terça-feira, 23 de julho de 2019

A Igreja é um hospital e não um tribunal para as almas



“A Igreja é um hospital e não um tribunal para as almas. Ela não condena em nome dos pecados, mas concede a remissão dos pecados. Nada é tão alegre em nossa vida quanto a ação de graças que experimentamos na Igreja. Na Igreja, os alegres sustentam sua alegria. Na Igreja, aqueles preocupados e entristecidos adquirem alegria. Na Igreja, os perturbados encontram alívio dos pecados ​​e descansam. “Vem”, diz o Senhor. O que poderia ser mais desejável do que encontrar essa voz? O que é mais doce que este convite? O Senhor está chamando você para a Igreja para um rico banquete. Ele transfere você das lutas para o descanso e das torturas para o alívio. Ele te livra do fardo dos seus pecados. Ele cura as preocupações com gratidão e tristeza com alegria. Ninguém é realmente livre ou alegre além daquele que vive para Cristo. Tal pessoa supera todo o mal e não teme nada! ”

(São João Crisóstomo)

sábado, 13 de julho de 2019

São Hélio do Egito.


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São Hélio viveu e morreu no quarto século. Ele foi enviado para um mosteiro quando ainda era criança. Lá ele foi criado em piedade, temperança e castidade.

Quando ele cresceu, ele foi para o deserto egípcio, onde através de suas lutas ascéticas ele alcançou grande proficiência na vida espiritual. Ele foi dotado com o dom da clarividência, e ele conhecia todos os pensamentos e disposição dos monges conversando com ele.

Grande fé, simplicidade de alma e profunda humildade permitiram a São Hélio comandar animais selvagens. Certa vez, o santo se cansou carregando uma carga pesada para o mosteiro. Ele orou e chamou um jumento selvagem para carregar seu fardo. O burro gentilmente carregou a carga até o local e foi libertado para retornar ao deserto. Em outra ocasião, quando São Hélio precisou atravessar um rio e não havia barco, ele convocou um crocodilo da água e cruzou para a margem oposta, de pé sobre as costas.

Um dos jovens noviços do mosteiro, a quem Santo Inácio visitou, pediu-lhe que o levasse para o deserto distante. Santo Inácio alertou-o sobre a grande obra, façanhas e tentações que inevitavelmente assolavam todos os eremitas, mas desde que o noviço continuou fervorosamente a perguntar, ele o levou junto. Na primeira noite, o noviço, assustado com terríveis visões, correu para São Hélio. O monge consolou-o e acalmou-o e ordenou-lhe que voltasse. Traçando o sinal da cruz sobre a caverna, o monge disse ao jovem eremita que não temesse, porque ele não seria mais perturbado por essas aparições. Confiando na palavra do santo, o noviço decidiu permanecer na solidão e depois alcançou tal perfeição que ele, como seu professor Hélio, recebeu comida de um anjo.

São Hélio entrou pacificamente nas mansões celestiais depois de atingir uma idade avançada.

Ícone da Mãe de Deus “É Realmente Conhecer”

Ícone da Mãe de Deus


O ícone “É verdadeiramente verdadeiro” da Mãe de Deus está no lugar alto do altar da igreja catedral do mosteiro de Karyes, no Monte Athos.

Certa noite de sábado, um ancião foi a Karyes para a vigília que durou toda a noite. Ele saiu, instruindo seu discípulo a ficar para trás e ler o serviço em sua cela. Quando escureceu, o discípulo ouviu uma batida na porta. Quando ele abriu a porta, ele viu um monge desconhecido que se chamava Gabriel, e ele o convidou para entrar. Eles ficaram diante do ícone da Mãe de Deus e leram o culto juntos com reverência e remorso.

Durante a Nona Ode do Cânon, o discípulo começou a cantar “Minha alma magnifica o Senhor ...” com o Irmos de São Cosme, o Hinógrafo (14 de outubro), “Mais honroso que os Querubins ...”

O estranho cantou o próximo verso: “Pois Ele considerou o estado baixo da Sua serva ...” Então ele entoou algo que o discípulo nunca tinha ouvido antes, “É verdadeiramente um encontro para te abençoar, ó Theotokos, sempre abençoado e mais puro, e a Mãe do nosso Deus ... ”Então ele continuou com:“ Mais honroso do que os querubins ... ”

Enquanto o hino estava sendo cantado, o ícone do Theotokos brilhou com uma luz celestial. O discípulo foi movido pela nova versão do familiar hino e pediu a seu convidado que escrevesse as palavras para ele. Quando o estranho pediu papel e tinta, o discípulo disse que eles não tinham nenhum.

O estranho pegou uma telha e escreveu as palavras do hino em sua superfície com o dedo. O discípulo sabia então que este não era um monge comum, mas sim o Arcanjo Gabriel. O anjo disse: “Cante desta maneira, e todos os ortodoxos também”. Então ele desapareceu, e o ícone da Mãe de Deus continuou a irradiar luz por algum tempo depois.

O Eleousa Ícone da Mãe de Deus, antes do qual o hino “É verdadeiramente conhecer” foi cantado pela primeira vez, foi transferido para o katholikon em Karyes. O azulejo, com o hino escrito sobre ele pelo Arcanjo Gabriel, foi levado a Constantinopla quando São Nicolau Crisólomo (16 de dezembro) era o Patriarca.

Numerosas cópias do ícone “É verdadeiramente cumprido” são reverenciadas nas igrejas russas. No Galerna Harbour of Peterburg, uma igreja com cinco cúpulas foi construída em homenagem à Misericórdia de Deus e, nela, eles colocaram uma cópia em graça do ícone “É Verdadeiramente Encontro” enviado de Athos.

Evangelho segundo São Mateus 10,24-33.




Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: «O discípulo não é superior ao mestre, nem o servo é superior ao seu senhor.
Ao discípulo basta ser como o seu mestre e ao servo ser como o seu senhor. Se ao chefe da família chamaram Belzebu, quanto mais aos da sua casa?
Não tenhais medo dos homens, pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nada há oculto que não venha a conhecer-se.
O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido proclamai-o sobre os telhados.
Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes Aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo.
Não se vendem dois passarinhos por uma moeda? E nem um deles cairá por terra sem consentimento do vosso Pai.
Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
Portanto, não temais: valeis muito mais do que todos os passarinhos.
A todo aquele que se tiver declarado por Mim diante dos homens, também Eu Me declararei por ele diante do meu Pai que está nos Céus.
Mas àquele que Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos Céus».

Declarar-se por Cristo diante dos homens 


Todos os dias podes ser testemunha de Cristo. Foste tentado pelo espírito da impureza, mas [...] não quiseste macular a castidade do espírito nem do corpo: és mártir, ou seja, testemunha de Cristo. [...] Foste tentado pelo espírito do orgulho, mas, vendo o pobre e o indigente, foste tomado por uma terna compaixão e preferiste a humildade à arrogância: és testemunha de Cristo. Mais que isso: não deste o teu testemunho apenas com palavras, mas também com obras.

Qual é o testemunho mais autêntico? «Todo o espírito que confessa Jesus Cristo, que veio em carne mortal» (1Jo 4,2), e que observa os preceitos do Evangelho. [...] Quantos serão, em cada dia, estes mártires escondidos de Cristo, que confessam o Senhor Jesus! O apóstolo Paulo, que conheceu esse martírio e o testemunho de fé em Cristo, disse: «Este é o nosso motivo de glória: o testemunho da nossa consciência» (2Cor 1,12). Quantos confessam a fé exteriormente mas a negam interiormente! [...] Por conseguinte, sede fiéis e corajosos nas perseguições interiores, para triunfardes igualmente nas perseguições exteriores. Pois também nas perseguições interiores há «reis e governadores», juízes de poder temível. Olhai para as tentações sofridas pelo Senhor (Mt 4,1ss.).



Santo Ambrósio (c. 340-397)
bispo de Milão, Homília 20 sobre o salmo 118.


domingo, 7 de julho de 2019

Nosso jejum, tão limitado ...


Nosso jejum, tão limitado que seja, se ele é um verdadeiro jejum, conduzirá à tentação, à fraqueza, à dúvida e à irritação. Em outros termos, será um combate real e provavelmente sucumbiremos muitas vezes. Todavia, o aspecto essencial do jejum é justamente a descoberta da vida cristã enquanto luta e esforço. Uma vez que o fato de não ultrapassar as dúvidas e a tentação é raramente real. Progresso algum na vida cristã é, infelizmente, possível sem a amarga experiência da derrota. É precisamente durante esta primeira queda que se situa o verdadeiro teste: se, depois de ter fraquejado e dado livre curso aos nossos apetites e as nossas paixões, não nos remetemos corajosamente à tarefa, sem abandonar, qualquer que seja o número de vezes em que fraquejamos, cedo ou tarde, nossoa jejum produzirá seus frutos espirituais. Não existe atalho para se alcançar a santidade: devemos pagar o preço de cada passo, de antemão.



pelo Protopresbítero Alexandre Schmemann
traducao de monja Rebeca (Pereira)

Evangelho segundo São Mateus 9,1-8.



Naquele tempo, Jesus subiu para um barco, atravessou o mar e foi para a cidade de Cafarnaum.
Apresentaram-Lhe então um paralítico que jazia numa enxerga. Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico: «Filho, tem confiança; os teus pecados estão perdoados».
Alguns escribas disseram para consigo: «Este homem está a blasfemar».
Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: «Porque pensais mal em vossos corações?
Na verdade, que é mais fácil: dizer: "Os teus pecados estão perdoados" ou dizer: "Levanta-te e anda"?
Pois bem. Para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, levanta-te», disse Ele ao paralítico, «toma a tua enxerga e vai para casa».
O homem levantou-se e foi para casa.
Ao ver isto, a multidão ficou cheia de temor e glorificava a Deus por ter dado tal poder aos homens.

Levanta-te e anda»


«E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais» (Rom 8,11). Agora é um corpo humano natural; depois será um corpo espiritual. Pois «o primeiro homem, Adão, foi feito um ser vivente e o último Adão um espírito que vivifica» (1Cor 15,45). Eis a razão pela qual «Ele dará a vida aos vossos corpos mortais, por causa do Espírito que habita em vós».

Ah! Que feliz aleluia cantaremos então! Que segurança! Já não haverá adversário, nem inimigo; não perderemos nenhum amigo. Aqui na Terra, cantamos os louvores de Deus no meio de preocupações; no Céu, cantá-los-emos em perfeita tranquilidade. Aqui, cantamo-los em face da morte; no Céu, teremos uma vida que não acaba. Aqui, na esperança; no Céu, na realidade. Aqui, somos viajantes; lá, estaremos na nossa pátria. Cantemos portanto, desde agora, irmãos, não para saborear o repouso, mas para aligeirar o nosso trabalho. Cantemos como o fazem os viajantes. Canta, mas sem parar de andar; canta para te reconfortares das fadigas. [...] Canta e anda!

O que quer dizer «anda»? Quer dizer segue em frente; faz progressos no bem. [...] Vai em frente, caminhando para o bem; avança na fé e na pureza de costumes. Canta e aanda! Não te extravies; não voltes atrás; não fiques parado. Voltemo-nos para o Senhor.



Santo Agostinho (354-430)
bispo de Hipona (norte de África),
Sermão 256 para a Páscoa

Evangelho segundo São Mateus 9,14-17.



Naquele tempo, os discípulos de João Batista foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: «Por que motivo nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?».
Jesus respondeu-lhes: «Podem os companheiros do esposo ficar de luto, enquanto o esposo estiver com eles? Dias virão em que o esposo lhes será tirado: nesses dias jejuarão.
Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho, porque o remendo repuxa o vestido e o rasgão fica maior.

Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás, os odres rebentam, derrama-se o vinho e perdem-se os odres. Mas deita-se o vinho novo em odres novos e assim ambas as coisas se conservam».


Com fome e sede por amor ao Esposo


A alma que verdadeiramente ama a Deus e a Cristo, ainda que tenha feito miríades de boas obras, considera que nada fez, pela sua fome insaciável de Deus. Ainda que tinha esgotado o seu corpo em jejuns e vigílias, julga não se ter ainda iniciado na virtude. A despeito dos dons do Espírito Santo, das revelações e dos mistérios celestes que recebeu, pensa nada ter ainda feito, por causa do seu imenso amor pelo Senhor. Continua, pois, a ter fome e sede, na fé e no amor.

Perseverando na oração, deseja insaciavelmente os mistérios da graça e a aquisição de todas as virtudes. Abençoada em amor pelo Espírito celeste, animada por um desejo ardente do seu Esposo celeste, aspira à graça de uma comunhão perfeita, misteriosa e inefável com Ele, na santificação do Espírito. Ela aguarda que os véus se afastem do seu rosto, paara ver o seu Esposo face a face, na luz espiritual e indizível, estando unida a Ele com toda a segurança, para ser transformada à imagem da sua morte. No seu grande desejo de morrer por Cristo, espera com a certeza de ser libertada do pecado e das trevas das paixões. Assim purificada pelo Espírito, santificada no corpo e na alma [...], torna-se digna de acolher o verdadeiro Rei, que é o próprio Cristo.



Homilia atribuída a São Macário, o Grande, bispo do Egito, eremita († c. 390).
Homilia espiritual 10, 4

sábado, 6 de julho de 2019

Precursor na morte como na vida.



Ilustre precursor da graça e mensageiro da verdade, João Baptista, tocha de Cristo,
torna-se evangelista da Luz eterna.
O testemunho profético que não cessou de dar
com a sua mensagem, com toda a sua vida e a sua actividade, assinala-o hoje com o seu sangue e o seu martírio.
Sempre tinha precedido o Mestre:
ao nascer, anunciara a Sua vinda a este mundo.
Ao baptizar os penitentes do Jordão, tinha prefigurado Aquele que vinha instituir o Seu baptismo.
E a morte de Cristo redentor, seu Salvador, que deu a vida ao mundo,
também João Baptista a viveu antecipadamente, derramando o seu sangue por Ele, por amor.

Bem pode um tirano cruel metê-lo na prisão e a ferros; em Cristo, as correntes não conseguem prender aquele que um coração livre abre para o Reino.
Como poderiam a escuridão e as torturas de um cárcere sombrio dominar aquele que vê a glória de Cristo, e que recebe Dele os dons do Espírito? Voluntariamente oferece a cabeça ao gládio do carrasco; como pode perder a cabeça aquele que tem a Cristo por seu chefe?

Hoje sente-se feliz por completar o seu papel de precursor com a sua partida deste mundo.
Aquele de Quem dera testemunho em vida, Cristo que vem e que já aqui está, hoje o proclama a sua morte.Poderia a mansão dos mortos reter esta mensagem que lhe foge? Alegram-se os justos, os profetas e os mártires, que com ele vão ao encontro do Salvador.
Todos eles rodeiam João com amor e louvores.
E com ele suplicam a Cristo que venha finalmente ter com os Seus.

Oh grande precursor do Redentor! Ele não tarda, Aquele que te libertará para sempre da morte. Conduzido pelo teu Senhor,entra na glória com os santos!


São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge.
Hino ao Martírio de São João Baptista; PL 94, 630)

sexta-feira, 5 de julho de 2019

«Arranjai amigos com o dinheiro desonesto»



Esses amigos que nos obterão a salvação são evidentemente os pobres porque, segundo a palavra de Cristo, será Ele mesmo, autor da recompensa eterna, a colher neles os serviços que a nossa caridade lhes tiver prestado. Desde logo os pobres acolher-nos-ão bem, não em seu próprio nome, mas em nome d’Aquele que neles prova o fruto refrescante da nossa obediência e da nossa fé. Aqueles que conseguem realizar esse serviço de amor serão recebidos nas moradas eternas do Reino dos céus, visto que Cristo lhes dirá: «Vinde, benditos de Meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber» (Mt 25, 34). […]

E, por fim, o Senhor acrescenta: «Se não fordes dignos de confiança nos bens dos outros, quem vos confiará o que é vosso?» Com efeito, nada do que existe neste mundo nos pertence verdadeiramente. Porque nós, que esperamos a recompensa futura, somos convidados a conduzir-nos na terra como hóspedes e como peregrinos, para que possamos dizer ao Senhor com segurança: «Diante de Ti sou como um estrangeiro, um hóspede, como os meus antepassados» [Sl 39 (38), 13].

Mas os bens eternos pertencem realmente aos crentes. Estão no céu, onde sabemos que estão «o nosso tesouro e o nosso coração» (Mt 6, 21), e onde – é nossa íntima convicção – vivemos desde já pela fé. Porque, de acordo com o ensinamento de São Paulo, «a cidade a que pertencemos está nos céus» (Fl 3, 20).



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São Gaudêncio de Brescia (?-depois de 406), bispo.
Sermão 18; PL 20, 973-975 (a partir da trad. de Delhougne, Les Pères commentent, p. 442)

quarta-feira, 3 de julho de 2019

O "RACISMO" EM UMA PERSPECTIVA ORTODOXA:



"Cristo Deus veio até nós, sofreu, foi crucificado e ressuscitou dos mortos: tudo isto para a salvação do mundo, em benefício de cada pessoa. 

Portanto, não há lugar para o nacionalismo ou para o sectarismo ... Toda pessoa é significativa diante de Deus, quer ele conheça a Deus ou não, qualquer que seja sua nacionalidade, raça ou religião. A Bíblia Sagrada afirma a dignidade de cada pessoa criada à imagem de Deus. É verdade que os judeus eram conhecidos como "o povo escolhido de Deus". Este foi apenas um estágio histórico em que Deus os usou como um meio para entrar na sociedade e fazer com que todas as nações que acreditam n'Ele sejam Sua própria nação. Portanto, o apóstolo Paulo diz: "Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3:28). 

De fato, Cristo - se uma pessoa O conhece e acredita nEle ou não, O conhece e crê nEle - é semeado no coração de todo ser humano e até traçado sobre cada feição humana. 

Em suas Instruções Espirituais, São Doroteu diz: "Suponha um círculo cujo centro é Deus e cujos raios são caminhos diferentes. Toda pessoa do mundo criado caminha ao longo de um dos raios em direção ao centro, onde Cristo é Deus (não importa se a pessoa percebe isso ou não). Ele se aproxima de seu irmão, caminhando por um raio diferente em direção a Deus, O próprio centro. Quanto mais eles se distanciam um do outro, mais eles se distanciam de Deus ". 

O comportamento racista está enraizado na realidade do pecado desde o inicio da humanidade. Um ditado conhecido entre os gregos é "aquele que não é grego é um bárbaro". Esse racismo está enraizado em nosso sangue, nós seres humanos fracos, mas aqueles que acreditam em Cristo o rejeitam e combatem com as palavras do Evangelho:  
" Ame seus inimigos, abençoe aqueles que o amaldiçoam e ore por aqueles que o perseguem "(Mateus 5:44). 

"Toda semente de Adão é destinada à salvação, tendo sido renovada em Cristo", segundo Santo Irineu. As pessoas enxergaram nos primeiros cristãos uma "terceira raça", como diz Tertuliano, no sentido espiritual. Isto é, um "novo povo" em quem as duas raças, judeus e pagãos, se encontram. Portanto, o Cristianismo rejeita toda forma de racismo ou discriminação religiosa. Meu vizinho não é apenas a pessoa da minha tribo, o meu bairro ou da minha religião. Pelo contrário, ele é toda pessoa que eu conheço ao longo do meu caminho. Portanto, devemos respeitar os estranhos e aceitar o diálogo, a participação e a cooperação com outras etnias. 
[...]
Cristo participou da salvação de todos os excluídos, como os samaritanos e pagãos, como a mulher cananeia, e assim devemos imitá-Lo. "



+ Ephrem 
Metropolita de Trípoli, al-Koura e suas dependências

Evangelho segundo São Mateus 8,23-27.



Naquele tempo, Jesus subiu para o barco e os discípulos acompanharam-n’O.
Entretanto, levantou-se no mar tão grande tormenta que as ondas cobriam o barco. Jesus dormia.
Aproximaram-se os discípulos e acordaram-n’O, dizendo: «Salva-nos, Senhor, que estamos perdidos».
Disse-lhes Jesus: «Porque temeis, homens de pouca fé?». Então levantou-Se, falou imperiosamente ao vento e ao mar e fez-se grande bonança.
Os homens ficaram admirados e disseram: «Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?».

Pede ajuda a Jesus Cristo


Temos de orientar o nosso ardor para aqueles demónios que, na ordem da razão, nos odeiam e exercem o seu ardor contra nós. Quanto à maneira de travar, de acordo com as circunstâncias, esta guerra que está em nós, ouve e faz o seguinte: junta a oração à vigilância sóbria, porque a vigilância purifica a oração e a oração purifica a vigilância. A vigilância sóbria, que não cessa de velar, deteta aqueles que entram, e atrasa um momento a sua entrada; depois, pede socorro ao Senhor Jesus Cristo, para que Ele expulse os inimigos. A atenção impede-os de entrar, opondo-se a eles; e Jesus, quando invocado, expulsa os demónios e os seus fantasmas.

Aplica grande rigor na guarda da tua inteligência. Quando tiveres consciência de um pensamento, refuta-o; mas pede imediatamente ajuda a Cristo. Mesmo antes de teres acabado de falar, o doce Jesus dir-te-á: «Vim tratar da tua defesa». E, quando a tua oração tiver derrotado todos os teus inimigos, vela sobre a tua inteligência. Eis que vagas ainda mais numerosas que as primeiras se aproximam uma após outra, e sobre elas voga a tua alma. Mas Jesus acorre, despertado pelo seu discípulo, e ordena em Deus que os ventos se acalmem (cf Mt 8,23--27). Por estas graças, consagra uma hora, se puderes, ou um instante a glorificar Aquele que te salvou.



Filoteu do Sinaíta
monge e hegúmeno do mosteiro da Sarça Ardente
Capítulos népticos, nos. 25-26

terça-feira, 2 de julho de 2019

Ao ouvirmos a voz do Apóstolo que...



Aouvirmos a voz do Apóstolo que nos dirige as palavras: “Para nós, nossa cidade se encontra no céu, de onde esperamos ardentemente como Salvador o Senhor Jesus Cristo” nos recordamos que lá também, nas alturas, habitam os nossos familiares e os nossos concidadãos, os Santos – que não guardam o silêncio ao nos aguardarem e nem permanecem inativos: antes, agem, assistem e confirmam a Igreja terrestre. Eles vêm, constantemente, ao socorro dos homens por meios celestes, visitando-os, consolando-os, por aparições, visões e milagres. São eles a companhia cotidiana dos fiéis que, dessa forma reforçados e revigorados na alegria, progridem em experiência e em graças, podendo seu espírito então contemplar e percorrer os locais acessíveis e inacessíveis em uma dimensão sobrenatural.

Tudo isso, todavia, não deixa de ser um prelúdio e preparação à nossa definitiva co-habitação com eles e à nossa estadia com Deus. Pois que o Corpo de Cristo é um, a cabeça e os membros são de fato um, em um só corpo, todos juntos em Cristo. Eis porque na Igreja a ignorância e a negligência dos Santos é algo de estranho e anormal, o quê, em contrapartida é uma necessidade natural, é o conhecimento, a comunhão e a familiaridade com os Santos. Desde ao longo dos séculos, a leitura das Vidas dos Santos foi, é e será, juntamente com a Liturgia e os santos ícones, a principal fonte do ensinamento e da educação na Igreja.



Arquimandrita Emilianos de Simonopetra

Ditos dos Pais do Deserto



Antônio disse: "Eu vi as armadilhas que o inimigo espalha pelo mundo e eu disse gemendo: 'O que consegue passar por essas armadilhas?'. Então eu ouvi uma voz me dizendo: 'A humildade'."

+ Ditos dos Pais do Deserto

Evangelho segundo São Mateus 5,13-19.



Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte;
nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa.
Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus.
Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar.
Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra.
Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus».

«Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens»


O Senhor tinha chamado aos seus discípulos «sal da terra», porque eles despertariam, com o paladar da sabedoria celeste, os corações dos homens amortecidos pelo demónio. Agora chama-lhes «luz do mundo» porque, iluminados por Ele, que é a luz eterna e verdadeira, se tornarão, por sua vez, uma luz nas trevas (Jo 1,5). Porque Ele próprio é o «Sol da justiça» (Mal 3,20), pode também chamar aos seus discípulos «luz do mundo»; é através deles, como raios incandescentes, que o Senhor derrama a luz do conhecimento sobre a Terra inteira. Com efeito, eles expulsarão as trevas do erro para longe do coração dos homens, mostrando-lhes a luz da verdade.

Iluminados por eles, também nós, de trevas que éramos, nos tornámos luz, como diz São Paulo: «Outrora éreis trevas; agora, no Senhor, tornastes-vos luz. Vivei como filhos da luz» (Ef 5,8). E também: «Não pertenceis à noite nem às trevas; sois filhos da luz, filhos do dia» (1Tes 5,5). São João teve razão ao afirmar na sua carta: «Deus é luz»; aquele que permanece em Deus está na luz, tal como Ele mesmo está na luz (1Jo 1,5-7). Uma vez que temos a alegria de ter sido libertados das trevas do erro, devemos viver na luz e caminhar na luz, como verdadeiros filhos da luz.



São Cromacio de Aquileia, Itália, bispo.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

: PRELÚDIO DA CRUZ

O SÁBADO DE LÁZARO




“Tendo completado o percurso dos 40 dias... nós suplicamos ver a Semana Santa da tua paixão.”

É com essas palavras, cantadas nas vésperas da sexta-feira de Ramos, que termina a quaresma, e que entramos na comemoração anual dos sofrimentos de Cristo, de sua morte e de sua ressurreição. Ela começa no sábado de Lázaro. A festa da ressurreição de Lázaro, somada à da entrada do Senhor em Jerusalém, é chamada nos textos litúrgicos: “Prelúdio da Cruz.” É portanto no contexto da grande semana que o significado desta festa dupla fica mais claro. O tropário comum à esses dois dias nos diz:

“Ressuscitando Lázaro, o Cristo confirmou a verdade da Ressureição Universal.”

Aqueles que estão familiarizados com a liturgia ortodoxa, conhecem o caráter singular e paradoxal dos ofícios desse sábado de Lázaro. Esse sábado é celebrado como um domingo, quer dizer que se celebra aí o ofício da Ressurreição quando, normalmente, o sábado é consagrado à comemoração dos defuntos. A alegria que ressoa no ofício sublinha o tema principal: a vitória próxima de Cristo sobre o Hades. Na Bíblia, o Hades significa a morte e seu poder universal, a noite inevitável e a destruição que traga toda a vida, envenenando com suas trevas devastadoras o mundo inteiro. Mas eis que, pela ressurreição de Lázaro, “a morte começa a tremer”; é o começo de um duelo decisivo entre a vida e a morte, um duelo que nos dá a chave de todo o mistério litúrgico da Páscoa. Para a Igreja primitiva, o sábado de Lázaro era, o “anúncio da Páscoa”; de fato, esse sábado proclama e já faz aparecer a maravilhosa luz e a paz do sábado seguinte: o grande e santo Sábado, o dia do túmulo vivificante que dá a vida.

Compreendemos logo que Lázaro, “o amigo de Jesus,” personifica cada um de nós e toda a humanidade, e que Betânia, “a casa” do homem Lázaro, é o símbolo de todo o universo, habitat do homem. Todo homem foi criado amigo de Deus e chamado a esta amizade divina que consiste no conhecimento de Deus, na comunhão com ele, o compartilhar da mesma vida: “A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens” (João 1:4). E portanto este amigo bem amado de Deus, criado por amor, ei-lo destruído, aniquilado por um poder que Deus não criou: a morte. Deus é afrontado em sua obra por um poder que a destrói e torna nulo seu desígnio. A criação é apenas tristeza, lamentação, lágrimas e finalmente morte. Como é possível? Essas questões se encontram latentes no texto detalhado que João nos faz da vinda de Jesus à tumba de seu amigo. “Uma vez chegado à tumba de seu amigo,” diz o evangelista, “Jesus chorou” (João 11:35). Por que ele chora, uma vez que ele sabe que dentro de um instante ele ressuscitará Lázaro à vida?

Os hinógrafos bizantinos não souberam compreender o sentido verdadeiro dessas lágrimas, atribuindo-as à sua natureza humana, uma vez que, de sua natureza divina ele detinha o poder de ressuscitar os mortos. Entretanto, a Igreja ortodoxa ensina claramente que todas as ações de Cristo são teândricas, isto é, ao mesmo tempo divinas e humanas, sendo as ações do único e mesmo Deus-Homem, o Filho de Deus encarnado. É o Homem-Deus que vemos chorar, é o Homem-Deus que fará sair Lázaro de seu túmulo. Ele chora. . . são lágrimas divinas; ele chora porque contempla o triunfo da morte e da destruição da criação saída das mãos de Deus. “Ele já cheira mal,” dizem os judeus, como para impedir Jesus de se aproximar do corpo; terrível advertência que vale para todo o universo, para toda a Vida. Deus é Vida e Doador de Vida, ele chamou o homem para esta realidade divina da vida, e eis “que ele cheira mal.” O mundo foi criado para refletir e proclamar a glória de Deus, e eis “que ele cheira mal”! No túmulo de Lázaro Deus encontra a morte, a realidade da antivida, da destruição e do desespero. Ele se encontra face à face com seu Inimigo que lhe arrebatou a criação, que era sua, para tornar-se o Príncipe. Nós que seguimos Jesus se aproximando do túmulo, entramos com ele na sua Hora, aquela que ele anunciou frequentemente como o apogeu e o cumprimento de toda sua obra. Neste curto versículo do Evangelho: “Jesus chorou,” é a Cruz que é anunciada, sua necessidade e seu significado universal. Compreendemos agora que é porque “Jesus chorou,” melhor dizendo porque ele amava seu amigo Lázaro, que ele tem o poder de o chamar à vida. A ressurreição não é a simples manifestação de um poder divino, mas antes o poder de um amor, o amor tornado poder. Deus é Amor e Amor é Vida, ele é criador de vida. . . É o Amor que chora sobre o túmulo e é o Amor também que dá a vida; lá está o sentido das lágrimas divinas de Jesus. Elas nos mostram o amor de novo à obra, recriando, resgatando e restaurando a vida humana presa das trevas: “Lázaro, sai para fora!...”

Eis porque esse sábado de Lázaro inaugura ao mesmo tempo a cruz como supremo sacrifício de Amor, e a ressurreição como seu último triunfo:

“O Cristo é para todos alegria, verdade, luz e vida, Ele é a ressurreição do mundo, nele o amor apareceu para aqueles que estão na terra, imagem da ressurreição, concedendo a todos o perdão divino.” (Kondakion do Sábado de Lázaro)

 Arquimandrita Placide (Deseille)