quarta-feira, 31 de outubro de 2018

São Lucas 9:23-27.



E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará. Porque, que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo? Porque, qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória, e na do Pai e dos santos anjos. E em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte até que vejam o reino de Deus.

COMENTÁRIO


“Não é Duro o Que Manda Aquele Que Ajuda a Realizar o Que Ordena”


Se alguém me quer seguir, que carregue sua cruz. Parece duro, caríssimos irmãos, e se considera como grave o que no Evangelho ordenou o Senhor, dizendo: Se alguém me quer seguir, que se negue a si mesmo. Porém não é duro o que manda aquele que ajuda a realizar o que ordena.

E para onde devemos seguir a Cristo, senão para onde Cristo está? Sabemos, de fato, que ressuscitou, que subiu ao céu: para lá devemos segui-lo. Não devemos ceder à desesperança, e não porque o homem seja capaz de algo, mas porque ele o prometeu. O céu estava muito distante de nós, até que nossa cabeça subiu ao céu. Porém, agora, como vamos desesperar de lá chegar, se somos membros daquela cabeça? E por que razão? Porque a terra é campo do medo e da dor: sigamos a Cristo em quem está a suprema felicidade, a suprema paz, a eterna segurança.

Somente quem deseja seguir a Cristo prestará atenção ao que diz o apóstolo: Quem diz que permanece em Cristo, deve viver como ele viveu. Queres seguir a Cristo? Seja humilde como ele o foi: não desprezes a sua humildade, se desejas elevar-te a sua sublimidade. O caminho se tornou pedregoso ao pecar o homem; porém, voltou a ser transitável desde que Cristo, ao ressuscitar, o aplainou; de estreitíssima trilha se tornou em estrada real. Por esta estrada se corre com os pés gêmeos da humildade e da caridade. Aqui todos aspiram aos cumes da caridade, porém o primeiro degrau é a humildade. O que é isso de queimar etapas? Queres cair, não ascender. Começa pelo primeiro degrau, o da humildade, e já começaste a ascensão.

Por isso, nosso Senhor e Salvador não se satisfez em dizer: Que se negue a si mesmo, mas acrescentou: Que carregue a sua cruz e me siga. O que significa: Que carregue a sua cruz? Suporte qualquer desgosto: e assim me siga. Bastará que me siga imitando a minha vida e cumprindo meus preceitos, para que na ocasião oportuna apareçam muitos oponentes, muitos que tentarão impedi-lo; encontrará não só muitos que zombem dele, mas também muitos perseguidores. E isto não só entre os pagãos, mas até mesmo entre aqueles que, com o corpo, parecem estar dentro da Igreja, mas que na realidade estão fora pela perversidade das obras e, ostentando unicamente do nome de cristãos, não cessam de perseguir aos bons cristãos. Portanto, se tu desejas seguir a Cristo, toma em seguida a sua cruz: suporta aos maus, mantém-te firme.

Assim, se queremos cumprir o que disse o Senhor: Quem quiser vir após mim, carregue a sua cruz e me siga, esforcemo-nos por colocar em prática, com a ajuda de Deus, o que diz o apóstolo: Tendo o que comer e o que vestir, demo-nos por satisfeitos, não nos ocorra que desejando os bens terrenos além da estrita necessidade, busquemos enriquecer-nos, nos embaracemos em mil tentações, criemos para nós necessidades absurdas e nocivas, que afundam os homens na perdição e na ruína. Que o Senhor se digne livrar-nos com sua proteção de semelhante tentação, ele que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.



São Cesário de Arles (séc. VI)


Santo Apóstolo e Evangelista Lucas.

31 de Outubro de 2018 (CC) / 18 de Outubro (CE).



São Lucas era originário da cidade de Antioquia. De nobre procedência, aplicava-se desde sua juventude a progredir na sabedoria e no estudo das ciências e das artes, viajava pelo mundo afora a fim de saciar sua sede de conhecimentos, e se destacava em particular nos domínios da ciência medicinal e na arte pitoresca. Além do grego, conhecia igualmente o hebraico e o siríaco.

Sob o reinado do Imperador Cláudio (aproximadamente 42 d.C.), ao dispensar seus cuidados aos enfermos da região de Tebas, em Beócia, depara-se com o Apóstolo Paulo, cujas palavras de fogo o convencem de que a Verdade Absoluta que ele tanto buscava se encontrava efetivamente junto aos Discípulos de Jesus Cristo.

Lucas abandona, então, sem hesitar, todos os seus bens e tudo aquilo que o prendia aos erros de seus pais, bem como a medicina dos corpos para se tornar, a exemplo de Paulo, médico das almas.

São Lucas segue o Apóstolo Paulo em suas viagens missionárias, percorrendo sem tréguas as rotas do mundo a fim de proclamar a Evangelho. Ele o acompanha até Roma para sua última viagem. É lá que, sem dúvidas, o Apóstolo Paulo lhe ordena redigir o terceiro Evangelho, dedicado a Teófilo, Governador da Acaia, que se convertera ao Cristianismo.
Um pouco mais tarde, Lucas remete a este mesmo Teófilo os «Atos dos Apóstolos». Os «Atos dos Apóstolos». narram os prodígios realizados pelo Espírito Santo junto aos Apóstolos, desde o Pentecostes até o cativeiro de Paulo em Roma.

Depois de ter se separado de seu mestre, Lucas retorna à Grécia para aí proclamar o Evangelho. Ele se fixa, novamente, na região de Tebas, onde morre em paz com a idade de oitenta anos. Existe uma tradição da Igreja que diz que São Lucas morreu sofrendo o martírio, suspenso em forma de cruz a uma oliveira pelos idólatras.

Querendo render glória ao Seu fiel servidor, Deus faz correr de seu túmulo um líquido miraculoso, que curava as doenças dos olhos daqueles que se ungiam com fé. É assim que mesmo depois de sua morte, São Lucas continua a exercer a medicina - cura.
Muitos e longos anos mais tarde, o Imperador Constâncio, filho do Grande Constantino, faz transportar a relíquia do Santo à Constantinopla por intermédio de Santo Artêmio, Duque do Egito. Ele a coloca sob o altar da Igreja dos Santos Apóstolos, junto às relíquias dos Apóstolos André e Timóteo.

Segundo a Tradição, foi São Lucas que, em primeiro lugar, pintou três imagens da Santa Mãe de Deus trazendo em Seus braços o Menino-Deus. Ele os submete à aprovação da Santa Virgem, ainda em vida. Esta acolhe com alegria as santas imagens e diz:
«Que a graça d´Aquele, Que por Mim foi gerado, esteja nelas!»

A partir de então, São Lucas representa, em imagem, os Apóstolos e transmite à Igreja esta piedosa e santa tradição da veneração dos ícones de Cristo e de Seus Santos.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

São Lucas 9:18-22.




18. Num dia em que ele estava a orar a sós com os discípulos, perguntou-lhes: Quem dizem que eu sou? 19. Responderam-lhe: Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos antigos profetas. 20. Perguntou-lhes, então: E vós, quem dizeis que eu sou? Pedro respondeu: O Cristo de Deus. 21. Ordenou-lhes energicamente que não o dissessem a ninguém. 22. Ele acrescentou: É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que ressuscite ao terceiro dia.

COMENTÁRIO

Esforça-te também tu em ser pedra. E, assim, não busques a pedra fora de ti, mas dentro de ti. Tua pedra é a tua ação; tua pedra é o teu espírito. Sobre esta pedra se edifique a tua casa, para que nenhuma tempestade dos maus espíritos possa tirá-la, tua pedra é a fé; a fé é o fundamento da Igreja. Se és pedra, estarás na Igreja, porque a Igreja está fundada sobre a pedra. Se estás na Igreja, as portas do inferno não prevalecerão sobre ti: as portas do inferno são as portas da morte, e as portas da morte não podem ser as portas da Igreja.

Porém, o que são as portas da morte, a saber, as portas do inferno, senão as diversas espécies de pecados?... Porém, Deus tem poder de abrir-te as portas da morte, para que proclames seus louvores nas portas da filha de Sião. Quanto às portas da Igreja, estas são as portas da castidade, as portas da justiça, que o justo acostume a abri-las: "Abre-me", diz, "as portas da justiça, e, tendo passado por elas, louvarei ao Senhor".

Mas, como a porta da morte é a porta do inferno, a porta da justiça é a porta de Deus; pois eis aqui a porta do Senhor, os justos entrarão por ela. Por isso, foge da obstinação no pecado, para que as portas do inferno não triunfem sobre ti; porque, se o pecado se apropria em ti, triunfou a porta da morte. Portanto, foge das brigas, divergências, das estrondosas e tumultuosas discórdias, para que não chegues a transpassar as portas da morte. 

Pois o Senhor não quis ao princípio ser proclamado, para que não se levantasse nenhum tumulto. Exortava aos seus discípulos que não dissessem a ninguém: "O Filho do homem vai padecer muito, ser rejeitado pelos anciãos, os príncipes dos sacerdotes e os escribas, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia".Talvez o Senhor acrescentou isto porque sabia que seus discípulos dificilmente haviam de crer em sua paixão e em sua ressurreição. Por isso preferiu ele mesmo afirmar sua paixão e sua ressurreição, para que nascesse a fé do fato e não da discórdia do anúncio. Então Cristo não quis glorificar-se, pois desejou aparecer sem glória para padecer o sofrimento; e tu, que nasceste sem glória, queres glorificar-te? Pelo caminho que Cristo percorreu é por onde tu deves de caminhar. 



Santo Ambrósio, Bispo de Milão (séc. IV) 

† † †

sábado, 27 de outubro de 2018

Evangelho de São Lucas: 10,25-37.



Naquele tempo, levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para O experimentar: «Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?».

Jesus disse-lhe: «Que está escrito na lei? Como lês tu?».

Ele respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo».

Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás».

Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: «E quem é o meu próximo?».
Jesus, tomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio morto.

Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante.
Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante.
Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão.
Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele.

No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’.
Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?».

O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: «Então vai e faz o mesmo».

«Ao vê-lo, encheu-se de compaixão»


Ó Senhor Jesus, que tenhas a bondade de Te aproximar de mim, movido pela piedade, Tu que, descendo de Jerusalém para Jericó, caíste das alturas para o nosso fosso, de um lugar onde os seres estão cheios de vida para uma terra de doentes. Vê: eu caí nas mãos dos anjos das trevas, que não só me despiram as vestes da graça, mas, depois de me terem dado muitos golpes, me deixaram meio morto. Que cures as chagas dos meus pecados depois de me teres dado a esperança de recuperar a saúde, não vão elas piorar se eu vier a perder a esperança na cura. Que queiras ungir-me com o óleo do teu perdão e verter sobre mim o vinho da compunção. Se me levasses na tua montada, então «erguerias o fraco da poeira» e «retirarias o pobre do lixo» (Sl 112,7).

É que Tu és Aquele que carregou os nossos pecados, Aquele que pagou por nós uma dívida que não contraíra. Se me conduzisses ao abrigo da tua Igreja, dar-me-ias como alimento a refeição do teu corpo e do teu sangue. Se tomasses conta de mim, eu não voltaria a desobedecer às tuas ordens, não atraíria mais sobre mim a raiva das feras iradas. É que preciso muito dos teus cuidados, porquanto envergo esta carne sujeita ao pecado. Escuta-me pois, a mim, o samaritano despojado e ferido, chorando e gemendo, chamando por Ti e gritando com David: «Tem piedade para mim, ó Deus, segundo a tua grande ternura».



Bulle São Gregório Magno (c. 540-604)
papa.
Exposição sobre os sete salmos da penitência, PL 79, 581.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Escola de Antioquia.


Igreja em Antioquia atual Turquia.


A escola de Antioquia tinha uma presença muito significativa de judeus-cristãos que deram características próprias a exegese e a teologia da Igreja. Os fundadores desta foram os mártires Doroteu e Luciano de Samósata. O método desta escola não é alegoria e a especulação filosófica, própria da escola Alexandrina. Esta escola de Antioquia desenvolve a exegese bíblica, com um senso de sóbria objetividade e caráter científico. A explicação das Escrituras segue o sentido literal e histórico, recorrem a filologia e a semântica. Ao lado do sentido literal, serve-se algumas vezes da interpretação tipológica  expressando as relações entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento.

A Escola de Antioquia influenciou a Escola de Edessa, onde figurou o monge Santo Efrém, o sírio. Devemos ressaltar que esta cidade protagonizou vários cismas ariano (360 d. C.).

Luciano de Samósata fundou a Escola de Antioquia. Este presbítero estabelece-se  em Antioquia por volta de 260 d. C. Destacamos Diodoro de Tarso, grande exegeta, que comentou os livros da Bíblia. Só restam fragmentos de suas obras.

Teve dois grandes discípulos: São João Crisóstomo e Teodoro de Mopsuestia . Esse grande presbitério fora também um importante guia espiritual, admirado por sua eloquência e por sua eloquência e por sua austeridade.

São Luciano Samósata.


Diodoro de Tarso


Marcos Vinícius Faria de Moraes.

O objetivo único e absoluto da vida em Cristo é a theosis...

O objetivo único e absoluto da vida em Cristo é a theosis, em outras palavras, nossa união com Deus, para que o homem - através de sua participação na energia incriada de Deus - possa se tornar “pela graça de Deus”, aquilo que Deus é por natureza (= sem princípio e sem fim). Isto é o que "salvação" significa no Cristianismo. Não é a melhoria moral do homem, mas uma recriação, uma re-construção em Cristo, do homem e da sociedade, através de uma relação existente e existencial com Cristo, que é a manifestação encarnada de Deus na História. Isto é o que as palavras do Apóstolo Paulo sugerem, em Coríntios II 5:17: “Se alguém está em Cristo, ele é uma nova criatura”. Quem está unido a Cristo é uma nova criação.

É por isso que - falando em termos cristãos - a encarnação de Deus-Logos - esta “intrusão” redentora do Deus Eterno e do Além-tempo no tempo histórico - representa o começo de um novo mundo, de (literalmente)uma “Nova Era”, que continua ao longo dos séculos, nas pessoas dos cristãos autênticos: os santos. A Igreja existe neste mundo, tanto como o “corpo de Cristo” quanto “em Cristo”, para oferecer a salvação, através da personificação desse procedimento regenerativo. Esta tarefa redentora da Igreja é cumprida por meio de um método terapêutico específico, através do qual, através da história, a Igreja atua essencialmente como uma Enfermaria universal.

Pe George Metallinos.



quinta-feira, 25 de outubro de 2018

“Aproximemo-nos de Cristo Com Fervor”





Cristo nos deu sua carne para saciar-nos, convidando-nos a uma amizade cada vez mais íntima. Aproximemo-nos, pois, a ele com fervor e com uma ardente caridade, e não incorramos em castigo. Porque quanto maiores forem os benefícios recebidos, mais gravemente seremos castigados se nos fizéssemos indignos de tais benefícios.

Os magos também adoraram este corpo recostado em um presépio. E sendo homens irreligiosos e pagãos, abandonando casa e pátria, percorreram um longo caminho, e, ao chegar, o adoraram com grande temor e tremor. Imitemos ao menos estes estrangeiros, nós que somos cidadãos do céu. Eles realmente se aproximaram com grande temor a um presépio e a uma gruta, sem descobrir nenhuma das coisas que agora te é dado contemplar. Tu, por outro lado, não o enxerga em um presépio, mas sobre um altar; não contemplas a uma mulher que o tem em seus braços, mas ao sacerdote que está de pé em sua presença e ao Espírito, transbordante de riqueza, pairando sobre os dons. Não vês simplesmente, como eles, este mesmo corpo, mas conheces todo o seu poder e sua economia de salvação, e não ignoras nada do que ele fez, pois ao ser iniciado te ensinaram detalhadamente todas estas coisas. Exortemo-nos, pois, mutuamente com um santo temor, e lhe demonstremos uma piedade muito mais profunda que a que exibiram aqueles estrangeiros, para que, não aproximando-nos a ele temerária e desconsideradamente, não tenhamos que esconder o rosto de vergonha.

Digo isto não para que não nos aproximemos, mas para que não nos aproximemos com hesitação. Porque assim como é perigoso aproximar-se com hesitação, assim a não participação nestas místicas ceias significa a fome e a morte. Porque esta mesa é a força de nossa alma, a fonte de unidade de todos nossos pensamentos, a causa de nossa esperança: é esperança, salvação, luz, vida. Se com esta bagagem saíssemos daquele sacrifício, com confiança nos aproximaríamos aos seus átrios sagrados, como se fôssemos armados até os dentes com armadura de ouro.

Talvez falo de coisas futuras? Desde agora este mistério tornou para ti a terra em um céu. Abre, pois, as portas do céu e olha; ou melhor dizendo, abre as portas não do céu, mas do céu dos céus, e então contemplarás o que foi dito. Tudo o que de mais precioso ali existe, vou mostrar-te permanecendo na terra. Porque assim como o mais precioso que existe no palácio real não são os muros nem as coberturas de ouro, mas o rei sentado no trono real, assim também no céu o mais precioso é a pessoa do Rei.

E a pessoa do Rei te é dado contemplá-la já agora na terra, pois não te apresento aos anjos, nem aos arcanjos, nem aos céus, nem aos céus dos céus, mas ao próprio Senhor de todos eles. Compreendes como na terra contemplas o que há de mais precioso? E não somente o vês, mas ainda o tocas; e não somente o tocas, mas também o comes; e depois de tê-lo recebido, regressas para a tua casa. Purifica, portanto, tua alma, prepara teu coração para a recepção destes mistérios.



São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla (séc. V)

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

São Filipe, Apóstolo dos 70 e Diácono (Séc. I).

24 de Outubro de 2018 (CC) / 11 de Outubro (CE).



Filipe era um dos sete diáconos mencionados no livro dos «Atos dos Apóstolos». Foi um dos escolhidos pelos Apóstolos em Jerusalém para assistir e atender aos mais pobres membros da igreja, de modo que a comunidade era unificada entre os Palestinos Nazarenos e os judeus Helenitas que vinham a Jerusalém de outras partes do Império Romano. O diácono também ajudava os Apóstolos nos seu deveres de modo a permitir que eles tivessem mais tempo para pregarem. 

Conforme os «Atos dos Apóstolos», Filipe foi o primeiro Nazareno a pregar na Samaria, convertendo Simão, o Mago (8:5-13) e na volta, na estrada de Jerusalém para Gaza, converteu o tesoureiro da rainha da Etiópia (231:8-9). Continuando as suas pregações ele se instalou na Cesaréa e ali viveu com suas quatro filhas virgens que são veneradas como santas (21:8-9). São Paulo ficou em sua casa quando visitou a Cesaréa. A tradição dá a ele a honra de bispo de Tralles, Lydia e algumas vezes ele é chamado de «o Evangelista» um titulo dado apenas para diferenciá-lo de um outro Filipe, o Apóstolo.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Os 26 Monges Mártires de Zographou e 4 Leigos.

23 de Outubro de 2018 (CC) / 10 de Outubro (CE).



Quando o Imperador Miguel Paleólogo, a fim de obter ajuda do Ocidente contra os búlgaros e sérvios, firmou com o Papa de Roma, a abominável «União de Lyon», os monges da Montanha Santa enviaram um protesto ao Imperador contra esta União, implorando-lhe para rejeitá-la e retornar à Ortodoxia. O Papa enviou um exército para ajudar o Imperador. O exército Latino entrou na Montanha Santa e cometeu tamanha barbárie, qual os turcos nunca tinham cometido em quinhentos anos. 

Depois de assassinar todo o Prótaton (Conselho dos Governantes do Monte Athos e de ter matado muitos monges em Vatopedi, Iveron e outros mosteiros, os latinos atacaram Zographou. O bendito Abade Thomas advertiu aos irmãos que quem desejasse ser poupado pelos latinos, deveria fugir do mosteiro, e que quem desejasse alcançar uma morte de mártir, deveria permanecer. E assim, vinte e seis homens permaneceram: o abade, vinte e cinco monges e quatro leigos que serviam como trabalhadores do mosteiro. Todos eles trancaram-se na torre do mosteiro. Quando os latinos chegaram, eles puseram fogo na torre e estes vinte e seis heróis de Cristo obtiveram no fogo uma morte de mártir. Enquanto a torre estava queimando, eles entoavam os Salmos e o Akathistos à Santíssima Mãe de Deus. Eles entregaram suas almas santas a Deus em 10 de outubro de 1283. Em dezembro do mesmo ano, o desonrado Imperador Miguell morreu na pobreza, quando o rei sérvio Milutin levantou-se contra ele em defesa da Ortodoxia.

São Lucas 7:36-50.




36Tendo sido convidado por um dos fariseus para jantar, Jesus foi à casa dele e reclinou-se, como era o costume, junto à mesa. 37Assim que tomou conhecimento que Jesus estava reunido à mesa, na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma pecadora, trouxe um frasco de alabastro cheio de perfume. 38E, posicionando-se atrás de Jesus, prostrou-se a seus pés e começou a chorar. Suas lágrimas molharam os pés de Jesus, mas ela, em seguida os enxugou com os próprios cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume. 39Diante de tal cena, o fariseu que o havia convidado falou consigo mesmo: “Se este homem fora de fato profeta, bem saberia quem nele está tocando e que espécie de mulher ela é: uma pecadora!” 40Então, voltou-se Jesus para o fariseu e lhe propôs: “Simão, tenho algo para dizer-te”. Ao que ele aquiesceu: “Sim, Mestre, dize-me”. 41“Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinquenta. 42Nenhum dos dois tinha com que pagar, por isso o credor decidiu perdoar a dívida de ambos. Qual deles o amará mais?” 43Replicou-lhe Simão: “Imagino que aquele a quem foi perdoada a dívida maior”. Ao que Jesus o congratulou: “Julgaste acertadamente!” 44Então, virou-se em direção à mulher e declarou a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me trouxeste água para lavar os pés, como é o costume. Esta, porém, molhou os meus pés com suas lágrimas e os enxugou com os próprios cabelos. 45Da mesma maneira, tu não me saudaste com um beijo na face, como é tradicional; ela, todavia, desde que cheguei não cessa de me beijar os pés. 46E mais, tu não me ungiste a cabeça com óleo, como era de se esperar, mas esta mulher, com puro bálsamo, ungiu os meus pés. 47Por tudo isso, te asseguro: o grande amor por ela demonstrado prova que seus muitos pecados já foram todos perdoados. Mas onde há necessidade de pouco perdão, pouco amor é revelado. 48Em seguida, Jesus afirmou à mulher: “Perdoados estão todos os teus pecados!” 49Então, os demais convidados começaram a comentar: “Quem é este que pode até perdoar pecados?” 50E Jesus revela à mulher: “A tua fé te salvou; vai-te em permanente paz”.


COMENTÁRIO

 Sermão sobre a mulher pecadora.




Um fariseu rogava a Jesus que fosse comer com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, recostou-se à mesa. Ó graça inenarrável! Ó inefável bondade! Ele é médico e cura todas as enfermidades, para ser útil a todos: bons e maus, ingratos e agradecidos. Por isso, convidado agora por um fariseu, entra naquela casa que até aquele momento estava repleta de males. Onde quer que morasse um fariseu, ali existia um antro de maldade, uma cova de pecadores, o aposento da arrogância. Mas mesmo que a casa daquele fariseu reunisse todas estas condições, o Senhor não se desfez de aceitar o convite. E com razão. 
Prontamente aceita o convite do fariseu, e o faz com delicadeza, sem reprovar-lhe sua conduta: em primeiro lugar, porque queria santificar os convidados, e também o anfitrião, a sua família e o próprio esplendor dos manjares. Em segundo lugar, aceita o convite do fariseu porque sabia que ampararia a uma meretriz e destacaria seu abrasador e ardente anelo de conversão, para que ela, deplorando seus pecados diante dos letrados e dos fariseus, lhe concedesse oportunidade de ensinar-lhes como se deve aplacar a Deus com lágrimas pelos pecados cometidos. 

E uma mulher da cidade, uma pecadora, diz, colocando-se detrás, junto aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe seus pés com suas lágrimas. Louvemos, pois, a esta mulher que alcançou o aplauso de todo o mundo. Ela tocou aqueles pés imaculados, compartindo com João o corpo de Cristo. Na verdade, aquele se apoiou sobre o seu peito, de onde extraiu a doutrina divina; esta, porém, se abraçou naqueles pés que por nós percorriam os caminhos da vida. 

De sua parte, Cristo – que não se pronuncia sobre o pecado, mas louva a penitência; que não castiga o passado, mas sonda o porvir –, omitindo as maldades passadas, honra a mulher, elogia sua conversão, justifica suas lágrimas e premia seu bom propósito; porém, o fariseu, ao ver o milagre fica desorientado e, trabalhado pela inveja, nega-se a admitir a conversão daquela mulher: ainda mais, solta-se em injúrias contra aquela que assim honrava ao Senhor, lança o descrédito contra a dignidade daquele que era honrado, censurando-o de ignorante: Se este fosse profeta, saberia quem é esta mulher que o está tocando. 

Jesus, tomando a palavra, dirige-se ao fariseu embrenhado em tal tipo de murmurações: Simão, tenho algo a dizer-te. Ó graça inefável! Ó inenarrável bondade! Deus e homem dialogam: Cristo apresenta um problema e estabelece uma norma de bondade, para vencer a maldade do fariseu. Ele respondeu: Fala, mestre! Um credor tinha dois devedores. Observa a sabedoria de Deus: nem sequer nomeia a mulher, para que o fariseu não falseie intencionalmente a resposta. Um, diz ele, lhe devia quinhentos denários e o outro cinquenta. Como não tinham com que pagar, ele perdoou aos dois. Perdoou aos que não tinham, não aos que não queriam: uma coisa é não ter e outra muito distinta não querer. Um exemplo: Deus não nos pede outra coisa além da conversão; por isso quer que estejamos sempre alegres e apressemo-nos em acorrer à penitência. Contudo, se tendo vontade de converter-nos, a multidão de nossos pecados revela o impróprio de nosso arrependimento, não porque não queremos, mas porque não podemos, então nos perdoa a dívida. Como não tinham com que pagar, perdoou aos dois. 

Qual dos dois o amará mais? Simão contestou: Suponho que aquele a quem ele perdoou mais. Jesus lhe “disse: Julgaste corretamente. E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês a esta mulher pecadora, à qual tu rejeitas e à qual eu acolho? Desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. Por isso te digo: seus muitos pecados estão perdoados. Porque tu, ao receber-me como convidado, não me honraste com o ósculo, não me perfumaste com unguento; esta, porém, que alcançou o esquecimento de seus numerosos pecados, honrou-me até com suas lágrimas. 

Portanto, todos os que aqui estão presentes, imitai o que ouvistes e concorrei no pranto desta meretriz. Lavai vosso corpo não com água, mas com lágrimas; não vistais o manto de seda, mas a incontaminada túnica da continência, para que consigais idêntica glória, dando graças ao Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A ele a glória, a honra e a adoração, com o Pai e o Espírito Santo agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.”



Anfilóquio de Icônio (séc. IV)

☦️☦️☦️

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

São Clemente de Alexandria

São Clemente de Alexandria.

Oriundo de família pagã, nasceu em 150 d. C. É um grande humanista cristão. Seu grande mérito é a felicidade a tradição cristã, incorporando o gênio cultural de seu tempo.
Conhece profundamente a cultura helênica e nos legou preciosas informações sobre os filósofos pré-socráticos e os seus cultos mistéricos.  Unifica em sua reflexão teológica duas condições de sua própria existência: ser grego e cristão.  Estas duas concepções de seu pensamento se harmonizam, e se completam em sua teologia. Por sua própria personalidade, que expressa abertura de espírito, entusiasmo e grande religiosidade, conquista grande simpatia entre os fiéis e os literatos de Alexandria. Seus escritos são muitos originais e elegantes, embora nem sempre siga um método lógico nas suas exposições.


Como uma vasta cultura, é pioneiro da ciência eclesiástica. Seus textos mostram grande conhecimento do Antigo Testamento, citado 1.500 vezes, do Novo Testamento, citado 2.000 vezes, e dos autores clássicos citados 360 vezes.

Sua eclesiologia ensina que a Igreja é única e universal, como uma mãe que alimenta seus filhos. Para ingressar na Igreja, os cristãos recebem o batismo, que é um mistério de regeneração e renascimento. Os batizados receberam o Cristo como alimento, na eucaristia. Quando maculados pelo pecado, os cristãos podem receber a purificação.
Obras:


Protreptico:


Trata-se de uma "exortação", como exemplo uma apelo emocional para a conversão. Escrevendo a partir do estilo literário de seu tempo, faz uma apologia de adesão a Cristo. A partir da filosofia, apresenta o caminho profético para o Logos. Esta ciência é o caminho para a sabedoria de Deus. Superando o simples gnosticismo, mostra que o Logos semeia no ser humano o desejo de eternidade, exige sua conversão e transforma a própria existência. A fé possibilita que o sagrado se revele na razão humana.





Exalta a figura de Cristo como modelo para a vida moral dos fiéis convertidos a fé. Revala-se grande educador, ao apontar caminhos para viver a mensagem evangélica cristã. Apresenta, com precisão, o modo de viver do cristão, ate mesmo de sua alimentação, vestimentas e comportamento social. Faz um delicado apelo para que os cristãos evitem vicios, sobretudo no excesso de bebidas alcoólicas, particularmente o vinho. O ideal cristão e o amor e a doação total da proprpr vida a Deus, nos irmãos.





Significa " tapeçarias" e apresenta um conjunto de notas sobre a forma de viver dos cristãos. Destaca a forma de viver dos gnósticos cristãos. Para ele, Deus transcende toda figuração iconográfica. Tudo que afirmamos de Deus e sempre inadequado a seu ministério. O conhecimento verdadeiro e a contemplação constante, baseada na simplicidade da de. Ser gnóstico é ser amigo de Deus, contempla-lo  e deixar-se contemplar por Ele, penetrar o mistério insondável de Deus. Este itinerário para Deus e motivado pelo ideal do amor, que é fruto da contemplação e da serenidade e se concretiza no martírio.

Marcos Vinícius Faria de Moraes.

Dízimo.



Décima parte da produção, ou de outros bens, que se consagram ao Senhor e se usam fins religiosos. O primeiro dízimo mencionado na Escritura é pago por Abraão ao sacerdote Melquisedeque ( Gen 14, 20). Jacó prometeu pagar dízimo por  favor todas as coisas que Deus lhe dera (Gn 28, 20-22). Os dízimos foram prescritos na Lei Mosaica (Ex 22, 29; Lev 27, 30-34). Porções dos frutos da terra e do gado deveriam ser oferecidas ao Senhor. De três em em três anos, os dízimos eram destinados a obra de caridade. Mais tarde, apareceu o costume de dar o dízimo em espécie ou o seu valor para o santuário, onde era entregue os levitas, como herança ou parte. Estes por sua vez, davam um décimo de todos os dízimos recolhidos aos sacerdotes ( Num 18, 21. 26-28). Em período de declínio religioso, o pagamento de dízimos era negligenciado. Tal acontecia em Judá, quando o rei Ezequias ordenou que os dízimos fossem pagos (II Cro 31, 4-13). Malaquias disse ao povo que eles furtavam de Deus, quando sonegaram os dízimos (Mal 3, 8-11). O costume de pagar dízimos continuou até os tempos do Novo Testamento (LC 18, 12), por exemplo consta que os escrúpulos fariseus faziam questões de pagar dízimos até das ervas do jardim (Mt 23, 23; Lc 11,42.

Marcos Vinícius Faria de Moraes.

Evangelho segundo São Lucas 10,17-24..



Naquele tempo, os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios nos obedeciam em teu nome».
Jesus respondeu-lhes: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago.
Dei-vos o poder de pisar serpentes e escorpiões e dominar toda a força do inimigo; nada poderá causar-vos dano.
Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos no Céu».

Naquele momento, Jesus exultou de alegria pela ação do Espírito Santo e disse: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
Tudo Me foi entregue por meu Pai; e ninguém sabe o que é o Filho senão o Pai, nem o que é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar».

Voltando-Se depois para os discípulos, disse-lhes: «Felizes os olhos que veem o que estais a ver, porque Eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram».

«Jesus exultou de alegria pela ação do Espírito Santo» «Fostes marcados com o selo do Santo Espírito: não o contristeis” (Ef 4,30)


Quando o homem indeciso fracassa um propósito, a tristeza toma conta da sua alma, consterna o Santo Espírito e expulsa-O. [...] Afasta pois do teu coração a tristeza e não apagues o Espírito Santo que em ti habita (1Tess 5,19), não vá Ele falar a Deus em teu desabono e abandonar-te. Porque o Espírito de Deus, que foi posto na tua carne, não suporta a tristeza nem a perturbação.

Cobre-te de alegria e faz disso um deleite: eis o que agrada a Deus, eis o que Ele acolhe favoravelmente. Pois todo o homem alegre age bem, pensa bem e espezinha a tristeza. O homem triste, ao contrário, age sempre mal; primeiro, faz o mal porque entristece o Espírito Santo, que foi dado ao homem na alegria; depois, cai na impiedade por não orar ao Senhor e não O louvar. Porque a oração do homem triste não tem força para se elevar até ao altar de Deus. [...] Tal como o vinagre misturado no vinho lhe adultera o sabor, também a tristeza misturada com o Espírito Santo enfraquece a eficácia da oração. Purifica pois o coração dessa tristeza perniciosa, e viverás para Deus, assim como todos os que se tiverem despojado da tristeza e coberto de alegria.



Bulle Hermas (século II)
O Pastor, 10.º preceito.

São Tiago, filho de Alfeu, apóstolo (séc. I).

21 de Outubro de 2018 (CC) / 09 de Outubro (CE).



São Tiago, dito «o Menor», um dos doze apóstolos, era filho de Alfeu e primo de Jesus. É identificado nos Evangelhos como «irmão do Senhor», termo esse usado pelos povos semitas para designar um grau de parentesco próximo (Mc 6,3 e Mt 13,55). Teve muita influência na comunidade de Jerusalém. Foi testemunha da Ressurreição de Jesus (I Cor 15,7) e é o provável autor da «Epístola de Tiago»; foi com ele que Paulo, depois de convertido, se foi encontrar em Jerusalém (Gl 1,18). São Tiago teve um papel importante no Concílio de Jerusalém (At 15,13-29). Morreu mártir por volta do ano 62.

II – Apóstolo de Cristo nascido em Nazaré, primo de Jesus e irmão de Judas Tadeu, também conhecido como o Desconhecido, que o evangelista Marcos chamou de o Menor para distingui-lo de Tiago, irmão de João, entra em cena como bispo de Jerusalém, após o martírio de Tiago, o Maior (42), e após o afastamento de Pedro de Jerusalém. Agricultor, era filho de Alfeu, um irmão de São José, e de Maria Cleofas, prima-irmã de Maria Santíssima.

Tornou-se um membro altamente respeitado da recém-nascida comunidade cristã em Jerusalém e é considerado o primeiro bispo de Jerusalém, cuja igreja dirigiu por cerca de vinte anos (42-62). Também chamado de o Justo pelos primeiros cristãos devido à sua grande piedade, sua imagem austera sobressai pela Epístola que dirigiu, como uma encíclica, a todas as comunidades cristãs. Pertencem a ele as tradições Judaico-Cristã preservadas no Evangelho dos Ebionitas, Evangelho dos Hebreus, Elevações de Tiago, na última Epístola Canônica de Tiago e possivelmente em outras obras associadas a seu nome como o Protevangelium, embora haja dúvidas sobre isso. A sua epístola (carta dos Apóstolos e comunidades cristãs primitivas) apresenta autênticos ensinamentos preservados na tradição apostólica oral, com fortes expressões de admoestações e cujo texto continua atualíssimo. Foi um observador das normas judaicas, defendendo que estas normas deveriam fazer parte do cristianismo. Com isso, tornou-se adversário de Paulo de Tarso nesta questão, mas também foi conciliador e um pregador fervoroso do ensino de Jesus. Seus ensinamentos deram origem à sucessão apostólica Cristã-Judaica de Jerusalém, que contribuiu para a sucessão Síria, Jacobita, Armênia e Georgiana. A sua Liturgia, que se assemelha àquela do Bispo Cyrilo de Jerusalém (386), parece ser um desenvolvimento de 5 séculos através das tradições apostólicas de Jerusalém e é ainda usada por certos ramos da ortodoxia. Durante a perseguição dos cristãos na Palestina, segundo o historiadores Hegesipo, Clemente de Alexandria e o hebreu Flavius Josephus, o apóstolo teria sido condenado por se recusar a denunciar os cristãos, sendo apedrejado até a morte, por ordem do corpo religioso do Templo, dirigido pelo sumo sacerdote Ananias.

domingo, 21 de outubro de 2018

São Lucas 7:11-16



E aconteceu que, no dia seguinte, ele foi à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos, e uma grande multidão; e, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade. E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores. E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam), e disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te. E o que fora defunto assentou-se, e começou a falar. E entregou-o à sua mãe. E de todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo.

† † †

COMENTÁRIOS

Ao ver a viúva, o Senhor Jesus... disse-lhe: Não chores. Cristo, esperança de todos os crentes, chama aos que deixam este mundo não de “mortos”, mas de “adormecidos” ao dizer: Lázaro, meu amigo dorme; o Apóstolo Paulo, por seu lado, não quer que estejamos tristes por causa dos que adormeceram. Por isso, se a nossa fé afirma que todos os que creem em Cristo, conforme a palavra do Evangelho, não morrerão jamais, nós sabemos que eles não estão mortos e que nós mesmos não morremos.

É porque, quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os que morreram em Cristo, ressurgirão primeiro. Por conseguinte, que a esperança da ressurreição nos dê coragem, pois voltaremos a ver aqueles que tínhamos perdido. Importa que acreditemos firmemente nele, quer dizer, que obedeçamos aos seus mandamentos, porque com o seu poder supremo ele acorda os mortos mais facilmente do que nós acordamos os que estão dormindo.

Eis o que nós dizemos e, entretanto, não sei por que motivo refugiamo-nos nas lágrimas, e o sentimento do pranto perturba a nossa fé. Ai de nós! A condição do homem é lamentável, e como é vã a nossa vida sem Cristo! Mas tu, ó morte, que tens a crueldade de romper a união dos esposos e de separar os que estão vinculados pela amizade, a tua força está desde já esmagada. Doravante, o teu jugo impiedoso é esmagado por aquele que te ameaçava mediante as palavras do Profeta Oseias: Ó morte, eu serei a tua morte. É por isso que, com o Apóstolo Paulo, lançamos esta provocação: Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão? Aquele que te venceu resgatou-nos, entregou a sua querida alma nas mãos dos ímpios, para fazer deles os seus queridos.

Seria muito longo relembrar tudo o que nas santas Escrituras nos deveria consolar a todos. Que nos baste acreditar na ressurreição e erguer os nossos olhos para a glória do nosso Redentor, porque é nele que nós já somos ressuscitados, como a nossa fé nos faz pensar, conforme a palavra do Apóstolo Paulo: Se morremos por ele, com ele também reviveremos.




São Bráulio de Saragoça (séc. VII)

sábado, 20 de outubro de 2018

Evangelho segundo São Lucas 10,13-16.


Naquele tempo, disse Jesus: «Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!

Porque se em Tiro e em Sidónia se tivessem realizado os milagres que em vós se realizaram, há muito tempo teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e sentando-se sobre a cinza.

Assim, no dia do Juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sidónia do que para vós.
E tu, Cafarnaum, serás elevada até ao céu? Até ao inferno é que descerás.

Quem vos escuta, escuta-Me a Mim; e quem vos rejeita, rejeita-Me a Mim. Mas quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou».

«Quem vos escuta, escuta-Me a Mim»


Alguém que ouvira o versículo «Oferece a Deus um sacrifício de louvor» (Sl 49,14), pensou: «Todos os dias, ao acordar, irei à igreja e entoarei o hino da manhã; ao final do dia, entoarei o hino da noite; e depois, em minha casa, um terceiro e um quarto hinos. Deste modo, farei todos os dias um sacrifício de louvor que oferecerei ao meu Deus». Fazer isto é bom, mas não te deixe descansado; vê que, enquanto a tua língua fala bem perante Deus, a tua vida não fale mal à sua frente. [...] Toma cuidado e não vivas mal enquanto falas bem.

Porquê? Porque Deus disse ao pecador: «Como recitas os meus mandamentos e tens a minha aliança na boca [, tu que rejeitas as minhas palavras]?» (v. 16-17) Eis o temor com que devemos falar. [...] Vós, meus irmãos, estais em segurança: se ouvirdes dizer coisas boas, é Deus que ouvis, qualquer que seja a boca que fala convosco. Mas Deus não quis deixar de repreender aqueles que falam, com receio de que adormeçam tranquilos numa vida desordenada, afirmando que falam do bem e pensando: «Deus não quererá condenar-nos, pois foi através de nós que quis dizer coisas tão boas ao seu povo». Portanto, vós que falais, quem quer que sejais, escutai o que dizeis; vós que quereis ser ouvidos, ouvi-vos primeiro. [...] Possa eu ser o primeiro a ouvir, possa eu ouvir, e ouvir melhor do que todos, «aquilo que o Senhor Deus diz em mim, pois Ele diz palavras de paz ao seu povo» (Sl 84,9).



Bulle Santo Agostinho (354-430)
bispo de Hipona (norte de África).
Discursos sobre os salmos, Salmo 49, §23

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A Bondade e Justiça Humanas Não São Boas Comparadas Com a Bondade e Justiça Divinas.



Quantas coisas são qualificadas de boas no Evangelho! Dá-se o qualificativo de bom à árvore, a um tesouro, a um homem, a um servo: “A árvore boa não pode dar frutos ruins. O homem bom tira do bom tesouro de seu coração coisas boas. Muito bem, servo bom e fiel”. É incontestável que em todos estes casos se trata de uma bondade real, não imaginária. No entanto, se dirigirmos o olhar para a bondade de Deus, nenhum deles poderá tornar-se digno do qualificativo de “bom”. Assim o afirma o Senhor: “Ninguém é bom a não ser Deus”.

Frente a ele, os próprios apóstolos – a quem o mérito de sua eleição lhes situa em muitos aspectos acima da bondade comum dos homens – são declarados maus. Na realidade, a eles se direcionam estas palavras: “Portanto, se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas para vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus, dará coisas boas para quem as pede!”

Portanto, se nossa bondade se transforma em malícia ao considerar a bondade celestial, nossa justiça, comparada à justiça divina vem a ser semelhante, como diz Isaías, a um lenço imundo: “Toda a nossa justiça é como um lenço imundo”. E se apelamos para um testemunho ainda mais evidente, eis aqui o que nos dizem os preceitos de vida da Lei: Ela – se afirma – foi dada por anjos, através de um mediador. E dela também diz São Paulo: “Portanto, a Lei é santa; e o preceito é santo, justo e bom”. Porém, a palavra divina proclama que não são bons frente à perfeição evangélica: “Foi-lhes dado preceitos que não são bons, e mandamentos nos quais não encontrarão a vida”. Ouvi ainda a São Paulo, que afirma que toda a glória da Lei se eclipsa ante a luz que reflete o Novo Testamento, até ao ponto de que frente ao esplendor do Evangelho já não merece ser glorificado: O que em outra época foi glorificado, deixa de ser glorificado frente a esta insigne glória.

A Escritura segue esta trajetória e este mesmo estilo, quando, com sinal inverso, coloca na balança os pecados dos homens. Assim, em comparação com os ímpios, justifica aos que pecaram menos, dizendo: “Tu justificaste a Sodoma”. E ainda: “Qual foi o pecado de Sodoma, tua irmã?” E também: “Israel, o infiel, parece justo em comparação da pérfida Judá.”

O mesmo acontece com todas as virtudes enumeradas mais acima. São boas e preciosas em si mesmas, porém obscurecem ante a claridade da “teoria”[1]. É que, por mais que os santos se ocupem em boas obras, muitas vezes estão envoltas em cuidados terrenos que diminuem e retardam da contemplação daquele sublime bem.



São João Cassiano (séc. V).

domingo, 14 de outubro de 2018

Evangelho segundo S. Marcos 9,38-43.45.47-48.




Naquele tempo, João disse a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco».
Jesus respondeu: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim.

Quem não é contra nós é por nós.
Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.

Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que creem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar.

Se a tua mão é para ti ocasião de pecado, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se apaga.
E se o teu pé é para ti ocasião de pecado, corta-o; porque é melhor entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena.

E se um dos teus olhos é para ti ocasião de pecado, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena,
onde o verme não morre e o fogo nunca se apaga».

«Ele não anda connosco»


«Que digais todos o mesmo, e que entre vós não haja divisões» (1Cor 1,10). As diversas partes da Igreja deixam de estar completas quando uma delas sofre e morre. Se cada Igreja fosse, por si mesma, um corpo completo, haveria numerosas assembleias e reuniões; mas elas formam um só corpo e a divisão destrói a sua unidade. […] Depois de ter denunciado este mal utilizando essa amarga palavra – divisões –, o apóstolo Paulo suaviza a sua linguagem ao acrescentar: «Sede perfeitos no mesmo espírito e no mesmo parecer.» Não se trata apenas de um acordo de palavras, mas de uma união de pensamento e de sentimentos. E, como pode acontecer que as pessoas estejam unidas em determinado ponto, mas divididas noutros, Paulo insiste: «Estai unidos de maneira perfeita» […], sede perfeitos na caridade.

Podemos estar unidos em pensamento e divididos nas ações, ter uma mesma fé sem estar ligados por uma mesma caridade. Era o que se passava em Corinto, onde uns se ligavam a um mestre, outros a outro. Paulo não lhes censura as divergências na fé, mas as diferentes maneiras de agir, as rivalidades humanas […]: «Soube que entre vós há contendas. […] Estará Cristo dividido?» (1Cor 1, 12-13).



São João Crisóstomo (c. 345-407)
presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
3.ª Homilia sobre a 1.ª Carta aos Coríntios.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Evangelho segundo S. Lucas 9,7-9.



Naquele tempo, o tetrarca Herodes ouviu dizer tudo o que Jesus fazia e andava perplexo, porque alguns diziam: «É João Batista que ressuscitou dos mortos».

Outros diziam: «É Elias que reapareceu». E outros diziam ainda: «É um dos antigos profetas que ressuscitou».

Mas Herodes disse: «A João mandei-o eu decapitar. Mas quem é este homem, de quem oiço dizer tais coisas?». E procurava ver Jesus.


«[Herodes] procurava ver Jesus»


Deus está em toda a parte, inteiríssimo, imenso. Em toda a parte está próximo, de acordo com o testemunho que dá de Si mesmo: «Sou um Deus próximo, e não um Deus distante» (Jer 23,23). O Deus que buscamos não mora longe de nós. Habita em nós como a alma no corpo, se formos para Ele membros sãos que o pecado não matou. [...] «N'Ele», diz o apóstolo Paulo, «temos a vida, o movimento, o ser» (At 17,28).

Mas quem poderá seguir o Altíssimo até ao seu ser inexprimível e incompreensível? Quem perscrutará as profundezas de Deus? Quem se arriscará a discutir a origem eterna do Universo? Quem se glorificará de conhecer o Deus infinito que tudo enche e tudo envolve, tudo penetra e tudo transcende, tudo abraça e de tudo Se esconde, Ele que «jamais alguém viu» tal qual é? (1Tim 6,16). Que ninguém tenha pois a presunção de sondar a impenetrável profundidade de Deus, o quê, o como, o porquê do seu ser. Pois isso não pode ser expresso, nem perscrutado, nem penetrado. Crê simplesmente, mas com força, que Deus é como foi e como será, pois n'Ele não há mudança.



Bulle São Columbano (563-615)
monge, fundador de mosteiros
Instrução 1,2-4; PL 80, 231-232.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

“Grande É A Prudência E A Fé Daquele Que Se Aproxima”


Aproximou-se um leproso, dizendo: Senhor, se queres, podes purificar-me. Grande é a prudência e a fé daquele que se aproxima. Porque não interrompe o discurso nem irrompe no meio dos ouvintes, mas espera o momento oportuno; aproxima-se quando Cristo desceu o monte. E lhe roga, não superficialmente, mas com grande fervor, prostrando-se aos seus pés, com verdadeira fé e com uma opinião correta sobre ele.


Porque não disse: “Se o pedes a Deus”, nem: “se oras”, mas: Se queres, podes purificar-me. Tampouco disse: “Senhor, purifica-me”; mas deixa tudo em suas mãos, lhe faz Senhor de sua cura e lhe reconhece a plenitude de poder. Mas o Senhor, que muitas vezes falou humildemente de si e abaixo do que a sua glória merece, o que disse aqui para confirmar a opinião daqueles que contemplavam admirados sua autoridade? Eu quero: fica limpo. Mesmo que o Senhor já tivesse realizado tantos e tão estupendos milagres, em nenhuma parte encontramos expressão semelhante.


Aqui, porém, para confirmar a opinião que de sua autoridade tinha tanto o povo em sua totalidade como o leproso, antepôs este: quero. E não é que o dissesse e não o fizesse prontamente, mas que a obra seguiu-se imediatamente à palavra. E não se limitou a dizer: eu quero: fica limpo, mas acrescenta: estendeu a mão e o tocou. O que é digno de ulterior consideração. Realmente, porque se realiza a cura com a vontade e a palavra, acrescenta o contato da mão? Penso que o faz unicamente para indicar que ele não estava submetido à lei, mas acima da lei, e que doravante tudo é limpo para os limpos.


Na verdade, o Senhor não veio para curar somente os corpos, mas também para conduzir a alma à filosofia. E assim como em outra passagem afirma que doravante não está mais proibido comer sem lavar-se as mãos – assentando aquela admirável lei relativa à indiferença dos alimentos –, da mesma forma nesta passagem estabelece que o importante é cuidar da alma e, sem dar atenção às purificações externas, manter a alma bem limpa, não temendo outra lepra que a lepra da alma, ou seja, o pecado. Jesus é o primeiro que toca a um leproso e ninguém o reprova.


É que aquele tribunal não estava corrompido nem os espectadores estavam exercitados pela inveja. Por isso, não somente não o caluniaram, mas, maravilhados frente à semelhante milagre, retiraram-se adorando seu poder invencível, manifestado em suas palavras e em suas obras.


Tendo-lhe, pois, curado o corpo, o Senhor ordenou ao leproso que não dissesse a ninguém, mas que se apresentasse ao sacerdote e oferecesse o prescrito na lei. E não é que o curasse de modo que pudesse subsistir alguma dúvida sobre sua cura total: mas o encarregou severamente de não dizê-lo a ninguém, para ensinar-nos a não buscar a ostentação e a vanglória. Certamente ele sabia que o leproso não se calaria e que espalharia a notícia de seu benfeitor; contudo, fez o que estava ao seu alcance.


Em outra ocasião, Jesus ordenou que não exaltassem sua pessoa, mas que dessem glória a Deus; na pessoa deste leproso queremos exaltar ao Senhor a que sejamos humildes e que fujamos da vanglória; na pessoa daquele outro leproso, pelo contrário, nos exorta a ser agradecidos e não esquecer os benefícios recebidos. E em qualquer caso nos ensina a canalizar para Deus todo louvor.



São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla (Séc. V).