domingo, 29 de julho de 2018

9º Domingo Depois de Pentecostes.

São Mateus 14:22-34


22 Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco, e passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões. 23 Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho. 24 Entrementes, o barco já estava a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. 25 À quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar. 26 Os discípulos, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, assustaram-se e disseram: É um fantasma. E gritaram de medo. 27 Jesus, porém, imediatamente lhes falou, dizendo: Tende ânimo; sou eu; não temais. 28 Respondeu-lhe Pedro: Senhor! se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas. 29 Disse-lhe ele: Vem. Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus. 30 Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me. 31 Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste? 32 E logo que subiram para o barco, o vento cessou. 33 Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Deus. 34 Ora, terminada a travessia, chegaram à terra em Genezaré.



“Coragem! Sou Eu!”

Se em alguma ocasião chegássemos a tombar no recife das tentações, recordemos que foi Jesus quem nos mandou subir na barca da prova, e que quer que lhe precedamos na margem oposta. Pois é impossível, para quem não passou pela tentação das ondas e do vento contrário, chegar àquela margem. Assim, quando nos víssemos cercados por múltiplas dificuldades, e mediante um esforço moderado tivéssemos de certa forma conseguido esquivar-se delas, imaginemos que nossa barca se encontra em mar aberto, sacudida pelas ondas que desejariam fazer-nos naufragar na fé ou em alguma outra virtude. Porém, quando víssemos que é o espírito do mal que ataca-nos, então temos de concluir que o vento nos é contrário.

Contudo, quando suportando o vento contrário tivessem transcorrido as três vigílias da noite, isto é, das trevas que acompanham a tentação, lutando intrepidamente de acordo com as nossas forças, procurando escapar ao naufrágio da fé – a primeira vigília representa o pai das trevas e do pecado; a segunda seu filho, “o adversário”, em revolta contra tudo o que traz o nome de Deus ou o que é objeto de adoração; a terceira, o espírito inimigo do Espírito Santo –, estejamos seguros que, vindo a quarta vigília, quando a noite vai adiantada e está prestes a amanhecer, o Filho de Deus virá junto a nós, caminhando sobre as ondas para acalmar o nosso mar agitado. E quando víssemos que o Verbo nos aparece, talvez nos assustemos antes de percebermos de que estamos na presença do Salvador, e, crendo ver um fantasma, gritaremos atemorizados, mas ele nos dirá em seguida: Coragem, sou eu, não tenham medo!

E se entre nós se encontrar outro Pedro, mais fortemente comovido pelas palavras de coragem do Senhor, esse Pedro em caminho para uma perfeição que ainda não alcançou, descendo da barca – como fugindo da tentação que o acometia – em um primeiro momento andou querendo aproximar-se de Jesus sobre as águas; porém, sendo a sua fé ainda insuficiente, e agitado pela dúvida, sentirá a força do vento, sentirá medo e começará a afundar. Mas não afundará, porque gritando se dirigirá a Jesus suplicando: Senhor, salva-me! E imediatamente, também a este Pedro que lhe suplica dizendo: Senhor, salva-me, o Verbo lhe estenderá a mão e socorrerá a este homem, agarrando-o no preciso momento em que começava a afundar, e lançando-lhe em face sua pouca fé e o ter duvidado. Contudo, observa que não lhe disse: “Incrédulo”, mas: homem de pouca fé, e que acrescentou: Por que duvidaste?, como alguém que, apesar de ter um pouco de fé, vacila e não se comporta de modo contrário.

Momentos depois, tanto Jesus como Pedro subiram na barca e o vento se acalmou. Os que estavam na barca, percebendo de que perigos foram salvos, o adoraram dizendo: Realmente és o Filho de Deus.

Orígenes (séc. III)

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Comentário do Bem-aventurado Agostinho ao Salmo 56.

A Igreja consta de todos os fiéis, e eles são membros de Cristo. A Cabeça que está nos céus governa seu corpo; apesar de separada dele, no que toca à visão, acha-se unida pela caridade. Uma vez que o Cristo total é cabeça e corpo, ouçamos em todos os salmos as vozes da Cabeça, de tal modo que ouçamos igualmente as vozes do corpo. Pois, não quis o Senhor falar separadamente, porque não quis estar separado. Por isso, diz: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). Se está conosco, fala em nós, fala de nós, fala por nós, porque também nós falamos nele; falamos a verdade porque nele é que falamos. Pois se quisermos falar em nós e por nós mesmos, permaneceremos na mentira.

Comentário do Bem-aventurado Agostinho ao Salmo 56.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Centuplicar os dons pela esperança e fé em Deus.



Irmãos, Deus devolve ao cêntuplo aquilo que Lhe é emprestado através dos pobres. Houve uma mulher cristã casada com um pagão; eles viviam juntos no amor e na pobreza. Quando o marido tinha poupado cinqüenta moedas de prata, comentou com a esposa que deveriam emprestar o dinheiro e cobrar juros, caso contrário as economias acabariam sendo desperdiçadas, moeda por moeda, até não haver mais nada. Sua esposa respondeu: “Se queres emprestar o dinheiro, empreste-o ao Deus cristão”. “E onde está esse Deus cristão?”, perguntou. Sua esposa o levou até a igreja e disse para ele distribuir todo o dinheiro por entre os pedintes que ali estavam, dizendo: “O Deus dos cristãos irá aceitá-lo, pois todos eles Lhe pertencem”. Assim, tendo dado cada uma das cinqüenta moedas aos pobres, voltaram para casa. Depois de um tempo, ficaram sem pão em casa, e a mulher disse ao marido para ir à igreja em busca do dinheiro que ele tinha emprestado a Deus. 

O marido foi então a caminho da igreja, mas viu somente pedintes por lá e, duvidoso sobre quem lhe daria o dinheiro, caminhou ao redor do edifício da igreja. De repente, viu uma moeda de prata bem na sua frente. Ele pegou a moeda e com ela comprou peixe e levou para casa, onde reclamou com a mulher que não tinha visto ninguém, e que ninguém o tinha dado coisa alguma, mas que por sorte ele havia se deparado com uma moeda de prata. Sua esposa respondeu: “Deus é invisível, e trabalha de modo inexplicável”. Ao abrir o peixe achou uma pedra brilhante lá dentro. Ela a deu ao seu marido para que ele a levasse ao mercado e visse quando poderia obter com ela. O comerciante lhe ofereceu cinco moedas de prata, e ele começou a rir, pensando que o comerciante estivesse brincando ao oferecer um valor tão alto. Entretanto, o comerciante pensou que o homem estivesse rindo por sua oferta ser tão insignificante, e lhe ofereceu primeiro dez, depois quinze, trinta e finalmente cinqüenta moedas de ouro. 

O homem então se deu conta de que era uma pedra preciosa, e começou a negociar. O comerciante foi subindo o preço até chegar ao valor de trezentas moedas de prata. O homem aceitou a oferta das trezentas moedas e voltou para casa, tomado de alegria. “Vês quão bom é o Deus dos cristãos?”, perguntou a esposa o marido, que maravilhado, foi batizado imediatamente, e passou a levar uma vida agradável a Deus ao lado de sua esposa.

fonte: Prólogo de Ohrid.

terça-feira, 17 de julho de 2018

São filhos de Deus, sendo herdeiros da ressurreição


No último dia, a morte será vencida. A ressurreição de Cristo, após o suplício da cruz, contém misteriosamente a ressurreição de todo o Corpo de Cristo. Tal como o corpo visível de Cristo é crucificado, amortalhado e depois ressuscitado, assim o Corpo inteiro dos santos de Cristo é com ele crucificado e já não vive em si mesmo. Mas quando chegar a hora da ressurreição do verdadeiro Corpo de Cristo, do seu Corpo total, então os membros de Cristo, hoje semelhantes a ossos secos, juntar-se-ão, articulação com articulação (Ez 37, 1s), cada um encontrando o seu lugar e «todos juntos constituirão um homem perfeito à medida da plenitude do corpo de Cristo» (Ef 4,13). Então a multidão de membros será um corpo, pois todos pertencem ao mesmo corpo (Rm 12, 4).

Orígenes

segunda-feira, 16 de julho de 2018

O Ensino Ortodoxo Sobre os Anjos.

Anjos, Abençoados Mensageiros de Deus


Pelo Bispo Alexandre (Mileant)
Traduzido por Suzanna e Tatiana Boyko


Dois mundos: o Físico e o Espiritual

Nosso mundo estaria totalmente empobrecido em conteúdo se fosse constituido unicamente daquilo que podemos sentir e apalpar. Em um mundo assim concebido, sem passado e sem futuro, onde a morte vai ceifando todo empreendimento criativo, todo empenho para o bem e para a felicidade, a vida em si seria uma trágica contradição.

Entretanto, ao invés de se basear simplesmente nos sentidos do nosso corpo e ao fazer uso da razão e da espiritualidade, o homem pode alcançar muito mais percepção da profundidade e mistério que existem no mundo. Assim, ele poderá perceber que além do mundo físico ele está circundado por um imenso mundo espiritual. 

No final do século XIX e no início do século XX uma atitude materialista ridicularizou qualquer possibilidade de forma de vida diferente daquela que existe no nosso mundo. Entretanto, graças ao rápido progresso da ciência durante os últimos cinquenta anos, o homem moderno alargou consideravelmente o seu campo de entendimento. Agora é bem sabido que o universo que habitamos, apesar de vasto, ele não é infinito. A real representação do mundo tem sido imensamente espiritualizada. Os cientistas vieram a entender que a matéria não é dura, indivisível e imutável substância, mas uma das manifestações da energia. A energia pode tomar outras formas totalmente diferentes dos conhecidos átomos e moléculas.

Portanto, fora dos limites do mundo visível poderão existir outros mundos totalmente diferentes do nosso. Estas descobertas juntamente com os vôos espaciais, deram origem a uma grande e nova tendencia na literatura contemporânea e também na indústria cinematográfica que aborda encontros com seres de outras galáxias e outros mundos. Este interêsse com relação ao alienígena e do incomum, infelizmente costuma intervir com fantasias que não são saudáveis e que possuem um caráter semi-demoníaco. De qualquer forma está evidente a procura do homem moderno em direção ao alargamento dos conceitos sobre o mundo.

Ao invés das extravagâncias, das fantasias dos teósofos e espiritualistas, a fé cristã oferece ao homem contemporâneo uma doutrina precisa e saudável com relação ao mundo espiritual. A fé cristã nos ensina que, além do mundo físico existe um enorme mundo angelical. Os anjos, assim como os seres humanos, possuem intelecto, o livre arbítrio e sentimentos similares aos nossos, porém, eles são espíritos desprovidos de corpo. Na verdade o nosso mundo visível é tão somente uma gota no oceano da criação Divina.

A Natureza dos Anjos: Sua Hierarquia e Seus Serviços

Segundo as Sagradas Escrituras, os anjos, os seres humanos e toda a natureza foram criados por Deus. Nas palavras, "No princípio Deus criou o céu e a terra" (Gen.1:1), nós temos a primeira indicação de que Deus criou o mundo espiritual. Aqui, em contraste com a terra, o mundo da substância, este mundo dos espíritos é chamado Céu. Os anjos já estavam presentes durante a criação dos céus estrelados, o que está evidenciado nas palavras de Deus para Jó: 
"Quando as estrelas foram criadas, todos os Meus anjos entoaram cânticos de glorificação para Mim"(Jó 38:7).
Referindo-se à criação dos anjos, São Gregório o Teólogo expressa os pensamentos que seguem:
"Considerando que para a benevolência de Deus não era suficiente estar ocupado apenas com a contemplação de Si mesmo, era necessário que o bem se alastrasse cada vez mais, de forma que o número daqueles que recebessem a graça fosse o maior possível (porque esta é a característica da mais alta benevolência) - portanto, Deus planejou primeiramente o exército celeste dos anjos; e o pensamento se tornou dever, que foi completado pelo Verbo e tornado perfeito pelo Espírito... E como as primeiras criaturas agradaram-No, Ele planejou um outro mundo, material e visível, uma composição ordenada do céu e da terra e o que está entre eles."
Anjo no idioma grego significa "mensageiro".Este termo denota principalmente a sua relação para com o homem. Os anjos, como fossem nossos irmãos mais velhos, revelam a nós a vontade de Deus e assistem-nos para alcançarmos a salvação. O homem, desde o tempo do paraíso tinha conhecimento da existência dos anjos. Este fato está refletido nas muitas religiões antigas.

É difícil entendermos a vida dos anjos e o mundo onde vivem porque eles são muito diferentes de nós. É sabido que os anjos servem a Deus, levam a Sua mensagem e O glorificam. Como pertencem a um mundo espiritual normalmente são invisíveis para nós.
"Quando os anjos, através da vontade de Deus, aparecem aos justos, estes não os vêem na sua forma original mas transformados, tornados visíveis" - explica São João Damaceno. 
No conhecido livro de Tobias (Antigo Testamento), o anjo que acompanhou Tobias e o seu filho fala de si mesmo: 
"Vós me observáveis, eu não comia em realidade, mas em visão é que me julgáveis comer" (Tobias 12:19).
Segundo João Damaceno, 
"os anjos são chamados espirituais e não-corporeos quando comparados a nós. Na comparação com Deus tudo se torna grosseiro e material. Porque somente a Divindade é verdadeiramente não-material e não-corpórea.."
Anjos são superiores aos homens na força espiritual. Entretanto, mesmo estes, sendo seres criados, carregam em si a marca das limitações. Desprovidos de corpo, são menos dependentes que os homens no tempo e no espaço. Entretanto, somente Deus é onipotente e onisciente. As Sagradas Escrituras representam os anjos, ora descendo do céu para a terra ora ascendendo de volta para o céu. Anjos foram criados imortais, como testemunham as Escrituras, ensinando que os anjos não morrem: 
"E já não podem morrer outra vez, porque são iguais aos anjos e filhos de Deus, sendo participantes da Ressurreição" (Lucas 20:36). 
Mesmo assim, a sua imortalidade não é própria de sua natureza nem é incondicional, mas tal qual a imortalidade das nossas almas, depende inteiramente da vontade e da misericordia de Deus.

Como são desprovidos de corpo, os anjos são capazes de um autodesenvolvimento interior até um altíssimo nível. O seu intelecto é superior ao do homem. Pela sua força e poder, como explica o apóstolo Pedro, eles superam todas as autoridade terrenas e governos (2 Pedro 2:11). Não obstante os seus altos atributos eles tem seus limites. As Escrituras mostram que os anjos desconhecem a profundidade da essencia Divina, que é somente do conhecimento do Espírito de Deus (1 Corintios 2:11). Eles desconhecem o futuro, que é tão somente do conhecimento Divino (Marcos 13:32). Da mesma forma, eles não tem compreensão plena dos mistérios da redenção onde almejam penetrar (1 Pedro 1:12). Nem mesmo tem conhecimento dos pensamentos do homem (1 Reis 8:39). Finalmente, por eles mesmos eles não tem poder de fazer milagres sem a vontade de Deus.

Nas Sagradas Escrituras o mundo dos anjos é representado como extraordinariamente vasto. Quando o profeta Daniel viu Deus Pai, ele também viu que "milhares de milhares serviam-No e dez mil vezes dez mil se postaram diante Dele" (Daniel 7:10). Durante o nascimento de Jesus em Belém "de repente, ajuntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus" (Lucas 2:13).

São Cirilo de Jerusalém diz o seguinte:
"Imagine como é numerosa a população romana, imagine como são numerosas as tribos bárbaras que hoje existem e quantos deles morreram durante cem anos, imagine quantos foram enterrados durante mil anos, imagine todo o povo começando por Adão até o presente dia, existe uma grande multidão. Mesmo assim é ainda pequena quando comparada aos anjos, que são muitos mais! Eles são noventa as noventa e nove ovelhas da parábola enquanto que a humanidade é apenas uma ovelha. A terra inteira habitada por nós é como um ponto no céu e mesmo assim contem uma imensa multidão; que numerosa multidão existe no céu... Está escrito que milhares de milhares serviram-No, e dez mil vezes dez mil se postaram diante Dele, isto porque o profeta não soube expressar um número maior."
Considerando tamanha multidão de anjos, é evidente que supomos, como acontece no mundo material, há vários graus de perfeição e portanto, vários estágios de hierarquia das forças celestes. Assim, a palavra de Deus chama uns de Anjos e outros de Arcanjos (1 Tess. 4:16; Jud. verso 9).

A Igreja Ortodoxa, guiada pela orientação dos antigos escritores e Pais da Igreja, divide o mundo dos anjos em nove níveis de anjos e estes nove em tres hierarquias, cada uma delas tendo tres níveis. A hierarquia mais alta consiste daqueles que estão mais próximos a Deus que são, os Tronos, Querubins e Serafins. Na segunda hierarquia estão as Dominações, Poderes e Autoridades. Na terceira, que está mais próxima a nós, estão os Principados (Soberanias), Arcanjos e Anjos. Assim, a existência dos Anjos e Arcanjos é testemunhada por quase todas as páginas das Sagradas Escrituras. Os livros dos profetas fazem menção aos Querubins e Serafins. Os outros níveis são mencionados pelo Apóstolo Paulo na sua epístola aos Efésios, dizendo que Cristo nos céus está "acima de todo Principado, Poder, Virtude, Dominação e acima de todas e qualquer outra dignidade que possa existir neste mundo ou no mundo que há de vir" (Efésios 1:21).

Além dos níveis angelicais, São Paulo nas epístolas aos Colossenses nos ensina que o Filho de Deus criou tudo, o visível e o invisível, "Tronos, Autoridades, Soberanias, Poderes" (Col. 1:16). Consequentemente quando juntamos os Tronos aos outros quatro sobre os quais o Apóstolo fala aos Efésios, (Soberanias, Autoridades, Poderes e Dominação) completam-se cinco níveis; e a estes adicionamos "Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins", aí temos nove níveis.

Além do mais, alguns Pais da Igreja são de opinião que dividindo-se os anjos em nove categorias, isto concerne apenas aqueles nomes que nos são revelados pela palavra de Deus e não englobam outros nomes de categorias que ainda não foram reveladas. Por exemplo o apóstolo João, o Teólogo menciona no livro da Revelação criaturas misteriosas e os sete espíritos junto ao trono de Deus:
"A vós, graça e paz da parte daquele que é, que era e que vem, da parte dos Sete Espíritos que estão diante do seu Trono" (Apocalipse 1:4).
O Apóstolo Paulo na sua epístola aos Efésios escreve que Cristo habita no céu muito além dos anjos enumerados e "todo nome que é chamado, não tão somente neste tempo mas também no tempo que virá." Assim ele insinua que no Céu existem outras criaturas espirituais cujos nomes ainda não foram revelados à humanidade.

Nas Sagradas Escrituras alguns anjos são chamados pelos seus nomes próprios. Por exemplo o profeta Daniel, o apóstolo Judas e livro da Revelação mencionam o Arcanjo Miguel (Josué 5:13, Daniel 10:13 e 12:1) Judas verso 9, Revelação 12:7-8). O nome Miguel em hebraico significa "Aquele que é como Deus". Nas Sagradas Escrituras ele é mencionado com o exército de Deus e é descrito como o principal lutador contra o diabo e seus servos. Costuma-se representá-lo segurando uma espada flamejante. O nome Gabriel significa "Força de Deus". Tanto o profeta Daniel como o evangelista Lucas mencionam Gabriel (Daniel 8:16, 9:21; Lucas 1:19-26). Nas Sagradas Escrituras ele é representado como mensageiro dos mistérios de Deus. Nos ícones ele é pintado com um lírio na mão. As Sagradas Escrituras mencionam pelo nome mais três anjos: Rafael - "Socorro de Deus", Uriel - "Fogo de Deus" e Salatiel - "Aquele que Ora a Deus" (Tobias 3:16 e 12:12-15; 3 Esdras 4:1 e 5:20; Esdras 5:16).

A quê são designados os seres do mundo espiritual? Certamente eles são designados por Deus a refletir o mais perfeito reflexo de Sua magnitude e glória com a inseparável participação na Sua Graça. Se, sobre o céu visível é dito, "os céus proclamam a glória de Deus" tanto mais é o objetivo do mundo espiritual. O profeta Isaías teve a graça de vislumbrar "o Senhor sobre um elevado Trono, Seu manto enchia o santuário; serafins mantinham-se sobre ele, tendo cada um seis asas; duas para cobrir a Face, duas para cobrir os pés; e duas para voar. E clamavam uns aos outros, dizendo: 'Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos'. Sua Glória enche toda a terra."Isaias 6:1-4; Ezequiel cap. 10).





Anjos Decadentes






Deus criou todos os anjos como seres celestes benevolentes. Entretanto, como os humanos, foram seres dotados de livre arbítrio, poderiam fazer a escolha entre obedecer ou se opor a Deus, optar pelo bem ou pelo mau. Alguns deles, liderados por Lúcifer, um dos mais próximos de Deus, usou de sua liberdade e se rebelou contra Deus. Eles foram expulsos do céu e estabeleceram o seu próprio reino - o inferno. Lúcifer, que significa portador da luz foi renomeado para Satã, que significa antagônico. Ele também é chamado diabo (que significa caluniador), a serpente, e o dragão. As palavras do Salvador, "Eu vi Satã, descaído do céu como um dardo de relâmpago," se referem ao fato pré-histórico, a rebelião de Lúcifer e os outros anjos contra Deus. Isto é descrito no livro da Revelação com os seguintes detalhes:
"Houve uma batalha no céu: Miguel e seus anjos guerrearam contra o dragão. O Dragão e seus anjos combateram, mas não conseguiram vencer. Nem se encontrou mais o seu lugar no céu. O Grande Dragão, antiga serpente, chamado Diabo e Satanás, o sedutor do mundo inteiro, foi derrubado e seus anjos foram atirados com ele na terra" (Apocalipse 12:4).
Das palavras iniciais do capitulo 12 do livro da Revelação, onde é dito que o dragão seduziu um terço das estrelas no céu, alguns concluem que neste tempo Lúcifer seduziu um terço dos anjos existentes. Estes anjos descaídos são chamados demônios.

Tornando-se malévolos, os anjos decadentes tentam seduzir os homens ao caminho do pecado e assim levá-los à perdição. É estranho notar que os anjos decadentes temem o reino por eles criado, o inferno ou o abismo. De fato, quando Jesus Cristo Salvador curou o homem possesso pelos demônios e quis mandá-los de volta ao inferno eles imploraram para entrar no rebanho de porcos (Lucas 8:31). O Salvador chama o demônio de "assassino desde o início e o pai das mentiras" tendo-se em mente aquele momento no qual tomando a forma de serpente ele enganou os nossos antecessores Adão e Eva para que quebrassem o mandamento de Deus e com isto privando-os da vida eterna (Gênesis 3:1-6; João 8:44). 

A partir deste momento - ganhando poder para influenciar pensamentos, sentimentos e atos dos homens - o diabo e seus demônios almejam mover os homens cada vez mais fundo em direção ao atoleiro do pecado no qual eles mesmos se afogaram:
"Aquele que peca vem do diabo, porque o diabo ele mesmo pecou primeiro.... "Todo aquele que comete um pecado é um escravo do pecado" (1 João 3:8; João 8:34).
A presença do dos maus espíritos entre nós apresenta um constante perigo. Por isso que o Apóstolo Pedro conclama-nos:
"Sejam sóbrios e alertas, porque o vosso inimigo, como um leão que ruge, está à procura de alguém para devorar" (1 Pedro 5:8).
Similarmente o Apóstolo Paulo se expressa: 
"Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir as ciladas do Diabo, pois, não temos que lutar contra a carne e o sangue mas contra os principados, as potestades, os dominadores deste mundo e os espíritos malignos dos ares" (Efésios 6:11-12).
A partir destas advertências que estão nas Sagradas Escrituras, estamos sempre cientes de que a nossa vida representa uma persistente batalha para a salvação de nossa alma. Queira ou não, todo o ser humano desde a mais tenra infância está sujeito a optar entre o bem e o mau, entre a vontade de Deus e do demônio. A batalha entre o bem e o mau se iniciou mesmo antes da criação do mundo e assim continuará até o dia do Juízo Final. Na verdade a batalha no céu já terminou, com a completa derrota do mau. Mas o campo de batalha se transferiu para o nosso mundo, mais precisamente em nossas mentes e corações. Como veremos adiante, os anjos bons, especificamente o nosso Anjo da guarda, nos socorrem ativamente na nossa batalha contra o mau.


Campo de Ação dos Anjos em Relação ao Homem


Em contraste com os espíritos maléficos, os anjos bons sentem compaixão por nós e com frequência nos protegem e nos ajudam. Quanto a isso o Apóstolo Paulo escreve:
"Não são eles por acaso os espíritos enviados a serviço, por causa daqueles que herdarão a salvação?" (Hebreus 1:14).

As Sagradas Escrituras tem fartas narrativas com relação à ajuda dos anjos. Daremos apenas alguns exemplos:
Abraão enviou seu servo a Nahor, convencendo-o que o Senhor enviaria com ele Seu Anjo e iria possibilitar uma favorável jornada.
  
Dois anjos salvaram Ló e sua família na fuga da cidade de Sodoma destinada a ser destruída. 
O patriarca Jacó, retornando para o seu irmão Isaú, foi encorajado por uma visão onde aparecia uma multidão de anjos. Pouco antes de sua morte, enquanto abençoava seus netos Jacó disse a José: "Um anjo que me redimiu de todo o mal abençoará estas crianças." 

Um anjo contribuiu para a saida dos hebreus para fora do Egito. Um anjo ajudou Josué durante a conquista da Terra Prometida. Um anjo ajudou os juizes hebreus a repelir os inimigos. Um anjo salvou os habitantes de Jerusalém da morte certa quando a armada assíria de 185.000 homens cercou a cidade. Um anjo salvou três adolescentes quando estes foram jogados dentro de uma fornalha incandescente e mais tarde salvou o Profeta Daniel quando este foi jogado aos leões (Gen. 32:1-2 e 48:16; Êxodo 14:19 a 23:20; Josué 5:13-14; Juízes 2:1 e 13:3; Isaías 37:37; Daniel 3:49, 6:22).

Aparições de anjos ao homem são constantemente revelados no Novo Testamento:
Um anjo anunciou a Zacarias a concepção de São João Batista. Um anjo anunciou à Puríssima Virgem Maria a concepção do Salvador e apareceu em sonho a José. Uma multidão de anjos louvou e glorificou o nascimento de Cristo e um anjo anunciou a boa nova do nascimento de Cristo aos pastores e evitou o retorno dos mensageiros de Herodes. 

Com a vinda do Filho de Deus as aparições de anjos se tornaram mais frequentes, um fato que o Nosso Senhor profetizou aos Apóstolos, dizendo que dali em diante o céu se abriria e que eles, os apóstolos, iriam ver "os anjos ascendendo e descendendo para o Filho do Homem." 

Certamente os anjos serviram Jesus Cristo durante as tentações no deserto e um anjo veio fortalece-Lo no Jardim de Getsêmane. 

Anjos anunciaram às piedosas mulheres de Sua Ressurreição e aos apóstolos, por ocasião da Ascenção de Cristo da Sua vinda à terra pela segunda vez. 

Um anjo libertou os apóstolos de prisão, bem como o apóstolo Pedro que tinha sido condenado à morte. 

Um anjo apareceu a Cornélio e instruiu-o chamar o apóstolo Pedro para que ele, Pedro, instruísse Cornélio na palavra de Deus (João 1:51; Atos 5:19, 12:7-15 e 10:37).

Nosso Senhor Jesus Cristo por diversas vezes fez menção aos anjos:
Segundo Suas palavras os anjos conduziram a alma de Lázaro o mendigo ao seio de Abraão. (Lucas 16:22).
O arrependimento de um pecador já é motivo de júbilo para os anjos. (Lucas 15:10).
Eles virão com Ele antes do final dos tempos e irão separar os justos dos pecadores (Mateus 13:39-41, 16:27).
Ao observar as recomendações de Nosso Senhor Jesus Cristo e através de muitos exemplos bíblicos e do nosso dia a dia percebemos que os anjos agem sempre com bondade no atendimento do bem e da salvação dos homens. (Lucas 16:22 e 15:10 - Mateus 13:39-41, 16:27 e 25:3-31).

Ao mesmo tempo, os anjos estão totalmente devotados a Deus. Quando o homem transgride as leis de Deus um anjo o detém e até o castiga.
Por exemplo, por ocasião da expulsão dos pecadores do paraíso, o Querubim ficou de guarda na porta do Paraiso empunhando uma espada de fogo.
Um anjo com uma espada se postou diante do profeta Balaão para detê-lo de sua má intenção.
Um anjo golpeou Herodes na Cesaréia por causa de seu orgulho. (Atos 12:23).
O Livro das Revelações nos fala dos anjos que castigaram os pecadores (Apocalipse 8-19). É importante observar que o castigo aqui tem um propósito de benevolência: para que os pecadores se conscientizem do seu pecado e se arrependam e para direcioná-los a se voltarem a Deus (Gênesis cap.3, nr. 22:23, Atos 12:23, Revel. cap 8-19 e 16:11).

Na verdade os anjos, pela vontade de Deus, participam na vida de todas as nações de uma maneira muito mais intensa do que supomos. Através da visão do profeta Daniel, é sabido que existem anjos a quem Deus confiou o destino de povos e nações da terra (Daniel 10-12). Sobre isto os santos Pais da Igreja expressaram os seguintes pensamentos: 
"Alguns deles (anjos) se postam diante do Grandioso Deus, outros, através de seu empenho sustentam o mundo inteiro" (São Grégório o Teólogo - "Hinos Místicos," Homilia 6).
Desde os tempos antigos tem sido costume da Igreja se dirigir aos anjos através de orações. Mesmo no Antigo Testamento, os hebreus tinham no topo da Tábua dos Dez Mandamentos e mais tarde no Santo dos Santos, imagens de Querubins. Os hebreus costumavam rezar diante deles. Foi entre estes dois Querubins que Deus falou a Moisés. Os anjos se manifestam como portadores da santidade de Deus; por isto foi ordenado a Josué quando apareceu um anjo: 
"Tire as suas sandálias dos pés porque o lugar que estais pisando é santo" (Êxodo 25:18-22; 1 Reis 6:23; Josué 5:15).


O Anjo da Guarda

Mateus 18:10
"Um Anjo da paz, fiel guia e guardião de nossas almas e corpos..." assim rezamos durante as liturgias. A Igreja Ortodoxa acredita que toda a criança recebe de Deus um Anjo da Guarda. Nosso Senhor Jesus Cristo disse: 
"Estejam atentos e não desprezem nenhum destes pequeninos; pois Eu vos digo, os seus anjos sempre vêem a face do Meu Pai no céu" (Mateus 18:10).
O abençoado Agostinho escreve: 
"Os anjos estão conosco em toda hora e todo lugar, com muita atenção e incansável empenho nos auxiliam e preveem nossas necessidades e se portam como mediadores entre nós e Deus e elevando a Ele nossos gemidos e suspiros... acompanhando-nos nas nossas viagens eles vão e voltam conosco atentos e observadores do nosso comportamento se estamos sendo honestos e honrados em meio à maldade que nos cerca e observando a nossa intenção no empenho da salvação eterna." 
Um pensamento similar é expresso por São Basílio, o Grande: 
"Todo aquele que tem fé tem um anjo, que, como um orientador para a criança direciona sua vida." 
E, para confirmar isto ele faz menção do Salmo que diz sobre Deus que: "pois a seus anjos Deus ordenará em teus caminhos todos te guardarem" (Salmo 90:11, Salmo 33:8). 
O Bispo Teófanes, o Recluso, instrui em uma de suas cartas: 
"Devemos nos lembrar que temos um Anjo da Guarda e procurá-lo em nossos pensamentos e corações. Isto é bom nos tempos pacíficos e especialmente durante as tempestades. Quando falta este contato ele não tem como influenciar-nos. Por exemplo se alguém se aproxima de uma areia movediça ou um abismo de olhos e ouvidos vedados, como poderá receber auxilio? 
Assim o cristão deverá lembrar-se de seu bom anjo, que no decurso de sua vida inteira se preocupa com ele, se alegra pelo seu aprimoramento espiritual e sofre com as suas recaídas. Quando o cristão morre seu anjo conduz sua alma a Deus. Ao se transportar ao mundo espiritual, segundo muitos relatos, a alma vem a conhecer o seu Anjo da Guarda."

Segue uma curta oração da manhã ao nosso Anjo da Guarda (extraido do Livro de orações russo):
Anjo de Deus, meu santo protetor, que me foi enviado por Deus para minha proteção, fervorosamente eu lhe imploro: me ilumine e me preserve de todo o mal, me oriente nas boas ações e me direcione no caminho da salvação. Amém.


Falsos Anjos


Dr. Steven Buchnell


O início dos anos 90 se caracterizou por uma invasão de literatura sobre os anjos. Muitos destes livros contém relatos tocantes sobre o papel dos anjos na salvação de almas no dia a dia de suas vidas. Todos estes livros recomendam uma postura de abertura e confiança para com os anjos e aceitação de sua boa influência. Muitos destes autores encorajam uma vida centrada nos anjos e a confiança de sua influência e ao mesmo tempo advertem que as vezes anjos tem um comportamento diferente e tomam aparência não-angelical.

Neste ponto quase todos estes autores se calam quanto a um aspecto muito importante deste tema ou seja, que o diabo e sua legião de demônios, anjos decadentes, que estão aptos a mascarar-se em anjos luminosos para destruir as almas. Desde as cartas de São Paulo (2 Cor. 11:14) até os tempos modernos, os documentos da Igreja descrevem como estes anjos decadentes se mascaram não somente em anjos luminosos mas também em santos, Nossa Senhora Virgem Maria e Cristo.

Por exemplo, no seu discurso sobre a importância em discriminar anjos, São João Cassiano conta como um monge causou sua própria morte e como, em outra ocasião, outro monge estava preparado para matar seu próprio filho. Em ambos os casos demônios disfarçados em anjos eram a causa de tudo (Filokalia vol I). 

Em outra ocasião e em outro lugar, nas cavernas de Kiev, é registrado que um jovem monge de nome Nicetas, reverenciou um anjo que tinha lhe dito não gastar tempo em orações, o que seria feito por ele, isto é, pelo próprio anjo, e que seria mais prioritário para Nicetas investir em leitura. Enquanto que o pseudo anjo rezava, Nicetas se tornou vidente. Em pouco tempo ele passou a não querer mais ouvir sobre o Evangelho, ao invés disso preferindo se aprofundar no Antigo Testamento. Finalmente os colegas monges perceberam que ele estava possesso pelo demônio, conseguiram recuperá-lo através de oração. Nicetas se arrependeu, e, pela graça de Deus, mais tarde veio a ser ordenado bispo da cidade de Novgorod, um pastor para seu rebanho e autor de milagres. Conhecemo-lo como São Nicetas, o Recluso.
"Tomai cuidado com os falsos profetas. São os que chegam perto de vós sob a aparência de ovelhas mas por dentro, de fato, são lobos vorazes" (Mateus 7:15-16). "Pelo contrário, eis o fruto do espírito; caridade, alegria, paz, paciência, gentileza, bondade, fidelidade, doçura, autodominio, contra tais coisas não existe lei" (Gal.5:22-24).
Para colocar em prática estas palavras de Cristo e São Pedro, torna-se muito difícil para nós identificar anjos verdadeiros dos demônios disfarçados, em vista da nossa fragilidade humana, que é o nosso estado de pecado, a nossa auto-ilusão à qual nos permitimos conscientemente; e por outro lado, os milhares de anos de experiência do inimigo do homem e de Deus. Através do exemplo destes monges, que eram pessoas que dedicaram por inteiro suas vidas a Deus, vemos que nem estes estão isentos de serem enganados pelo demônio. 

Os Santos Pais da Igreja, sábios pela graça do Espírito Santo, com muito amor nos procuram convencer de que o melhor caminho é rezar e procurar a humildade e a orientação de um pai espiritual. Eles são enfáticos em nos alertar a sermos cautelosos e questionar com rigor e procurar um pai espiritual experiente, quando acontecem estas visões. Quando temos dúvida, mesmo pequena, sobre a procedência, é preferível dizer, "eu não sei se é verdadeiro," e colocar o assunto de lado ou simplesmente rejeitá-lo e não procurar visões ou sensações de beatitude, mas rezar e pedir proteção a Deus. Se a visão for verdadeira, procedente de Deus, Deus nos ajudará e os anjos se alegrarão com a nossa humildade e sobriedade. (Veja a Filokalia, vol I, III e IV da edição inglesa para alguns assunto pertinentes). Resumindo, o que os Santos Pais da Igreja nos falam é muito diferente do que falam os autores dos livros populares de hoje.

O demônio mente, calunia, e provoca confusão; e para atingir seu objetivo ele irá mentir para nós, não somente através de palavras, mas, de disfarces de qualquer tipo. Qualquer fenômeno sobrenatural que é motivo de confusão e distração (os chamados sequestros por alienígenas como um exemplo atual) poderá ser um tipo destes disfarces.

Transferência das Relíquias do Hieromártir São Filipe, Metropolita de Moscou 03 de julho -- Calendário Juliano .



Depois do martírio de São Filipe [comemorado em 9 de janeiro], seu corpo foi sepultado no mosteiro Otrocha, em Tver. Os monges do mosteiro Solovki, do qual ele havia sido Hegúmeno, em 1591, requisitaram permissão para transferirem as relíquias para sua comunidade. 

O corpo incorrupto foi colocado em um túmulo preparado pelo próprio Hierarca quando vivo, e que se localizava debaixo do pórtico de um templo dos Santos Zósima e Sabbatio de Solovki, próximo à sepultura do Ancião Jonas [Shamin], seu amado guia nos esforços ascéticos. 

Em 31 de maio as Santas Relíquias foram transferidas para um novo relicário e estabelecidas na Catedral da Transfiguração. Três anos depois, o Nikon, Metropolita de Novgorod, propôs que as relíquias de três hieromártires [o Santo Metropolita Filipe e os Santos Patriarcas Jó e Hermógenes] fossem transferidas para Moscou. 

Na mão do santo foi colocado um documento de arrependimento pelo Tsar Aleksei Mikhailovic, em que pedia perdão pelos pecados e transgressões de seu bisavô ''Ivã, o Terrível''. Em 3 de julho as Santas Relíquias chegaram a Moscou e foram colocadas na Catedral da Dormição na porta sul do altar. 

Uma cruz foi levantada no lugar em que as Relíquias de São Filipe foram vistas pelo clero e pelo povo em Moscou, na estação de trem de Rizhks.

domingo, 15 de julho de 2018

Meditação Para a Morte



“Lembra-Te de Mim, Senhor, e Perdoa a Este Réu”

«Cristo Rei, reparador de nossa salvação: dai-me, concede-me a graça de que à Tua vinda eu saia vivo do sepulcro, e que quando Tua Majestade se manifestar, me coloques à Tua destra.

Adoramos, Senhor, Tua cruz, na qual está depositada toda a nossa esperança de salvar-nos, porque será ela que dará aos nossos corpos a imortalidade e a claridade. Meus olhos esperam a Tua redenção, e meus ouvidos também esperam a palavra de Teu juízo Salvador. Não me deixes abandonado no sepulcro, porque Tu És a esperança dos mortos enterrados. A Adão sepultado lhe ressuscitará a voz do Filho de Deus e, como em outro tempo aos hebreus, o levará, não para a terra da promissão, mas conduzido ao céu, lhe revestirá de glória imortal.

Mas, enquanto não nos é concedido subir até ali, não cessam de ressoar em nossos ouvidos, como trovões, as vozes dos santos. Teus apóstolos gritam aos pecadores chamando-os à penitência, admoestando-lhes que trabalhem na consecução da verdadeira glória, pois a vida deste mundo é uma fábula.

Nossa ressurreição futura nos é anunciada pelos Profetas; pelos Apóstolos, o prêmio para a virtude, e o Evangelho do Senhor nos mostra o caminho pelo qual se vai ao reino. Que o mundo inteiro, os homens todos, caindo de joelhos, Te adorem, Senhor, e que toda a terra louve o Teu nome, Tu que És restaurador daqueles que jazem mortos e esperança derradeira de todos os mortais...

Não permitas, Senhor, que nossas culpas nos arrastem à perdição, pois És Tu mesmo Quem perdoa os pecados; não deixes órfãos a estes Teus pequeninos, nem aos anciãos os prives de toda proteção, nem os exponhas à ignomínia e à miséria. Por aquele Teu amor, Senhor, com que nos amaste, não nos abandones, e dai-nos o Teu auxílio para servir-Te todos os dias fervorosamente.

Meus dias voaram como um sonho, correram e se evaporaram meus anos; o peso dos meus delitos está mostrando o tremendo juízo da justiça divina e assusta-me tremendamente. Por isso, com grande amargura de minha alma, clamo com o profeta: 'Não entres em juízo com o Teu servo, pois diante de Ti não existe ninguém justo.'

Envergonha-Te de deixar-me desfeito no sepulcro, porque Tu És Deus de misericórdia; restituí-me a forma perdida de meu corpo, impelido pela compaixão, a fim de que, adquirindo nova beleza quando venhas, mereça entrar em Teu reino.

'Quando cresceram os meus pecados' – disse Adão – 'então se alterou a ordem de todas as coisas que me eram próprias. Os pecados me arrebataram a vida. Quem me libertará de tantas calamidades que me afligem? O grande mal que me tirou a vida foi o ter pecado no paraíso e desobedecido a Deus.'

Todos nós, os Teus filhos, entramos irremissivelmente pelo caminho que ele nos abriu pecando e, como ele, nos separamos da santidade de Deus. Senhor! Por isso todos temos que voltar prontamente para aquela mesma terra da qual fomos criados, terra sujeita a todas as calamidades.

Porém, lembra-Te de mim, Senhor, e perdoa a este réu. Sou obra de Tuas mãos: Tu me modelaste. Lembra-Te de Teu primeiro amor, que És misericordioso e mansíssimo. Chegará o dia em que chamarás os mortos à vida; peço-Te que então não me separes de Tua companhia. Ajude-me o Teu poder, que antes me deu o ser: Vede que sou joguete do diabo; peço-Te que reprimas sua sanha. Chamastes-nos aos Teus templos; não permitas que caiamos em poder de nosso inimigo carniceiro. Comido pela inveja, ele nos arrebatou aquela luz que lhe ofuscava, e despidos nos precipitou às trevas do inferno, de onde não se volta.

A morte maldita preside e está sentada às portas para impedir a saída, e até a própria esperança de sair dali, se alguma restar de fugir-se. Envia, Senhor, do céu ao Teu Amado, que rompa os ferrolhos do obscuro calabouço; visto que venceu ao nosso adversário, repara a desgraça que nos aflige.»

Santo Efrém, o Sírio, Diácono e Monge (séc. IV)

ENSINAMENTOS DE SANTO ANTÃO, O GRANDE.



A maior obra dos homens é esta: ser capaz de manter seus pecados diante de Deus e estar preparado para a tentação até o último suspiro.

"Quem não tiver sido tentado não poderá entrar no reino do céu. Se suprimires a tentação, ninguém se salvará". 

"Aquele que se senta em solicitude e quietude, escapou de três batalhas: ouvindo, falando e vendo. Mas mesmo assim ele tem uma constante guerra no seu próprio coração”. 

“O demônio teme a humildade, o bom trabalho e o jejum. Ele não consegue impedir a minha boca de falar contra ele. A ilusão do demônio logo desvanece, especialmente, se o homem se arma com o Sinal da Cruz. O demônio treme ao Sinal da Cruz do Nosso Senhor, porque Ele triunfou sobre ele e o desarmou”.

Segundo o Santo Antão, as tentações são manifestamente uma condição indispensável para se entrar no céu. É através das tentações que o homem obtém um faro do Deus verdadeiro. Sem tentação o homem estaria no perigo de apoderar-se de Deus e torna-Lo inofensivo e inócuo. Pela tentação, porém, o homem experimenta existencialmente a sua distância de Deus, sente a diferença entre o homem e Deus. O homem permanece em luta constante, enquanto Deus repousa em si mesmo. Deus é amor absoluto, enquanto o homem é continuamente tentado pelo maligno.

Se ouvirdes atentamente a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis minha propriedade especial entre todos os povos, porque minha é a terra, e vós constituireis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. Ex. 19,5-6.

Aproximai-vos de Cristo, pedra viva, eleita e estimada por Deus, também vós, como pedras vivas.

Vinde formar um templo espiritual para um sacerdócio santo, a fim de oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo.

Sois uma estirpe eleita, sacerdócio real, gente santa, povo trazido à salvação, para tornardes conhecidos os prodígios d’Aquele que vos chamou das trevas para a luz admirável. 1Pd. 2, 4-5

Caríssimos, não descuidemos de nossa salvação. Sabei que se alguém se entrega a Deus de todo o coração, Deus tem piedade dele e lhe concede o Espírito de conversão.

Sabemos que desde as origens do mundo, os que encontraram na Lei da Aliança o caminho do seu Criador, foram acompanhados por Sua bondade, Sua graça e Seu Espírito. Mas os homens, incapazes de exercerem sua inteligência segundo o estado da criação original, inteiramente privados de razão, sujeitaram-se à criatura em vez de servir ao Criador.

Eu vos suplico, irmãos, ficai tomados da maravilhosa economia da salvação.

Todo ser dotado de inteligência espiritual, aquele para quem veio o Senhor, deve tomar consciência de sua própria natureza, isto é, deve conhecer-se a si mesmo.

Seja-vos dado tomar bem consciência da graça que Ele vos deu. Não é a primeira vez que Deus visita as Suas criaturas. Ele as conduz desde as origens do mundo e, de geração em geração, mantém cada uma desperta pelos acontecimentos de Sua graça. Não negligenciemos, pois, chamar a Deus dia e noite. Fazei violência à ternura de Deus. Do céu Ele vos enviará Aquele cujo ensinamento vos permitirá conhecer o que é bom para vós.

Filhos, é certo que nossa enfermidade e nossa humilhação são dor para os santos e causa das lágrimas e gemidos que oferecem por nós diante do Criador do Universo.

Compreendei bem o que vos digo e declaro: Se cada um de vós não chega a odiar o que é da ordem dos bens terrestres e a isso não renunciar de todo coração, assim como a todas as atividades que daí dependem, se não chega a elevar as mãos e o coração ao Céu para o Pai de todos nós, não é para si a salvação. Mas se fazeis o que acabo de dizer, Deus vos enviará um fogo invisível, que consumirá vossas impurezas e devolverá vosso espírito à sua pureza original. O Espírito Santo habitará em vós, Jesus permanecerá junto de nós e poderemos adorar a Deus como é devido.

A todos os meus irmãos muito amados, a todos vós que vos preparais para vos aproximardes do Senhor, saúdo n’Ele, irmãos caríssimos, vossa natureza espiritual.

Que Deus abra os olhos de vosso coração para que percebais os múltiplos malefícios secretos, lançados todos os dias sobre nós no decorrer do tempo. Faço votos que Deus vos dê um coração clarividente e um espírito de discernimento a fim de vos apresentardes a Ele como uma vítima pura e sem mancha.

Persuadi-vos bem que vosso ingresso e vosso progresso na obra de Deus não são obra humana, mas intervenção do poder divino que não cessa de vos assistir.

Sede, pois, vigilantes, caros filhos, não permitais que vossos olhos durmam nem que vossas pálpebras dormitem, mas clamai dia e noite a vosso Criador para que vossos pensamentos se firmem no Cristo.

No Senhor eu vos suplico, caros filhos, deixai-vos penetrar bem pelo que vos escrevo. Voltai vossa alma para vosso Criador. Perguntai a vós mesmos o que seria possível retribuir ao Senhor por todas estas graças. É tão grande a Sua bondade que Ele quis que o próprio Sol se ponha a nosso serviço nesta habitação de trevas, assim como a Lua e as estrelas, para sustentar fisicamente um ser cuja fraqueza o condenaria a perecer. Não sofreram por nós os Patriarcas? Não nos dispensaram os sacerdotes os seus ensinamentos? Não combatiam por nós os juízes e reis? Não foram mortos por nós os profetas? Não sofreram os Apóstolos perseguição por nós? E não morreu por todos nós o Filho Bem-Amado? Agora é a nossa vez de nos dispormos a ir ao nosso Criador pelo caminho da pureza.

Meus caríssimos no Senhor, a vós que sois coerdeiros dos santos, rogo que desperteis em vosso coração o temor de Deus. Preparemo-nos, pois, santamente, e purifiquemos nosso espírito para sermos puros a receber o batismo de Jesus e a nos oferecermos como vítimas agradáveis a Deus. O Espírito Consolador, recebido no Batismo, nos conduzirá a nosso estado original.

Caros irmãos, chamados a partilhar da herança dos santos, agora estais próximos de todas as virtudes. Todas elas vos pertencem se não vos embaraçais na vida carnal, mas permaneceis transparentes diante de Deus. É a pessoas capazes de me compreender que escrevo, a pessoas em condições de se conhecerem a si mesmos. Quem se conhece, tem a obrigação de adorar a Deus como convém.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

13 de Julho de 2018 (CC) / 30 de Junho (CE) Sinaxis dos Santos Apóstolos




Mesmo que cada um dos Doze Grandes Apóstolos tenham seu próprio dia especial de celebração ao longo do ano, no entanto, a Igreja reservou este dia para comemorar todos os apóstolos, incluindo, além dos doze, Paulo. Estes são os nomes e os dias separados das celebrações dos Santos Grandes Apóstolos:

São Pedro, 29 de junho e 16 de janeiro

Santo André, 30 de novembro

São Tiago, o Filho de Zebedeu, 30 de abril

São João, o Teólogo, 26 de setembro e 08 de maio

São Filipe, 14 de novembro

São Bartolomeu, 11 de junho e 25 de agosto

São Tomé, 06 de outubro

São Mateus Evangelista, 16 de novembro

São Tiago, o filho de Alfeu, 09 de outubro

São Tadeu ou Judas, irmão de Tiago, 19 de junho

São Simão, o Zelote, 10 de maio

São Matias, 09 de agosto

São Paulo, 29 de junho

Vamos mencionar também a forma como cada um desses homens mais santos e mais benéfico na história do mundo terminou sua vida terrena.Faremos agora um resumo de como estes homens, os mais santos e úteis que o mundo conheceu, terminaram suas vidas:

São Pedro foi crucificado de cabeça para baixo;

Santo André foi crucificado;

São Tiago, o filho de Zebedeu, foi decapitado;

São João, o Teólogo, morreu de uma maneira milagrosa;

São Filipe foi crucificado,

São Bartolomeu foi crucificado, esfolado e degolado;

São Tomé foi ferido com cinco lanças;

São Mateus Evangelista foi queimado vivo;

São Tiago, o filho de Alfeu, foi crucificado;

São Tadeu ou Judas, irmão de Tiago, foi crucificado,

São Simão, o Zelote, foi crucificado;

São Matias foi apedrejado e, em seguida, foi decapitado após a morte;

São Paulo foi decapitado.

Deificação, Vocabulário Teológico.

Os Padres da Igreja repetiam este adágio: "Deus Se fez homem para que o homem se torne Deus" e: "o homem é uma criatura que recebe a ordem de tornar-se Deus."

De fato o homem é chamado a viver em Deus, a participar de Sua Glória, a estar unido a Ele, e transformar-se pela graça o que Deus é por natureza. Trata -se de uma união com Deus pelas energias divinas, união mas não fusão ou confusão. Cristo tomou nossa natureza para nos fazer comungar a Vida divina e nos tornar "participantes da natureza divina" (2 Ped. 1:4), participantes das energias e não da essência de Deus.

A deificação é o processo pelo qual o homem crê em Deus de glória em glória. Os justos serão deificados no último Dia, mas o processo deve começar desde já, amando a Deus, observando Seus mandamentos. O cristão é ajudado nisto por sua vida na Igreja e pelos sacramentos.

A "deificação" não é apenas um dom livre do Espírito Santo, mas exige a cooperação do homem, é pois necessário um processo dinâmico que implica níveis de comunhão com Deus e uma religião de experiência pessoal (Jean Meyendorff, The Byzantine Legacy in the Orthodox Church, New York, SVS Press, 1982, pg. 150).

 Deificação, Vocabulário Teológico.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

12 de Julho de 2018 (CC) / 29 de Junho (CE) Santos Apóstolos Pedro e Paulo Modo 5





A importância da festa de São Pedro e São Paulo no ciclo litúrgico bizantino é indicada pelo fato de uma quaresma especial - chamada de “quaresma dos apóstolos” - prepara os fiéis para esta solenidade. Este período de jejum começa na 2ª feira que se segue ao 1º domingo após o Pentecostes e termina no dia 28 de junho/11 de julho.
“Exaltemos Pedro e Paulo, estes dois luzeiros da Igreja pois eles brilham no firmamento da fé...” 
Assim cantamos nas vésperas da festa, na noite de 28 de junho. Nas matinas como nas vésperas os hinos parecem partilhar igualmente o louvor entre os dois apóstolos, a quem nos dirigimos um a cada vez. Entretanto o evangelho lido nas matinas trata especialmente sobre o apóstolo Pedro. Aí ouvimos nosso Senhor (Jo. 21,14-25) perguntar três vezes a Pedro: “Tu me amas?”. Na primeira vez Jesus diz: “Tu me amas mais do que estes?” Três vezes Pedro responde com uma humildade às vezes triste e às vezes chorosa:“Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo”. E três vezes Jesus lhe diz para apascentar o rebanho do Bom Pastor: “Apascenta os meus cordeiros... apascenta as minhas ovelhas...” Depois Jesus prediz a Pedro de maneira velada “o gênero de morte pelo qual Pedro devia glorificar a Deus”. 

Este evangelho tem duas coisas para nos dizer. Primeiro, coloca claramente a pergunta única, pergunta que temos e que teremos que responder: “Tu me amas?” Tudo, na vida cristã, se reduz a esta pergunta. Podemos nós responder como Pedro: “Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo?” Não seriam nossas ações um lamentável desmentido desta afirmação? Entretanto responder simplesmente que não amamos o Senhor seria desconhecer e sufocar as aspirações - por mais fracas que sejam - que o Espírito Santo põe em nossos corações e dirige para Cristo. Digamos, então, a Jesus: “Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que Te amo. Não espero nada de mim; espero tudo da Graça”. 

O segundo ensinamento dado por este evangelho concerne a natureza da autoridade na Igreja. O Senhor confere aqui a Pedro uma autoridade especial. Percebemos primeiro que esta autoridade está fundamentada sobre uma primazia do amor - “tu me amas mais do estes?” - e em seguida que ela consiste em um serviço humilde e desinteressado -“apascenta minhas ovelhas...”. Entre cristãos toda preeminência que não for uma preeminência de amor e de serviço não corresponde às intenções de nosso Senhor. Toda autoridade que, na Igreja, se expressasse em termos de prestígio ou de posse material ou de domínio tornar-se-ia estranha e hostil à solicitude verdadeiramente pastoral à qual Jesus chama Pedro para participar. Sobre estas palavras do Senhor a Pedro serão julgados todos aqueles que reivindicam uma autoridade no seio da comunidade dos fiéis.

A liturgia de 29 de junho/ 12 de julho manifesta, pelos textos que nos faz ouvir, o quanto o ministério de Pedro e o de Paulo são todos dois necessários e complementares. O evangelho (Mt.16,13-19) contém a confissão de Pedro em Cesaréia de Filipos: “Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo...” e a resposta de Jesus: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei minha Igreja, e as Portas do Inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Este texto levantou muitas controvérsias. Mas permanece certo que Jesus quis reconhecer e sancionar pela concessão de um poder espiritual eminente, o ato de Fé que Pedro acabava de formular.

A epístola (2Co.11,21-12;9) enumera os títulos de Paulo, chamado diretamente ao apostolado por Cristo, foi considerado como igual ou mesmo superior em autoridade aos ministros do Evangelho já regularmente instituídos e reconhecidos: “Eles são ministros de Cristo?...Eu, mais do que eles...” Paulo fundamenta esta afirmação de um lado pelos sofrimentos que enfrentou, de outro pelas graças e revelações que lhe foram concedidas. Um estudo atento das relações dele com os Onze pode ensinar-nos muito sobre a questão da autoridade na Igreja. Paulo nunca levantou-se contra o elemento institucional representado pelo apostolado “histórico” dos Onze. Ele recebeu a imposição de mãos daqueles que já eram reconhecidos como possuindo o Espírito Santo. Ele submeteu à aprovação da Igreja reunida em Jerusalém seus próprios métodos de apostolado. Mas jamais admitiu nem que sua vocação extraordinária fosse inferior à vocação normal dos outros apóstolos, nem que seu conhecimento de Cristo, todo espiritual e recebido pela graça, fosse menor que o conhecimento que tinham de Jesus os seus primeiros discípulos; nem que ele devesse sacrificar suas próprias convicções face ao mais autorizado dos apóstolos: “quando Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe em face, porque ele estava errado”. Quanto mais a Igreja for dominada pelo Espírito Santo, mais ela ultrapassará toda tensão entre autoridade regularmente adquirida e a liberdade espiritual. Uma síntese deve estabelecer-se entre a tradição e a inspiração. Pedro e Paulo não podem ser separados; e é por isso que a Igreja os comemora no mesmo dia. Digamos com ela:
“Rejubila, ó Apóstolo Pedro, tu, o grande amigo do Mestre, Cristo nosso Deus. Rejubila bem amado Paulo, pregador da fé e doutor do universo. Por isso, intercedei junto a Cristo nosso Deus pela salvação de nossas almas”.
A Igreja quer associar todos os outros apóstolos à homenagem que ela presta a Pedro e Paulo. Assim, no dia 30 de junho, ela dedica à comemoração coletiva dos Doze. Como diz o Kondakion do dia: “... comemorando hoje a sua memória, nós glorificamos Aquele que os glorificou”.

Tropário Dos Apóstolos Modo 4
Príncipes dos divinos Apóstolos e doutores do Universo, 
intercedeis junto do Mestre Universal 
para que ao mundo Ele dê a Paz 
e que conceda às nossas almas a graça da salvação. 
Kondákion Dos Apóstolos Modo 2 
Os infalíveis pregadores da palavra de Deus,
os Corifeus dos teus Apóstolos, Senhor,
encontraram junto de ti o lugar do seu repouso,
no usufruto dos Teus bens,
pois Tu acolheste os seus sofrimentos e suas mortes
melhor que outra oferenda das primícias da terra,
Tu, O único que pode ler o coração dos homens.