistir nem as cidades, nem as aldeias, nem mesmo as casas; nem o foro; nada se manteria de pé, tudo seria derrubado, pois os poderosos devorariam aos fracos. Portanto, mesmo que não existisse o temor ao castigo infligido ao desobediente, deverias submeter-te para não aparecer sem consciência nem gratidão para com o teu benfeitor.

Pela mesma razão, pagais impostos; os funcionários que os recolhem fazem-no como ministros de Deus. São Paulo expõe duas razões: a primeira, destinada a todos, cristãos ou gentios; a segunda, aos cristãos. Na realidade, todos os benefícios proporcionados pela autoridade, como a ordem, a paz, os serviços, as tropas, os ofícios comuns..., são assegurados e reconhecidos pagando os tributos. É necessário que o povo saiba os bens que recebe do Estado, para que contribua ao bem-estar do príncipe, e que também é justo que aqueles que dedicam sua vida a proteger a nossa estejam favorecidos decentemente por meio destas contribuições.

Expostas estas razões, úteis inclusive aos gentios, São Paulo atende aos cristãos e acrescenta outra: porque são ministros de Deus dedicados a isso. Esta é a sua vida e ocupação, que tu desfrutes da paz, e por isso em outra epístola te ordena que, além de lhes estar submetido, reze por eles, acrescentando: para que todos levem uma vida pacífica e tranquila.

Não me digas que alguns abusam de seu poder, pois o que deves observar é o bem desta constituição das coisas, e então repararás a grande sabedoria da lei que o ordenou assim desde o princípio.

Dai a cada um o que lhe é devido: seja imposto, seja taxa. Dai-lhes não somente dinheiro, mas também respeito e temor, um temor que não é medo, mas consideração. E não creias que isso te desonra, porque se o dás àquele que representa a Deus, é a Ele quem honras quando ao chegar ao príncipe te põe de pé e te descobres. E se isto o manda São Paulo tratando-se dos príncipes gentios, com muito mais cuidado há que observá-lo agora entre cristãos.

Não penses se és mais ou menos virtuoso. Não é tempo disso. Nossa vida está escondida em Cristo, em cuja aparição brilharemos todos em glória; por agora te apresenta sempre com temor diante do príncipe, pois Deus quer que este, criado por Ele, receba toda a sua fortaleza.


São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla (séc. V).

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Santo Apóstolo Santo André, o Primeiro a Ser Chamado (Séc. I).

13 de Dezembro de 2018 (CC) / 30 de Novembro (CE).



Jejum da Natividade.

André era irmão do Apóstolo Pedro. Eram ambos filhos de Jonas e pescadores no mar de Tiberíades. Naturais de Betesda, uma cidadezinha situada às margens do Lago de Genezaré (Mar de Tiberíades). «André» é um nome grego, e lhe foi dado porque este era um costume  entre os hebreus. Ficou conhecido por «Protóklitos», (primeiro chamado) pois foi o primeiro a ser chamado pelo SENHOR para formar o grupo dos 12 apóstolos. Iniciou suas viagens apostólicas logo após o Pentecostes, pregando no Mar Negro, depois na Frigia, na Misia e na Bytinia. Posteriormente voltou ao Mar Negro escapando da morte. Seguiu depois para Esquitia (Sul da Rússia) seguindo para Tracia. 

Em Argirúpolis, (atualmente, um dos bairros de Constantinopla) fundou uma Igreja e ordenou como primeiro bispo de Bizâncio um dos 70 discípulos, chamado Estaquis. Foi em seguida para Tessalia e, por último, para Acaia. Em Patras, foi preso e condenado a crucifixão numa cruz em forma de X. Seu corpo foi sepultado com muita veneração e honra. 

No ano 357, por ordem do imperador Constâncio, suas relíquias foram trasladadas para Constantinopla e depositadas na Igreja dos Santos Apóstolos. Mais tarde, por obra dos Cruzados, suas relíquias passaram por diferentes lugares. Um fragmento delas foi levado para a Escócia e, desde então, é considerado como o santo Patrono daquele país. A letra X de cor branca, na bandeira da Escócia, e que também está presente na bandeira do Reino Unido, representa a cruz de Santo André. Desde o ano 1964, seu precioso crânio se encontra  guardado na cidade grega de Patras, no interior da majestosa Igreja Catedral de Santo André.

Notas Essenciais sobre como Viver nossa fé :





A maneira de orar com bom proveito.

"Despreze as paixões, não se preocupe com o Diabo. Volte-se apenas para Cristo.

A graça divina nos ensina quais são os nossos deveres.

Para atraí-la, precisamos cultivar o amor. A divina graça de Deus precisa de amor, e este é o suficiente, para nos conduzir para a "maneira certa" de fazer a oração.

Cristo pessoalmente se debruça sobre o nosso coração, quando Ele pode encontrar dentro dele algumas coisas que Lhe agradam, como a boa intenção, humildade e o amor pelo próximo. 

Sem estas coisas no coração, não podemos dizer: "Senhor Jesus Cristo, tem misericórdia de mim".

Mesmo a menor murmuração contra o teu próximo afeta negativamente a sua alma e você não consegue orar bem.

Quando o Espírito Santo encontra a alma neste estado, Ele não se atreve a abordar tal alma. 



Santo Ancião Porfirio.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Vida de Santo Ambrósio.

Justo Pai, roga a Cristo nosso Deus
Que nos conceda a Sua grande misericórdia


Santo Ambrósio, nasceu numa nobre família romana, na Alemanha quando o pai era governador. Educado em Roma junto com os irmãos, Ambrósio desde cedo aprendeu a alimentar as virtudes cívicas e morais, ao ponto de ser eleito com 35 anos governador da província romana da Itália.
Com a morte do bispo de Milão, respeitado e amado, foi enviado para a eleição do novo bispo , a fim de evitar grandes conflitos. Em meio a confusão, de repente uma criança grita: "Ambrósio, bispo!". O clero e o povo aderiu e todos aclamaram: "Queremos Ambrósio bispo!".

O povo teve que teimar durante uma semana, até que vendo nisto a voz de Deus, Ambrósio que ocupava alto cargo no Império Romano e somente era catecúmeno, cedeu a vontade do Senhor. Depois de batizado, foi ordenado sacerdote e logo em seguida bispo de Milão.
Providencialmente usou as qualidade de organizador e administrador para o bem da Igreja, podendo assim atuar no campo pastoral, político, doutrinal, litúrgico, ao ponto de merecer o título de grande Doutor e Padre do Cristianismo do Ocidente. Sua figura política ficou marcante, principalmente quando aplicou ao imperador uma dura penitência pública comum, pois teria Teodósio consentido como uma invasão a cidade de Tessalônica, que resultou na morte de muitos.Santo Ambrósio, como homem de Deus, partilhou sua riqueza material e espiritual com o povo; jejuava sempre; pai carinhoso e tão grande orador que teve papel importante na conversão de Santo Agostinho. Deixou muitos escritos e morreu com 60 anos no ano de 397,após 23 anos de serviço ao seu amado Cristo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Evangelho de São Lucas 19:45-48.



E, entrando no templo, começou a expulsar todos os que nele vendiam e compravam, dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores. E todos os dias ensinava no templo; mas os principais dos sacerdotes, e os escribas, e os principais do povo procuravam matá-lo. E não achavam meio de o fazer, porque todo o povo pendia para ele, escutando-o.

† † † 

COMENTÁRIO

“Somos as pedras vivas com as quais se edifica o templo de Deus”


Com frequência temos advertido a vossa caridade que não devemos considerar os salmos como a voz isolada de um homem que canta, mas como a voz de todos aqueles que estão no Corpo de Cristo. E como no Corpo de Cristo estão todos, fala como um só homem, pois ele é ao mesmo tempo um e muitos. São muitos se considerados isoladamente; mas são um naquele que é um. Ele também é o templo de Deus do qual falou o apóstolo: O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós: todos os que creem em Cristo e, crendo, amam. Pois nisto consiste crer em Cristo: Em amar a Cristo; não como os demônios, que criam, porém não amavam. Por isso, apesar de crer, diziam: "O que nós temos contigo, Filho de Deus?" Nós, por outro lado, creiamos de tal forma que, crendo nele, lhe amemos e não digamos: o que nós temos contigo?, mas digamos melhor: “A Ti pertencemos, tu nos redimiste”.

Realmente, todos quantos assim creem são como as pedras vivas com as quais se edifica o templo de Deus, e como a madeira incorruptível com a qual se construiu aquela arca que o dilúvio não conseguiu submergir. Este é o templo – isto é, os próprios homens – em que se roga a Deus e ele escuta. Somente ao que ora no templo de Deus lhe é dado ser escutado para a vida eterna. E ora no templo de Deus o que ora na paz da Igreja, na unidade do Corpo de Cristo. Este corpo de Cristo consta de uma multidão de crentes espalhados por todo o mundo; e por isso é escutado o que ora no templo. Ora, pois, no espírito e na verdade o que ora na paz da Igreja, não naquele templo que era somente uma figura.

Em nível de imagem, o Senhor expulsou do templo aos que no templo buscavam seu próprio interesse, ou seja, os que iam ao templo para comprar e vender. Agora, se aquele templo era uma imagem, é evidente que também no Corpo de Cristo – que é o verdadeiro templo do qual o outro era uma imagem – existe uma miscelânea de compradores e vendedores, isto é, gente que busca seu interesse, e não o de Jesus Cristo. E visto que os homens são açoitados por seus próprios pecados, o Senhor fez um açoite de cordas e expulsou do templo a todos os que buscavam seus interesses, e não os de Jesus Cristo.

Pois bem, a voz deste templo é a que ressoa no salmo. Neste templo – e não no templo material – se roga a Deus, como vos disse, e Deus escuta em espírito e verdade. Aquele templo era uma sombra, imagem do que haveria de vir. Por isso aquele templo já foi destruído. Isto quer dizer que foi derrubada nossa casa de oração? De forma alguma. Pois aquele templo que foi derrubado não pode ser chamado casa de oração, e do qual se disse: Minha casa é casa de oração, e assim será chamada por todos os povos. E escutastes o que disse: Minha casa é casa de oração, e assim será chamada por todos os povos. E escutastes o que disse nosso Senhor Jesus Cristo: Está escrito: Minha casa é casa de oração para todos os povos; porém vós a convertestes em uma cova de ladrões.

Por acaso os que pretenderam converter a casa de Deus em uma cova de ladrões conseguiram destruir o templo? Da mesma maneira, os que vivem mal na Igreja Católica, naquilo que deles depende, querem converter a casa de Deus em uma cova de ladrões; porém, nem por isso destroem o templo. Mas chegará o dia em que, com o açoite trançado com seus pecados, serão precipitados fora. Pelo contrário, este templo de Deus, este Corpo de Cristo, esta assembleia de fiéis têm uma só voz, e canta no salmo como um só homem... Se queremos, é nossa voz; se queremos, com o ouvido escutamos ao cantor, e com o coração também nós cantamos. Mas, se não queremos, seremos naquele templo como os compradores e vendedores, ou seja, como os que buscam seus próprios interesses: Entramos, sim, na igreja, mas somente para fazer o que agrada aos olhos de Deus.



Santo Agostinho,
bispo de Hipona (séc. V)

domingo, 9 de dezembro de 2018

Evangelho segundo São Lucas 13:10-17.

Cantai louvores ao nosso Deus, cantai louvores!Cantai louvores ao nosso Rei, cantai louvores! (Sl. 46:6).



10 E ensinava no sábado, numa das sinagogas. 11 E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se. 12 E, vendo-a Jesus, chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade. 13 E pôs as mãos sobre ela, e logo se endireitou, e glorificava a Deus. 14 E, tomando a palavra o príncipe da sinagoga, indignado porque Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que é mister trabalhar; nestes, pois, vinde para serdes curados, e não no dia de sábado. 15 Respondeu-lhe, porém, o Senhor, e disse: Hipócrita, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou jumento, e não o leva a beber? 16 E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás tinha presa? 17 E, dizendo ele isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e todo o povo se alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele. 18 E dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei? 19 É semelhante ao grão de mostarda que um homem, tomando-o, lançou na sua horta; e cresceu, e fez-se grande árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu. 20 E disse outra vez: A que compararei o reino de Deus? 21 É semelhante ao fermento que uma mulher, tomando-o, escondeu em três medidas de farinha, até que tudo levedou.

☦️☦️☦️

HOMILIA

“O Senhor Repreendeu Àqueles que Injustamente O Acusavam de Curar em Sábado”


O Senhor atuou em defesa de sua descendência (a Igreja), a libertou do cativeiro e a chamou para a salvação, como deixou claro na mulher curada, dizendo àqueles que não tinham uma fé semelhante à de Abraão: Hipócritas! Acaso algum de vós não desata o seu boi ou o seu asno no dia de sábado e o leva para beber? E a esta filha de Abraão, a quem satanás manteve atada durante 18 anos, não era conveniente libertá-la de suas amarras no sábado?

Fica, portanto, claro que ele libertou e devolveu à vida àqueles que criam com uma fé semelhante à de Abraão, e nada fez contra a lei ao curá-la em sábado. Na realidade a lei não proibia curar aos seres humanos, pois até podia circuncidá-los nesse dia; ainda mais: ordenava aos sacerdotes realizar nesse dia seu ministério, e nem sequer proibia que se curasse aos animais.

A piscina de Siloé com frequência curou em sábado, e por isso muitos enfermos se sentavam na sua borda. Entretanto, a lei sabática mandava abster-se de todo labor servil; ou seja, de todo trabalho que cultiva negócio e possui desejo de lucro, ou por outro fim terreno. Mas exortava a realizar as obras da alma, que se realizam pelo pensamento ou os conselhos para ajudar o próximo. Por isso o Senhor repreendeu aqueles que injustamente o acusavam de curar em sábado. Desta forma não rompia, mas cumpria a lei, agindo como sumo sacerdote que em favor dos seres humanos torna propício a Deus, limpando os leprosos, curando os enfermos e dando a sua vida a fim de que o homem exilado escape da condenação e sem temor regresse para a sua herança.



Santo Irineu, bispo (séc. II)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Piedade Ortodoxa : Velas : A Luz da Fé.



Nos santos templos da Igreja Ortodoxa, os velários são postados dentro da igreja, iluminando os diversos ícones que normalmente ornam nossas igrejas. 

É o primeiro ato do fiel ao entrar no atrio que antecede a nave, adquirir uma vela, para acender dentro da igreja. 

Por qual razão acendemos velas ?

Dois amigos de Deus, São Simeão, Bispo de Thesalonica e São Nicodemos da Montanha Santa nos explicam com muita beleza o simbolismo das velas em nossa fé.

Diz São Simeão :

1. Assim como  a vela é pura (pura cera de abelha ), assim também deve ser puro, o nosso coração.

2. Assim como a vela é flexível ( diferente do que ocorre com a vela de parafina), assim também deve ser flexível as nossas almas, até que possamos as tornar retas e firmes no Evangelho.

3. Assim como a vela é derivada do pólen de uma flor e tem um odor doce, assim também deve ser as nossas almas, ofertando o aroma doce da Graça Divina.

4. Assim como a vela, quando se queima, se mistura e alimenta a chama, assim também devemos lutar para alcançar a santificação.

5. Assim como a vela acesa ilumina a escuridão, assim deve ser a  luz de Cristo dentro de nós, para que então possamos fazer esta luz brilhar diante dos homens, e que o nome de Deus Seja Glorificado.

6. Assim como a vela dá a sua própria luz para iluminar um homem na escuridão, assim também deve a luz das virtudes, a luz do amor e da paz, caracterizar cada um de nós cristãos. E a cera que derrete simboliza a chama do nosso amor por nossos semelhantes.

São Nicodemos, o Hagiorita nos dá mais seis razões diferentes pelas quais ortodoxos acendem suas velas:

1. Para glorificar a Deus, que é Luz, assim como cantamos na Doxologia: "Glória a Deus, que nos mostrou a luz ..."

2. Para dissolver a escuridão da noite e banir para longe de nós o medo que é provocado pela escuridão.

3. Para manifestar a alegria interior de nossa alma.

4. Para dar honra aos Santos de nossa fé, imitando os primeiros cristãos dos primeiros séculos, que acenderam velas junto dos túmulos dos Mártires.

5. Para simbolizar as nossas boas obras, como o Senhor disse: "Deixe sua luz brilhar diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus." E o sacerdote também nos deu este encargo, quando do nosso Batismo.

6. Para que tenhamos  os nossos próprios pecados perdoados e consumidos, assim como os pecados daqueles por quem oramos.

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Que a Luz de Cristo ilumine as nossas vidas !


Evangelho segundo São João 2,13-22.




Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém.
Encontrou no Templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos.
Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas;
e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio».
Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa».
Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?».
Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei».
Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?».
Jesus, porém, falava do templo do seu Corpo.
Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus.

«Jesus, porém, falava do templo do seu Corpo».


Porque era profeta, Salomão erigiu um Templo de pedra e de madeira […] para o Deus vivo, que fez o céu e a Terra e cuja morada está nos Céus. […] Porque pediu Deus que Lhe fosse construído um Templo? Porque estava privado de morada? Ouçamos Estêvão no momento do seu martírio: «Foi Salomão que Lhe construiu uma casa mas o Altíssimo não habita em casa erguida pela mão do homem» (At 7,48). Então porque foi que Ele construiu ou mandou construir um Templo? Para prefigurar o corpo de Cristo. O primeiro Templo era apenas uma sombra (Col 2,17): quando a luz chegou, a sombra retrocedeu. Procuras agora o Templo construído por Salomão? É uma ruína que encontras. E porquê? Porque a realidade que ele anunciava cumpriu-se. O verdadeiro Templo, o corpo do Senhor, também caiu mas levantou-se, e de tal forma que nunca mais poderá voltar a cair. […]

E quanto aos nossos corpos? São membros de Cristo. Escutai São Paulo: «Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?» (1Cor 6,15) Quando ele diz: «Os vossos corpos são membros de Cristo», quer dizer que os nossos corpos, unidos à nossa cabeça que é Cristo (Col 1,18), constituem, juntos, um Templo único, o Templo de Deus. Com o corpo de Cristo, os nossos corpos são esse Templo. […] Deixai-vos construir na unidade, para não tombardes em ruína, permanecendo separados.



Santo Agostinho (354-430) bispo de Hipona (norte de África), Sermão Morin n.°3, 4; PLS 2, 664

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Evangelho segundo São Lucas 15,1-10.



Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem.

Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles».
Jesus disse-lhes então a seguinte parábola:
«Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar?

Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’.
Eu vos digo: Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.

Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda, até a encontrar?
Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’.

Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa».

Deus à procura de uma só ovelha para salvação de todas


O fato de encontrarmos um objeto que tínhamos perdido enche-nos de uma alegria nova cada vez que ocorre. E esta alegria é maior do que a que experimentávamos, antes de o perder, quando aquele objeto estava bem guardado. Mas a parábola da ovelha perdida fala mais da ternura de Deus do que da maneira como os homens habitualmente se comportam. E exprime uma verdade profunda: abandonar o que tem importância por amor do que há de mais humilde é próprio do poder divino, não da cobiça humana. Porque Deus faz existir o que não é; Ele parte à procura do que está perdido guardando o que deixou ficar para trás, e encontra o que se tinha transviado sem perder o que está à sua guarda.

É por isso que este pastor não é da Terra, mas do Céu. A parábola não é de forma alguma uma representação de obras humanas, mas esconde mistérios divinos, como é demonstrado cabalmente pelos números que menciona: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas...» Como vedes, a perda de uma só ovelha magoou tanto o pastor como se o rebanho inteiro, privado da sua proteção, se tivesse metido por um caminho errado. É por isso que, deixando as outras noventa e nove, ele parte à procura de uma só, [...] a fim de, nela, as encontrar e as salvar a todas.    

«O jejum é o leme da vida humana e governa todo o navio do nosso corpo».



São Pedro Crisólogo (c. 406-450)
bispo de Ravena,  Sermão 168, 4-6.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Reflexões sobre o Jejum da Natividade do Patriarca Daniel da Romênia (Bucareste, 20 de Novembro de 2017).



1. Jejuamos não para sermos vistos ou louvados por homens, mas para nos 
aproximarmos de Deus. 

2. Jejuamos, pois amamos a Deus mais do que Seus dons materiais que podemos consumir. 

3. O Perdão é uma boa forma de começarmos o Jejum. Ninguém pode, sem o 
perdão, dar início a luta espiritual pela purificação.

4. O jejum auxilia nas orações dos fiéis que consideram sua ligação com Deus 
como o centro, a luz e o alimento de suas almas. 

5. O jejum verdadeiro não consiste de apenas abster-se de produtos de origem 
animal, mas também de abster-se da ganância material e da busca por uma 
dominação egoísta sobre os outros, e também a redução de quaisquer 
pensamentos, palavras e ações que diminuem nosso amor por Deus e pelos 
outros. 

6. Se o jejum for acompanhado de ações agradáveis a Deus, ele nos torna uma 
luz para os outros e receptáculos escolhidos da glória de Deus. 

7. Jejum não é apenas uma condição material, mas também espiritual — isto é, jejum dos olhos, da boca e do coração.

8. Jejuar é o estado espiritual de sacrifício ou oferta daqueles que livremente 
jejuam de acordo com suas possibilidades. 

9. Durante o jejum, a quantidade de alimento material diminui, mas o alimento 
espiritual aumenta. 

10. O jejum auxilia nas orações, enquanto que jejum sem oração não é um 
esforço espiritual. 

11. Jejuar mitiga as paixões egoístas, ilumina o intelecto, santifica as emoções 
e muda nossas atitudes e comportamentos para com o próximo e a natureza, 
colocando tudo na vida à luz do amor de Deus.

Patriarca Daniel da Romênia.


Entrada da Santíssima Mãe de Deus no Templo.

Hoje é o prelúdio da boa vontade de Deus / e da profecia da salvação dos homens.



04 de Dezembro de 2018 (CC) / 21 de Novembro (CE).

Jejum da Natividade

Os justos Joaquim e Ana, mesmo antes do nascimento de sua filha Maria, tinham prometido dedicar a Deus a criança que Ele lhes havia concedido.  

Quando a Santíssima Virgem Maria era ainda uma jovem menina, eles a levaram ao Templo, acompanhada por virgens com lamparinas, e a colocaram no primeiro degrau da escada. De acordo com a antiga tradição, Maria subiu os quinze degraus do Templo sozinha. No topo da escada o Sumo Sacerdote a encontrou e, cheio do Espírito Santo, conduziu-a não só até o altar, mas mesmo até o Santo dos Santos onde, de acordo com a Lei, o próprio Sumo Sacerdote só podia entrar uma vez por ano. O povo ficou assombrado com essa entrada, e os anjos de Deus maravilharam-se também. 

Os Cristãos celebram esse evento em 21 de novembro como um portento de reconciliação do homem com Deus através do poder de Cristo. 

Esta festa litúrgica é celebrada nas Igrejas do Oriente desde o século VI, quando foi inaugurada uma igreja na cidade de Jerusalém em 543. Pouco a pouco foi se transformando em comemoração local para, gradativamente, estender-se por todo Oriente e implantar-se em Constantinopla, entre os séculos VII e VIII. Contribuíram para isto alguns Patriarcas como Germano e Tarásios. Embora não seja testificada pelo Evangelho, mas apenas embasada na Tradição viva da Igreja Primitiva, é celebrada com tanta piedade como as demais festas marianas do calendário litúrgico. 

A Igreja, celebrando esta festa, não quer recordar a entrada de Maria no Templo, simplesmente como fato histórico, mas quer enaltecer, mais uma vez, as virtudes de Maria que são modelos a serem seguidos por todos nós cristãos. 

A Apresentação de Maria no Templo nos apresenta dois Evangelhos ricos em significados: no Orthros, Maria declama seu "Magnificat" e, na Liturgia, Jesus visita Marta e Maria.  

Reza a Tradição que Maria, ao ser apresentada, contava com três anos de idade; e desde então se doou a Deus de maneira plena, tornando-se disponível à sua vontade. Desde o início ela foi a "Serva do Senhor" (Lc 1:38) a Quem amou e serviu com todas as forças. 
Maria preparou-se desde pequena para "tornar-se ela própria "templo" do Altíssimo. O anjo Gabriel anunciou tal realidade dizendo: "Não temas Maria, pois encontraste graça aos olhos de Deus". E a sua resposta é um célebre poema que enaltece a humildade e destrona o orgulho. 

A humildade, a simplicidade, a singeleza e a sinceridade são características frequentes em uma criança. Maria apresentou, portanto, tais atributos, os quais não a abandonaram com o seu crescimento, mas, antes, se tornaram permanentes. 

O silêncio de Maria e suas orações frequentes acolheram a vontade de Deus com amor, pois produziram dedicação. Maria cooperou na obra da Redenção dando seu "Sim", não de maneira passiva, mas numa operosa atividade. O seu "Sim" foi mantido e acentuado em toda a vida, até mesmo no Calvário onde, também ela, ofereceu seu Filho que se oferecia por nossa Salvação. 

Escolhida para ser mãe, pôs-se a serviço e se declarou serva. O mundo está cansado de palavras, de gestos ruidosos. Maria faz. No silêncio, realiza aos poucos sua parte.  
Maria é a nova Eva que gerou pelo seu "sim" o novo Adão. A primeira Eva foi a mulher do primeiro Adão e a ele prestava seus serviços como esposa dedicada, mas, porque fraca e desobediente, pecou. A Nova Eva é mãe do Novo Adão, que por amor e profundo respeito a Ele, doou-se por inteira; e porque fiel e obediente, trouxe ao mundo o perdão e a redenção. Onde havia abundado o pecado, pelo "Sim" de Maria a Graça superabundou. 
Maria é modelo de fé adulta, esclarecida, consciente. Uma fé que enfrenta todas as dificuldades, sem duvidar da presença de Deus em sua vida.  

A Festa da Entrada da Virgem Maria no Templo acontece um pouco antes da Natividade do Senhor. É um convite a uma mais profunda e esmerada preparação para que possamos viver este tempo de graça em plenitude.  

Arcipreste D. Sokolof

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Evangelho de São Lucas 12:16-21.



16 Propôs-lhes então uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produzira com abundância;  17 e ele arrazoava consigo, dizendo: Que farei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos. 18 Disse então: Farei isto: derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens; 19 e direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te. 20 Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? 21 Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus. 


“O Desprendimento das Riquezas”


Disse-lhe alguém da multidão: "Mestre, diz ao meu irmão que reparta comigo a herança". E ele respondeu: "Mas homem, quem me constituiu juiz ou repartidor entre vós?" Toda esta passagem está ordenada a como aceitar a dor para confessar ao Senhor, seja por desprezo da morte, pela esperança do prêmio ou pela ameaça de um castigo eterno que jamais deixará de ser tal. E visto que, frequentemente, acontece que a avareza é causa de tentação para a virtude, acrescenta-se também o mandamento de suprimi-la e como se deverá fazê-lo, quando diz o Senhor: Quem me constituiu juiz ou repartidor entre vós?

Aquele que havia descido por razões divinas, com toda a justiça rejeita as terrenas, e não se digna fazer-se juiz de pleitos nem repartidor de heranças terrenas, visto que ele tinha que julgar e decidir sobre os méritos dos vivos e mortos. Deves, portanto, observar não o que pedes, mas a quem pedes, e não acredites que um espírito dedicado a coisas maiores pode ser importunado por insignificâncias.

Por isso, não é sem razão que é rejeitado esse irmão que pretendia que o Dispensador dos bens celestiais se ocupasse em coisas materiais, quando precisamente não deve ser um juiz o mediador no pleito da repartição de um patrimônio, mas o amor fraterno; ainda que, na realidade, o que um homem deve buscar não é o patrimônio de dinheiro, mas o da imortalidade. Porque de forma vã reúne riquezas aquele que não sabe se poderá desfrutar delas, como aquele que, pensando em derrubar os granjeiros repletos para recolher as novas messes, preparava outros maiores para as abundantes colheitas, sem saber para quem as reunia.

Já que todas as coisas que são do mundo permanecem nele, e nos abandona tudo aquilo que entesouramos para os nossos herdeiros; e, na realidade, deixam de ser nossas todas essas coisas que não podemos levar conosco. Somente a virtude acompanha aos falecidos, somente a misericórdia nos serve de companheira, essa misericórdia que atua em nossa vida como norte e guia até as mansões celestiais, e busca conseguir para os falecidos, em troca do desprezível dinheiro, os tabernáculos eternos.

Assim o testemunham os preceitos do Senhor, quando diz: Fazei-vos amigos das riquezas injustas, para que, quando estas faltem, vos recebam nos eternos tabernáculos. Este é um preceito inteligente, cheio de sabedoria e apto para animar também aos avaros a que optem por trocar as coisas corruptíveis pelas eternas, as terrenas pelas divinas. Porém, visto que muitas vezes a entrega se entorpece pela debilidade da fé e, quando se vai repartir a herança, vem à mente a preocupação de tudo o que é necessário para a vida, o Senhor acrescenta: Não vos preocupeis de vossa vida pelo que comereis nem de vosso corpo pelo que vestireis; porque, em verdade, a alma é mais importante que o alimento e o corpo mais que as vestes.

Porque aos que creem em Deus não há melhor meio para dar-lhes confiança como esse sopro vital que é o espírito, o qual faz durar a união completa da alma e do corpo, unidade que, por outro lado, não exige nenhum trabalho nosso e que perdura, sem que falte o alimento apropriado, até chegar o dia da morte. E se a alma está vestida da roupagem do corpo e este recebe vida em virtude da energia da alma, torna-se absurdo crer que nos faltará o alimento suficiente precisamente quando recebemos o mais, que é a realidade permanente da vida.




Santo Ambrósio, bispo de Milão (séc. IV)
Tratado ao Evangelho de São Lucas in loc.